(Ricardo Moraes/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 14 de maio de 2020 às 07h30.
Última atualização em 14 de maio de 2020 às 07h30.
Nos últimos trinta dias, o novo coronavírus fez 11.816 vítimas no Brasil, superando os registros mensais de óbitos de doenças historicamente letais no país, como as patologias nas artérias do coração, cerebrovasculares, como o Acidente Vascular Cerebral e aneurisma, pneumonia e influenza. O mesmo se repete para mortes por causas externas, como acidentes de trânsito e agressões.
A análise foi feita pela EXAME, com base no dados mais recentes consolidados pelo Sistema de Informação sobre Mortalidades (SIM), do DataSUS, de 2018. O parâmetro de escolha foi o mês em que as doenças mais registraram mortes. A plataforma é alimentada pelas Secretarias Municipais de Saúde, com base em informações preenchidas na Declaração de Óbito pelos médicos.
Como o SIM mais recente não inclui os dados do ano passado, a reportagem também verificou os registros de mortes das mesmas doenças desde 2014 para identificar as doenças em que não há grandes variações ao longo dos anos. Já os números dos últimos trinta dias de registro da covid-19 foram escolhidos por serem, até agora, os mais expressivos.
De acordo com o SIM, a única classe de patologias que a covid-19 não supera para o período de 30 dias é o câncer, que engloba todos os tipos e registrou, em maio de 2018, seu mês mais letal, 19 mil vítimas. Já as doenças nas artérias do coração vitimaram 10,7 mil em julho do mesmo ano. No mesmo período, as cerebrovasculares chegaram a matar 9 mil.
Nas últimas décadas, os processos de urbanização e o desenvolvimento de estrutura de saneamento transformaram as maiores causas de mortes. "Hoje, 35% são causadas por patologias cardiovasculares, 20% câncer, 15% violência e 20% outros. A covid-10 deve mudar essa estatística", diz o ex-presidente da Anvisa e professor da faculdade de Saúde Pública da USP, Gonzalo Vecina.
No gráfico a seguir, veja um comparativo do número de óbitos em decorrência das doenças mais letais para o período de um mês:
Como ainda não há uma vacina contra a covid-19, é impossível fazer previsões para o futuro. Em 2018, os vários tipos de câncer responderam por 223 mil mortes e as doenças isquêmicas do coração vitimaram 115 mil pessoas e as cerebrovasculares, 99 mil.
Segundo projeção de Vecina, sem encontrar uma vacina, o Brasil vai precisar ter 70% de sua população infectada (147 milhões de pessoas) para que o novo coronavírus pare de circular.
Ainda que com a mortalidade em níveis considerados baixos, em 6,3% dos infectados, o cenário é de que haverá 529 mil mortos em decorrência do vírus. "A dúvida é saber em quanto tempo isso vai acontecer. Se for em um ano, a doença será a mais mortal disparada. Se for em cinco anos, o cenário é diferente", explica Vecina.