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Eleições municipais expõem deficiências de Bolsonaro

Candidatos apoiados por Bolsonaro nas principais capitais do país não avançaram ou enfrentarão fortes concorrentes no segundo turno no dia 29

Bolsonaro tinha plena consciência de que conseguir aliados no maior número de municípios possível poderia turbinar suas chances de reeleição em 2022 (Adriano Machado/Reuters)

Bolsonaro tinha plena consciência de que conseguir aliados no maior número de municípios possível poderia turbinar suas chances de reeleição em 2022 (Adriano Machado/Reuters)

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Bloomberg

Publicado em 16 de novembro de 2020 às 12h45.

O presidente Jair Bolsonaro saiu mais fraco das eleições municipais de domingo, amplamente vistas como um referendo sobre a primeira metade de seu mandato.

Candidatos apoiados por Bolsonaro nas principais capitais do país não avançaram ou enfrentarão fortes concorrentes no segundo turno no dia 29. Partidos do centrão que apoiam a agenda do presidente em troca de benefícios políticos tiveram forte desempenho, o que poderá levá-los a exigir mais do governo daqui para frente e a depender menos da aliança circunstancial com Bolsonaro. Paralelamente ao enfraquecimento do presidente, partidos de esquerda que perderam força no cenário político nos últimos anos podem conquistar algumas cidades importantes no segundo turno.

“O poder de Bolsonaro não havia sido testado desde que se tornou presidente”, disse Deysi Cioccari, cientista política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. “Ele parece mais fraco após essas eleições.”

O país foi às urnas para escolher 5.570 prefeitos e mais de 57.000 vereadores nas eleições de domingo, que ocorreram sem maiores problemas ao longo do dia, apesar de uma tentativa de ataque cibernético contra os sistemas do Tribunal Superior Eleitoral, que autoridades disseram ter conseguido evitar. Houve demora além do normal para totalizar os resultados, mas na manhã desta segunda-feira a apuração estava em fase final em todo o país.

Bolsonaro apoiou dezenas de candidatos com plataformas semelhantes Brasil afora e apoiou explicitamente aliados em seis capitais. Quatro deles foram derrotados. O apoio do presidente foi complicado pelo fato de atualmente não ter partido.

Depois que os resultados foram divulgados, no entanto, Bolsonaro minimizou seus próprios esforços, tuitando que as tentativas de apoiar os candidatos se resumiram a “apenas quatro transmissões ao vivo que somaram três horas”.

Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas (PSDB) recebeu quase 33% dos votos e vai enfrentar Guilherme Boulos (PSOL), que ganhou força nos últimos dias de campanha e terminou o primeiro turno com 20%. Celso Russomanno, que colou a imagem no presidente, ficou com pouco mais de 10%.

“Vencemos Bolsonaro neste primeiro turno”, disse Boulos a jornalistas após o resultado, aludindo à derrota de Russomanno. “Se olharmos os números, 70% dos paulistanos votaram pela mudança, e é isso que eu represento.”

No Rio de Janeiro, Bolsonaro apoiou o prefeito Marcelo Crivella (REP), que ficou em segundo lugar com quase 22%. Crivella vai defender o mandato contra o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), que preparou a cidade para os Jogos Olímpicos de 2016 e recebeu 37% dos votos.

Apoio malfadado: a maioria dos candidatos apoiados por Bolsonaro são derrotados nas principais capitais

Apoio malfadado: a maioria dos candidatos apoiados por Bolsonaro são derrotados nas principais capitais (Bloomberg/Bloomberg)

Bolsonaro x prefeitos

Bolsonaro tinha plena consciência de que conseguir aliados no maior número de municípios possível poderia turbinar suas chances de reeleição em 2022. Vários prefeitos e governadores tornaram-se adversários do presidente neste ano ao irem contra a estratégia de Bolsonaro de minimizar a Covid-19 e manter a economia aberta a todo custo.

Com a falta de liderança do governo federal durante a pandemia, o Brasil se tornou epicentro global do coronavírus, com quase 6 milhões de casos e 165.000 mortes. No entanto, o programa de auxílio emergencial de US$ 57 bilhões para trabalhadores informais e desempregados reduziu a pobreza, amorteceu a crise econômica e elevou o índice de aprovação do presidente para um recorde.

Toda essa popularidade, no entanto, nem sempre foi transferida para candidatos apoiados por Bolsonaro durante as eleições municipais, nas quais os eleitores costumam se preocupar mais com questões locais.

Liderança de esquerda

Embora o pagamento do auxílio emergencial tenha ajudado Bolsonaro a se tornar mais popular em regiões mais pobres do Brasil, que por anos permaneceram como reduto eleitoral da esquerda, pesquisas de opinião mostram que a rejeição ao presidente tem aumentado nas maiores cidades do país.

O PT não conseguiu se reorganizar eleitoralmente, apesar dos esforços do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A única esperança do partido de eleger um prefeito em uma das capitais é Marília Arraes, que enfrenta outro candidato de esquerda, João Campos (PSB), em Recife no segundo turno.

“Um dos principais resultados desta eleição é a completa desordem do Partido dos Trabalhadores e o surgimento de uma nova esquerda sob a liderança de Boulos”, disse Marcio Coimbra, cientista político que comanda a consultoria Interlegis em Brasília.

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