Questionado pelos investigadores, Almada tocou em pelo menos quatro pontos que ampliam as suspeitas envolvendo Torres (EVARISTO SA/AFP/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 24 de maio de 2023 às 11h24.
Considerado peça-chave no inquérito da Polícia Federal que investiga se Anderson Torres e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) atuaram para atrapalhar a presença de eleitores de Lula nos locais de votação no segundo turno, o delegado Leandro Almada, superintendente da PF na Bahia no período eleitoral, prestou um depoimento que ajuda a preencher lacunas na apuração. Questionado pelos investigadores, Almada tocou em pelo menos quatro pontos que ampliam as suspeitas envolvendo Torres, como revela o conteúdo revelado com exclusividade pelo GLOBO.
A investigação foi aberta após a maior parte das blitzes da PRF no domingo do segundo turno ter sido registrada no Nordeste, região do país onde Lula havia registrado sua maior vantagem sobre Jair Bolsonaro. Na Bahia, o petista teve 69,7% dos votos no primeiro turno, enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro ficou com 24,3%. O resultado foi mais largo do que no panorama geral do país, em que o atual presidente teve 48,4%, e o então candidato do PL, 43,2%.
Almada contou aos investigadores que recebeu, em uma reunião com a participação de Torres e do diretor-geral da PF à época, Márcio Nunes, um pedido para reforçar o policiamento ostensivo no dia do segundo turno. Segundo o delegado, houve a “sugestão” de cidades específicas que deveriam concentrar a presença da corporação, mas ele não entregou essa lista no momento da oitiva.
“A gente foi informado, sim, que tinha algumas localidades especificamente, não sei se em função do número de eleitores ou pela cobertura da cidade, enfim. Houve sim, foi encaminhada uma sugestão de cidades para que fosse reforçado”, frisou Almada. O reforço, de acordo com ele, consistiria em mandar equipes ostensivas para essas localidades, “ir lá, ver no TRE, ou na polícia local, conseguir uma base e ficar lá aguardando as demandas”. O delegado acrescentou: “Houve uma relação de cidades. Eu não tenho, mas houve”. Almada comprometeu-se a procurar a lista e enviá-la aos responsáveis pelo inquérito.
O ex-superintendente na Bahia contou também que recebeu uma “sugestão” para que a PF atuasse em conjunto com a PRF na data do segundo turno, o que ele avaliou como “inadequado” e, por isso, acabou não executando. A orientação aconteceu na mesma reunião com a presença de Torres e Nunes.
“Nesse dia também, além do reforço, foi sugerido que a gente atuasse também em conjunto com a PRF”, contou Almada. “A gente alinhou depois dessa reunião, quando eles foram embora, que a gente não... Entendendo inadequada essa ação conjunta, a gente atuaria sozinhos, dentro do nosso planejamento da PF. E foi o que ocorreu”, afirmou.
Segundo Almada, “a tônica da reunião (com Torres e Nunes) foi em torno da questão eleitoral”. Na ocasião, ainda de acordo com o delegado, “pediram para reforçar bastante a nossa parte ostensiva no dia do segundo turno, porque eles ouviram relatos de uma compra de votos muito grande que estaria ocorrendo no estado da Bahia”. No depoimento, o então superintendente local da PF não citou possíveis provas ou indícios concretos que corroborassem as suspeitas.
O encontro com o superiores, viabilizado de última hora, ocorreu cinco dias antes do segundo turno. Essa foi a principal razão pela qual Almada foi convocado a depor. Na ocasião, o diretor-geral da PF pediu 100% dos homens trabalhando no dia da votação, e Almada respondeu que atenderia.
O relato de Almada indica que houve até compartilhamento de informações falsas na reunião com o chefe da PF e o ministro da Justiça. Segundo o delegado, os dois mencionaram na reunião que “facções criminosas em Salvador estariam nitidamente apoiando candidato do PT" e "constrangendo eleitores em seções eleitorais", com uso de armas de fogo, "a votarem em determinados candidatos”.
O ex-superintendente relatou que explicou então a seus superiores que, “em relação à questão de facções criminosas apoiando o candidato que ele citou, a gente já tinha visto que era uma fake news”, que “isso aí não procede”. De acordo com Almada, havia uma “boataria” desde o fim do primeiro turno, quando circulou um áudio sobre um suposto traficante que usava uma estrela do PT e que teria coagido eleitores