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Eduardo Bolsonaro atua como chanceler paralelo

O filho "zero três" do presidente faz visitas a países alinhados e divide informalmente com Ernesto Araújo a guinada da política externa para a direita

Eduardo Bolsonaro: função do deputado não se limita a de um representante do pai no exterior (Ueslei Marcelino/Reuters)

Eduardo Bolsonaro: função do deputado não se limita a de um representante do pai no exterior (Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 28 de abril de 2019 às 14h13.

Articulador de viagens presidenciais, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) virou uma espécie de chanceler paralelo. O filho "zero três" do presidente Jair Bolsonaro faz visitas precursoras a países alinhados e divide informalmente com o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, a guinada da política externa para o eixo de nações governadas pela direita. Nas últimas semanas, ele visitou expoentes do conservadorismo europeu, como o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, e o vice-primeiro ministro da Itália, Matteo Salvini.

Depois de um primeiro mandato na Câmara marcado pela defesa da liberação de armas e declarações consideradas polêmicas sobre o Judiciário e o Ministério Público, Eduardo diversificou sua atuação.

Hoje, tem uma rotina intensa de encontros com embaixadores estrangeiros no Brasil, mas garante que o jogo é combinado com Araújo, embora cada um defina livremente sua agenda. "É um papel complementar. Quem toma a decisão é ele", disse o deputado ao jornal O Estado de S. Paulo. "Eu sou próximo do embaixador. Se tem alguma coisa referente ao Executivo, passo para ele", emendou. 

Eduardo ainda conta com um aliado que despacha próximo ao presidente Bolsonaro, no Palácio do Planalto. O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, compõe com o deputado e o chanceler um triunvirato da diplomacia que segue o pensamento do escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo.

A função do deputado, porém, não se limita a de um representante do pai no exterior. Ele preside as comissões de Relações Exteriores e também a de Controle das Atividades de Inteligência no Congresso. Esta última fiscaliza as atividades de inteligência e contrainteligência desenvolvidas no Brasil e no exterior. É a única comissão do Legislativo a ter reuniões secretas, por abordar questões que podem colocar em risco a soberania nacional.

Convites de governos estrangeiros não param de chegar ao gabinete da Comissão de Relações Exteriores. Lá, simpatizantes bolsonaristas dividem espaço com diplomatas em busca de interlocução com o Planalto, por meio de Eduardo. 

Diante de incertezas sobre os ganhos comerciais com países como Hungria, cuja balança comercial é negativa para o Brasil, Eduardo atende parceiros tradicionais. Nos próximos dias, por exemplo, receberá embaixadores de países árabes preocupados com a aproximação de Bolsonaro com Israel. Na semana passada, ele se reuniu com os embaixadores da Argentina, do Peru e da China.

Ideologia

No encontro com o chinês Yang Wamming, o deputado amenizou o discurso ideológica que tem dado o tom do governo. "Citei a máxima do imperador Vespasiano: 'O dinheiro não tem cheiro'. Deixamos claro que questões ideológicas ficam à parte. Falei para eles que, se porventura houver alguma notícia veiculada dando como entendido que Jair Bolsonaro tem restrição à China, não seria verdadeiro", disse. "O tratamento que vamos dar para a China é o mesmo dado a outros países." 

As palavras destoam do tom expressado por ele ao excursionar na Europa, onde apregoou uma "luta contra o socialismo". O deputado diz ter preocupação em mostrar uma boa imagem do País e do governo do pai. "Fora do Brasil, a gente é brasileiro. Qualquer lugar que você vai, mijou, respingou na privada, limpa. É a imagem do Brasil que está lá fora."

Eduardo admite que ganhou destaque na política externa, assunto que não dominava, por ser filho de Bolsonaro. "Como filho do presidente, o holofote fica em cima. Para o bem e para o mal." O momento político do deputado contrasta com a situação vivida por dois irmãos. O senador Flávio Bolsonaro (PSL) submergiu ao virar alvo de investigação sobre movimentações financeiras atípicas de um ex-assessor na Assembleia Legislativa do Rio. Já o vereador no Rio Carlos Bolsonaro (PSC) trava uma guerra com o núcleo militar do Planalto.

O "zero três" de Bolsonaro não vê problemas em interceder para destravar negócios no Executivo, quando solicitado por estrangeiros. "Às vezes, tem um problema bem específico, é uma portaria que está atrapalhando a importação da rebimboca da parafuseta. 'Pô, Eduardo, tem como dar um toque em alguém no Ministério da Economia?' Se eu tiver algum contato lá dentro, posso falar com a pessoa, passo a portaria."

O próximo destino deve ser os EUA, onde o pai recebe homenagem em maio. Confirmada, a viagem será a segunda de Bolsonaro ao país que virou o foco da política externa bolsonarista. Donald Trump já classificou o trabalho de Eduardo como "fantástico". 

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