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Edu Lyra deu visibilidade às favelas. Agora quer redesenhá-las

Empreendedor social, que fundou a Gerando Falcões, lança ousado projeto para levar saneamento básico, água encanada e asfalto para comunidades do país

Edu Lyra: o propósito de vida do empreendedor social é ajudar a colocar a "miséria da favela no museu" (Gerando Falcões/Divulgação)

Edu Lyra: o propósito de vida do empreendedor social é ajudar a colocar a "miséria da favela no museu" (Gerando Falcões/Divulgação)

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Clara Cerioni

Publicado em 23 de agosto de 2020 às 08h00.

Última atualização em 23 de agosto de 2020 às 09h59.

O propósito de vida de Edu Lyra é ajudar a colocar a "miséria da favela no museu". Ele sabe que a sua trajetória contrariou as estatísticas do que é ser um homem negro e periférico no Brasil. Por isso, desde a juventude, usa do talento quem tem com as palavras para que a sua história de exceção se transforme em regra.

Há mais de uma década, Lyra desenvolve projetos de impacto social, por meio de sua ONG, a Gerando Falcões, que tem como missão impulsionar a vida dos brasileiros que vivem nas periferias. Hoje, sua atuação tem como foco a descoberta de líderes comunitários espalhados pelo país, para que, por meio de treinamentos diversos, eles adquiram importantes técnicas de gestão e as implementem em suas comunidades.

Essa ambição de Lyra pela transformação atrai a atenção de inúmeros milionários brasileiros, que já aceleraram diversos de seus projetos. Seu mentor (e amigo) é o bilionário Jorge Paulo Lemann. Acontece que a histórica desigualdade social do Brasil, o racismo estrutural enraizado e a falta de oportunidades para as classes mais vulneráveis da sociedade são problemas que ainda estão longe de serem resolvidos.

E um dos maiores desafios para isso está nas precárias condições de moradia que se encontram os moradores das favelas do país. Nessa conjuntura, Lyra decidiu colocar em prática seu mais ousado projeto até agora: criar um modelo de redesign para transformar as favelas em comunidades inteligentes.

"Não adianta oferecermos respostas simples para problemas complexos", diz Lyra à EXAME, relembrando as recorrentes ações de reintegração de posse que acontecem no Brasil, assim como os inúmeros desafios de levar saneamento básico, água tratada e asfalto para essas regiões.

De acordo com um levantamento do Instituto Trata Brasil de 2016, em 91% das 100 maiores cidades do Brasil, não há coleta de esgoto nas comunidades. Dados de 2020 da mesma organização apontam que 100 milhões de brasileiros não possuem cobertura de saneamento básico, ante 35 milhões que não têm água tratada. 

Projeto piloto

Para conseguir obter resultados efetivos, Lyra está nas tratativas finais de um projeto piloto que será feito em uma cidade do interior de São Paulo. Um acordo de cooperação com a prefeitura do município está em vias de ser concluído.

"Vamos juntar o que existe de melhor em soluções de combate à pobreza na literatura acadêmica, com as melhores cabeças de setores da sociedade, como o poder público e outras organizações, e fazer uma releitura do que realmente funciona para eliminar a pobreza no país", afirma.

A projeção inicial é que esse plano dure no mínimo três anos, mas em seis meses já haverá uma prévia das maquetes e dos desenhos que devem ser construídos na comunidade. Para a parte urbana, Lyra contratou um parceiro técnico, o Instituto Tellus, especialista em design de serviços públicos. Haverá, ainda, uma frente educacional, com foco na primeira infância e na formação profissional dos moradores do local.

A analogia que o empreendedor social faz para explicar a ambição desse projeto é com Elon Musk e seu plano de levar seres humanos para Marte. "Teremos uma meta para o Brasil ousada, que é eliminar a pobreza nas próximas décadas. Musk quer dar uma vida multiplanetária, nós queremos dar uma vida humana digna", afirma. 

Para ele, só assim será possível, de uma vez por todas, colocar a favela no museu.

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