Da esquerda para a direita, Serra, Aécio e Alckmin: enquanto nenhum tucano fala mais alto, indefinição compromete estabilidade do PSDB, segundo a Economist (Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 7 de abril de 2011 às 17h25.
São Paulo - O início de uma das reportagens da edição revista britânica The Economist que chega às bancas nesta quinta-feira (7) lembra um documentário sobre a vida animal. "Os tucanos, segundo os brasileiros dizem, simplesmente não conseguem ficar juntos: aqueles bicos grandes ficam no caminho." Longe de ser uma piada infame, o parágrafo remete a duas crises que ameaçam o PSDB, atual partido protagonista da oposição no Brasil.
Uma delas é a crise de relacionamento entre seus membros mais influentes, a qual compromete a estabilidade do partido. A outra é uma crise de identidade. Longe de mostrar uma postura definida, segundo a revista, o partido tucano precisa mudar seu discurso atual e rever seus focos caso queira continuar sendo relevante na política nacional. Sem isso, corre o risco de se perder pelo caminho rumo às eleições presidenciais de 2014.
Os motivos da primeira crise, de acordo com a Economist, têm nome e sobrenome. José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Todos continuam sendo vistos como potenciais candidatos à presidência daqui a quatro anos - mesmo José Serra, considerado por muitos como fora do páreo depois da derrota para Dilma Rousseff no ano passado.
Enquanto o PSDB não define seu nome forte para a disputa de 2014, muitos temem que o partido rache se não se apressar a escolher entre um dos três. "Alckmin está tentando empurrar Serra para a candidatura à prefeitura de São Paulo em 2012. O atual prefeito, Gilberto Kassab, um amigo, está criando um novo partido que, segundo alguns pensam, poderia acomodar José Serra caso o PSDB não se curve à sua vontade. Se for deixado de lado novamente, Aécio Neves também poderia sair. Com ele, iriam as melhores chances do partido conquistar a presidência", diz o texto.
A Economist diz que quem é a favor de Serra ou Alckmin busca alento na trajetória do ex-presidente Lula, que só se tornou presidente na quarta tentativa. O problema, de acordo com a revista, é que, enquanto Lula corria para o alvo, o PT se esforçava em construir uma sólida organização como partido opositor. Já o crescimento do PSDB nos anos longe do poder tem sido bem menos consistente.
"Tão prejudicial quanto a indefinição sobre o líder do PSDB é a falta de um programa distinto no partido", explica a matéria. De fato, atualmente, as diferenças ideológicas entre PSDB e PT não são mais tão bem delineadas. O texto da revista lembra que Lula optou pela estabilidade e continuidade das políticas econômicas iniciadas no período do governo de Fernando Henrique Cardoso. "Nem a questão das privatizações, abraçada por Fernando Henrique e rejeitada por Lula, é mais uma diferença significante. Dilma Roussef disse que vai abrir os aeroportos aos investimentos privados."
Além da falta de definição, a Economist cita algumas reclamações da ala mais jovem do PSDB, de que o partido não investiu em rostos novos que poderiam ganhar destaque no país. A estratégia poderia render bons frutos ao partido. Basta lembrar que, nas eleições presidenciais de 2010, muitos eleitores jovens votaram na novata (em corridas presidenciais) Marina Silva, do Partido Verde.
Nem o apoio da classe média, antes a pedra fundamental de tudo que o PSDB construiu, já não é mais garantido, segundo a revista britânica. "As pesquisas mostram que Dilma Rousseff, sucessora de Lula, é mais popular do que ele era depois dos três meses iniciais do seu primeiro mandato. E diferente dele, Dilma é igualmente bem vista por ricos e pobres". Estas são apenas algumas das muitas razões para o PSDB repensar seus rumos. "Razões pelas quais os tucanos precisam encontrar uma nova música para assobiar".