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'Economist': culpa pela tragédia no Rio não é do clima

Revista britânica afirma que a gestão precária do governo estadual é a maior causa das mais de 700 mortes

Economist questiona repasse de verbas para prevenção de catástrofes como a do Rio (Valter Campanato/AGÊNCIA BRASIL)

Economist questiona repasse de verbas para prevenção de catástrofes como a do Rio (Valter Campanato/AGÊNCIA BRASIL)

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Da Redação

Publicado em 20 de janeiro de 2011 às 17h25.

São Paulo - A edição da revista britânica The Economist que chega às bancas nesta quinta-feira (20) traz uma matéria afirmando que as chuvas excessivas que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro na semana passada foram causadas por um fenômeno natural. Mas a culpa da natureza pela tragédia termina aí. Segundo a revista, o desastre que matou mais de 700 pessoas pode ser debitado da conta da administração pública.

O texto explica um pouco da história da ocupação de cidades como Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo. No século XIX esta região não passava de um refúgio para o imperador D. Pedro II e meia dúzia de nobres que queriam escapar do calor escaldante do verão carioca. No início do século seguinte, a colonização alemã e suíça deu origem às pequenas vilas, e a população começou a crescer.

Nas duas últimas décadas do século XX, o fortalecimento da indústria têxtil nos municípios serranos deu origem a um intenso movimento migratório para a região. A partir daí começou a ocupação irregular. Sem coordenação por parte do governo, famílias foram construindo suas casas em zonas de risco, como locais próximos de encostas e nos morros.

Assim, observa a Economist, apesar do espantoso volume de chuvas no Rio ser atribuído ao fenômeno meteorológico La Niña, que causa um resfriamento nas águas do Oceano Pacífico modificando o clima no mundo todo, a causa das mortes pode ser procurada em terra firme.

Além da gestão inadequada durante o crescimento destas cidades, o país está em falta com planos de prevenção de catástrofes. "O Brasil tem uma sofisticada tecnologia em satélites, que o torna capaz de identificar incêndios florestais, corte ilegal de árvores, e de prever o tempo. Mesmo assim, cada tempestade pega o governo de surpresa", diz a matéria.

O texto observa que a região serrana do Rio não é o único problema deste tipo no país. Ao todo, cinco milhões de brasileiros vivem em área de risco. E o governo continua inativo diante desta realidade. "Em 2010 estavam previstos no orçamento do governo 442 milhões de reais para a prevenção de desastres, dos quais apenas 139 milhões foram gastos de fato", diz a Economist, citando um estudo feito pela ONG Contas Abertas.

"Menos de 1% da verba do PAC em 2010 foi destinada a áreas propensas a enchentes no Rio de Janeiro. O governo diz que isto aconteceu porque poucas cidades apresentaram projetos viáveis. E o mais notável é que o estado da Bahia recebeu, sozinho, 54% da verba para prevenção de desastres. Coincidentemente é o mesmo estado de Geddel Vieira e João Santana, ambos ex-ministros da Integração Nacional (que inclui defesa civil) e ambos chefes do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), um poderoso aliado do governo. Se há alguma lição a ser aprendida da tragédia no Rio, ela certamente não virá das nuvens", diz o texto.

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