Funcionário em uma plataforma da Petrobras: ex-diretor negou ter recebido propinas e desconhecer o esquema de corrupção (Sérgio Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de novembro de 2014 às 21h13.
Brasília - O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque afirmou em depoimento à Polícia Federal que recebeu R$ 1,6 milhão da empreiteira UTC por uma consultoria.
Ele é apontado por integrantes do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato como beneficiário de propinas pagas por empreiteiras para obter contratos com a petroleira estatal.
A UTC é uma das empreiteiras investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público sob suspeita de integrar o esquema. Seu presidente, o executivo Ricardo Ribeiro Pessoa, está preso desde a última sexta-feira.
No depoimento, prestado na segunda-feira, 17 de novembro, Renato Duque afirmou que se "auto impôs" uma quarentena ao deixar o cargo que tinha na Petrobras em abril de 2012.
Depois disso, relatou, começou a trabalhar como consultor em janeiro de 2013, usando uma empresa que já tinha constituída antes de sair da estatal.
A consultoria de R$ 1,6 milhão dada à UTC, disse Duque, serviu para capacitar a empresa a entrar numa licitação para operar plataformas flutuantes. "Apesar disso, a UTC perdeu a licitação no ano de 2013", registrou.
O valor foi recebido, de acordo com ele, "em vários pagamentos de valor menor" feitos à empresa D3TM, que também é investigada pelas autoridades e teve seu sigilo quebrado a pedido do juiz federal Sergio Moro, da 13ª Vara Criminal de Curitiba.
O relato do depoimento de Duque permite saber que ele teve ao menos mais um contrato com a UTC, mas não revela o valor desse negócio.
"Outro contrato de consultoria se deu com a UTC Óleo e Gás (...) tendo auxiliado na elaboração da proposta e o estudo das melhores alternativas". Segundo o relato, nesse caso a UTC conseguiu o contrato que almejava.
O ex-diretor negou no depoimento ter recebido propinas e desconhecer o esquema relatado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa à Polícia Federal.
Segundo Costa, contratos da estatal com empresas eram acrescidos de 3% para sustentar os valores desviados. Duque disse aos policiais que está processando Costa por crime de calúnia.
Cosenza
Em outro momento do interrogatório, é feita a Duque uma pergunta que aparece nos depoimentos de outros cinco executivos presos na última sexta-feira e que suscitou polêmica ao longo da semana.
Trata-se da pergunta em que a própria PF revela o suposto envolvimento do atual diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, entre os suspeitos de receber "comissões" das empreiteiras.
Na quarta-feira, 19, a Polícia Federal disse que o nome de Cosenza foi mencionado por "erro material" nos depoimentos e que não há elementos que o comprometam nos autos do processo.
O interrogatório de Duque, porém, indica que Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef mencionaram Cosenza.
"Indagado sobre a afirmação de Paulo Roberto Costa e de Alberto Youssef em tal interrogatório judicial de que havia o pagamento de comissões pelas empreiteiras que mantinham contratos com a Petrobras para eles, o interrogado, diretores Cerveró e Cosenza (...), o declarante afirma que não recebia comissões."
Petista
Duque disse no interrogatório que conheceu o tesoureiro do PT, João Vaccari, em 2010, "em um evento social em São Paulo". Vaccari é suspeito de ser o arrecadador do PT no esquema investigado pelas autoridades.
O ex-diretor afirmou que criou "empatia" com o petista e, por "amizade", passou a ter encontros com ele, sempre em caráter social.
Caracterizou Vaccari como "pessoa agradável para o convívio", principalmente em jantares no Rio de Janeiro e em São Paulo. Disse ainda nunca ter se encontrado com Vaccari na Petrobras.