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Duas pestes e desastres naturais: o Acre pede socorro

Enchentes atingem nível histórico, com dez cidades atingidas e mais de 6 mil desabrigados; doenças agravam o quadro de calamidade pública

Acre volta a enfrentar enchentes: dez cidades foram atingidas neste mês (Ricardo Funari/Brazil Photos/LightRocket/Getty Images)

Acre volta a enfrentar enchentes: dez cidades foram atingidas neste mês (Ricardo Funari/Brazil Photos/LightRocket/Getty Images)

CA

Carla Aranha

Publicado em 23 de fevereiro de 2021 às 11h53.

Com uma taxa de ocupação de leitos de UTIs de 91,5% e um aumento de 80% no número de óbitos pela Covid-19 nos últimos 15 dias, em comparação à quinzena anterior, o Acre também enfrenta um surto de dengue e enchentes. As cheias dos rios, que desabrigaram mais de 6 mil pessoas nos últimos dias, vêm batendo recordes – pelo menos dez munícipios estão debaixo d´água.

Nesta quarta, dia 24, o presidente Jair Bolsonaro deve fazer uma visita oficial ao Acre, que entrou em estado de calamidade pública nesta segunda, dia 22. O Palácio do Planalto também anunciou a liberação de 450 milhões de reais em créditos extraordinários voltados a ações da Defesa Civil no estado, por meio de uma medida provisória assinada nesta segunda.

A capital Rio Branco também foi atingida pelas enchentes. Pelo menos dez bairros foram inundados com a cheia do Rio Acre, que cruza a cidade. Em outros municípios, como Cruzeiro do Sul, a situação também é extremamente preocupante – o transbordamento do Rio Juruá, principal via fluvial da região, chegou ao nível máximo, atingindo 14,3 metros de profundidade, mais de 2 metros acima do normal.

Nessa época do ano, normalmente chove na região amazônica, mas dessa vez as precipitações têm sido mais intensas. O governador do Acre, Gladson Cameli (PP), tem chamado atenção para o problema. “O que estamos vivenciando aqui é, realmente, uma situação de calamidade humanitária. São vários problemas em uma hora só”, disse Cameli.

Dengue e refugiados

Com o fechamento da fronteira do Peru com o Brasil, por causa do coronavírus, o Acre também lidando com um aumento no número de refugiados da Venezuela e do Haiti. Os imigrantes tinham como destino o Peru, que vem conseguindo controlar a pandemia melhor do que o Brasil. O governo peruano comprou 20 milhões de doses da vacina da Pfizer,14 milhões da AstraZeneca e 1 milhão da Sinopharm. O Peru, com 33 milhões de habitantes, tem 1 milhão de casos da Covid-19, diante de 11 milhões do Brasil.

Mais de 450 refugiados estão acampados na cidade de Assis Brasil, na fronteira do Acre com o Peru. A prefeitura local tem destinado alimentos e água para os imigrantes, de acordo com informações da gestão municipal.

O Grupo Especial de Fronteiras (Gefron), que fiscaliza a movimentação no local, tem se preocupado com o tráfico de pessoas. Autoridades do Acre apontam que não só imigrantes venezuelanos e de outros países da América Latina, como o Haiti, têm sido identificados na região.

Há a percepção também da presença de refugiados africanos, que vêm ao Brasil em busca de vias de imigração para outros países. “O Brasil pode estar começando a fazer parte de uma rota internacional de tráfico de pessoas”, diz o secretário de Justiça e Segurança do Acre, coronel Paulo Cézar Rocha dos Santos.

O Acre enfrenta ainda outro problema. Um surto de dengue provocou um aumento nos atendimentos nas unidades de saúde. Em Rio Branco, há 1,5 mil casos registrados da doença e outros 8,6 mil suspeitos. As unidades de saúde da capital mal têm dado conta de atender os pacientes que chegam com sintomas de dengue, que hoje representam 80% das pessoas que procuram as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). “Com tantas calamidades, é como se fosse a 3ª Guerra Mundial”, disse Cameli.

 

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