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Drama da água: sinais do colapso a conta-gotas no Sudeste

Aprofundamento da crise hídrica leva a região mais rica e populosa do país a experimentar situações inéditas


	 Estiagem histórica: a seca prolongada já afeta os principais reservatórios da região Sudeste.
 (Divulgação/Sabesp)

Estiagem histórica: a seca prolongada já afeta os principais reservatórios da região Sudeste. (Divulgação/Sabesp)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 29 de janeiro de 2015 às 09h00.

São Paulo – Região mais rica e populosa do país, o Sudeste enfrenta sua pior crise hídrica em mais de 80 anos. Por aqui, correm cerca de 6% dos recursos hídricos do país, que atendem a mais de 80 milhões de pessoas nada menos do que 40% da população brasileira.

A seca prolongada já afeta os principais reservatórios da região. Se as chuvas de janeiro não têm ajudado muito, fevereiro tampouco trará alívio. Segundo previsões do Climatempo, as chuvas que devem chegar aos reservatórios do Sudeste deverão ficar no máximo em 60 por cento da média histórica.

Com o aprofundamento da crise, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os três maiores estados da região, experimentam situações inéditas de escassez. Espírito Santo também já começa a cambalear, com graves perdas agrícolas. Confira a seguir o desdobramento da crise em cada estado.

MINAS GERAIS: A CAIXA D´ÁGUA ESTÁ SECANDO

Conhecida como a caixa-d’água do Brasil, pela vastidão de seus recursos hídricos, Minas Gerais enfrenta sua pior seca em mais de 100 anos. E isso em pleno tradicional período de chuvas. Ao menos 110 cidades mineiras declararam estado de emergência em decorrência da estiagem e duas (Oliveiras e Itapecerica) chegaram a cancelar as folias de carnaval.

Atualmente, o Sistema Paraopeba, que abastece a Região Metropolitana de Belo Horizonte, opera apenas com 30% de capacidade. No mesmo período do ano passado, esse índice era de 78%.

Entre os três reservatórios que compõem o sistema, o quadro mais crítico é o do Sistema de Serra Azul, que está com 5,7% de seu volume, praticamente já operando no volume morto. Já o sistema Vargem das Flores apresenta capacidade atual de 28% e o sistema Rio Manso, 45%.

 Interior de Minas Gerais: ao menos 110 cidades declararam estado de emergência em decorrência da estiagem histórica. (Divulgação/Prefeitura de Contagem)

 

Diante da gravidade do problema, as autoridades mineiras anunciaram medidas emergenciais para conter o consumo de água. Na última quinta-feira (22), a empresa de saneamento básico do Estado de Minas Gerais, Copasa, afirmou que não descarta um racionamento de água no estado ou implementação de multas, caso a população não reduza os gastos.

Para afastar o risco de racionamento, a Copasa lançou uma meta de economia de água de 30%, além de outras medidas, como perfuração de poços artesianos nas regiões mais críticas e contratação de caminhões-pipa. A empresa também se comprometeu a combater as perdas no sistema, que chegam a incríveis 40% na Região Metropolitana de Belo Horizonte, provocadas tanto por vazamentos no percurso entre a distribuição e o consumidor até ligações clandestinas.

RIO DE JANEIRO CHEGA AO VOLUME MORTO

De forma inédita, o Rio de Janeiro atingiu o chamado volume morto, a reserva que está abaixo da captação feita pela concessionária de água e esgoto. Na última quarta-feira (21), o nível do Paraibuna – o maior dos quatro reservatórios que abastecem o estado fluminense – chegou a zero, pela primeira vez, desde que foi criado, em 1978.

Os outros três reservatórios são o Santa Branca e Jaguari, que ficam em São Paulo, e Funil, em Itatiaia, no Sul Fluminense. Em todos eles, os níveis de água estão abaixo de 4%. A maior parte das represas ficam no estado de São Paulo (que vem sofrendo com a estiagem histórica) e recebem água do rio Paraíba do Sul, que, até recentemente, era alvo de disputa entre os dois estados.

Apesar do quadro crítico, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, tem afastado o risco de racionamento e, por hora, diz que não considera aplicar multas para conter o consumo, como vem acontecendo no estado vizinho. Contudo, durante coletiva com jornalistas nesta sexta-feira (23), o governador pediu à população que colabore, para que não seja preciso adotar medidas drásticas.

Em entrevista para o jornal Bom Dia Rio, naquele mesmo dia, o secretário estadual do Ambiente, André Correia, afirmou que o Sudeste atravessa a maior crise de estiagem de sua história. Ele enfatizou, ainda, que a água é um bem finito e que, diante do quadro de escassez, o abastecimento humano será priorizado. Um sinal de que, se for preciso,o fornecimento para outros fins, como o uso industrial, poderá ser cortado.

“O rio Paraíba do Sul é usado para geração de energia, para irrigação, para abastecimento industrial, então, por exemplo, podemos ter num curto prazo, problemas com empresas que estão na bacia do Guandu, no final da bacia do Guandu, depois de onde a Cedae capta água. Nós podemos chegar num prazo curto e dizer para ela que elas vão ter que parar de operar”, alertou Corrêa.

A falta de água já afeta as operações das indústrias do Rio de Janeiro. Uma pesquisa realizada pela FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) com 487 empresas revela que 30,6% delas já enfrentam problemas por conta do baixo nível nos reservatórios de água. Essas empresas empregam 59.849 trabalhadores, aproximadamente 15% dos empregos industriais fluminenses.

Fotos Publicas/ Antonio Leudo/ Prefeitura de Campos

O nível do reservatório de Paraibuna, o maior de quatro que abastecem o Rio de Janeiro, atingiu o volume morto na última quarta (21).  ( (Divulgação/Prefeitura de Contagem) )

ESPÍRITO SANTO: R$ 1,390 BILHÃO EM PERDAS NO CAMPO

O Espírito Santo também não está livre da escassez de água. Desde dezembro, o município de Guarapari, famoso por suas praias, vem sofrendo com falta de água. De acordo com a Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan), a seca nos rios Benevente, Jabuti e Conceição reduziu em 20% a produção de água da cidade.

Transtornos por conta da estiagem são sentidos, com força, no campo. A seca deve provocar prejuízos da ordem de R$ 1,390 bilhão para o setor agropecuário capixaba, segundo estimativa da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca do Espírito Santo (Seag/ES).

Conforme o levantamento, feito pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), as perdas nas lavouras de café variam de 20% a 32%; na produção de leite entre 23% e 28% e na fruticultura entre 20% e 30%.

SÃO PAULO VIVE DRAMA DA TORNEIRA SECA

De todos os estados do Sudeste, São Paulo é o que enfrenta a situação mais crítica. O Sistema Cantareira, principal fonte de abastecimento da região, está chegando ao fim da segunda cota do volume morto, que operava, ontem (23), em 5,3%.

Na tentativa de coibir o aumento do consumo, o governador Geraldo Alckmin estuda aumentar mais uma vez a tarifa da água. Também estão em análise outras investidas, como o aumento da multa para quem elevar o consumo de água e o aproveitamento dos recursos da represa Billings.

Na semana passada, pela primeira vez, após quase um ano de crise hídrica, Alckmin admitiu que São Paulo está sofrendo racionamento de água. Apesar disso, ainda faltam informações claras para que a população possa se preparar.

Somente após determinação do órgão regulador é que a Sabesp divulgou a lista de bairros sob risco de falta d´água, ocasionada pela redução da pressão na rede, uma prática recorrente adotada pela concessionária para diminuir as perdas de água na Região Metropolitana. 

Segundo estudo divulgado nesta semana pela Rede Nossa São Paulo e pela Fecomercio, 68% dos moradores da cidade de São Paulo já enfrentaram problemas de abastecimento nos últimos 30 dias, e 82% acham que a cidade corre grande risco de ficar sem água.

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