Os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, disputam as prévias do PSDB para obter a indicação de candidato à eleição presidencial de 2022. (Fotos: Eduardo Leite: Tiago Coelho/Bloomberg via Getty Images / João Doria: Governo do Estado de São Paulo / montagem/Exame)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 19 de novembro de 2021 às 06h00.
Última atualização em 21 de novembro de 2021 às 11h02.
O PSDB define neste domingo, 21 de novembro, o nome do político tucano que irá disputar a presidência da República em 2022: Eduardo Leite, João Doria ou Arthur Virgílio. Dos 1,3 milhão de membros do partido, 44.700 filiados e mandatários se inscreveram para votar no processo, que vai até 18h em sistema híbrido, com votação virtual, por meio de aplicativo, e presencial, em Brasília. O resultado está previsto para sair até as 19 horas.
No tabuleiro eleitoral, as prévias do PSDB impactam outras legendas porque dali pode sair um candidato cabeça de chapa ou um possível vice de uma coligação mais ampla da terceira via, que pretende ser uma alternativa aos polos do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao mesmo tempo, as prévias simbolizam feridas abertas dentro do próprio partido, que comandou o país por oito anos (de 1995 a 2002) e foi protagonista de seis eleições presidenciais desde a redemocratização. A legenda vai ter de se entender para continuar com relevância no cenário nacional. Em estados importantes, como Minas Gerais, o partido passou a ser coadjuvante nas eleições.
Independentemente de quem vencer, haverá a necessidade de diálogo com outros partidos. Na mais recente pesquisa EXAME/IDEIA, Ciro Gomes (PDT) e Sergio Moro (Podemos) aparecem como os nomes mais fortes da terceira via em 2022, com 7% e 5% das intenções de voto, respectivamente. Tanto Doria quanto Leite figuram com 2% no primeiro turno, e perderiam em um segundo turno para Lula e Bolsonaro.
"Há um grande desafio para qualquer candidato de terceira via, que é Sergio Moro. Ele atrai dois principais eleitores, aquele que votou em Bolsonaro e se decepcionou, por conta da corrupção, e aquele outro que carrega um sentimento antipetista", afirma o cientista político André César, da Hold Assessoria.
Em todas as falas e debates que participaram, os três candidatos dizem que o processo de escolha em sistema de prévias é um exemplo de democracia que deveria ser seguido por outras legendas. Na avaliação do cientista político André César, o processo mostrou mais as diferenças entre as muitas alas políticas dentro do PSDB e que o partido deve sair dividido do processo.
“A ideia da prévia para a história política é interessante, mas talvez o momento tenha sido ruim. Vivemos uma polarização e isso ia respingar no partido, que deve sair dividido, para não dizer rachado. Nas duas últimas semanas, cresceu os ataques entre Doria e Leite. Também colocaram em dúvida o processo. Quem perder dificilmente vai apoiar de corpo e alma o vencedor”, afirma.
Membros do partido ligados ao governador gaúcho, Eduardo Leite, tentaram pedir o adiamento do pleito, alegando falhas no aplicativo de votação. Desde que o app foi lançado surgiram reclamações relacionadas a seu funcionamento.
Muitos filiados não estavam conseguindo baixar o app por terem celulares antigos, sem memória ou mesmo por não terem pacotes de dados suficientes. Existem ainda casos de pessoas que não têm familiaridade com esse tipo de tecnologia ou que tentaram fazer o cadastramento, mas não conseguiram por motivos técnicos. As campanhas montaram grupos de apoio para ajudar quem tiver problemas de acesso ao aplicativo.
No começo do mês, o governador João Doria teve uma derrota quando a Comissão Especial de Prévias decidiu excluir 92 prefeitos e vice-prefeitos paulistas da votação. O pedido, feito por apoiadores de Leite, é de que eles se filiaram ao partido depois do prazo final de inscrição, que era 31 de maio.
Em entrevista à EXAME, o presidente paulista do partido e secretário da gestão Doria, Marco Vinholi, disse que não houve irregularidades. Segundo ele, o anúncio da filiação desses mandatários paulistas ocorreu em uma data e a parte burocrática, com a filiação de fato, em outra, “algo corriqueiro no meio político”.
Nesta reta final das prévias, os três candidatos se dizem confiantes e apostam em suas respectivas vitórias, mas o governador de São Paulo sai em vantagem. Dos aptos a participar da votação, mais de 60% dos eleitores são paulistas, que em sua maioria apoiam Doria. O Rio Grande do Sul, terra que deve dar maioria ao governador gaúcho, tem 9% dos inscritos, e Minas Gerais, que também apoia Leite, tem 4% dos filiados inscritos a votar.
Apesar da maioria em números absolutos, a conta não é uma matemática simples. Os votos dos filiados contam como 25% do peso total, os deputados federais, senadores, vice-governadores e vice-governadores e ex-presidentes do partido somados também valem 25%, assim como o dos deputados estaduais. Já prefeitos e vereadores têm peso de 12,5%, cada, na escolha interna do PSDB.
Há uma expectativa de que Leite leve mais estados, com menos votos, e a maioria dos Senadores. Já Doria teria uma margem maior nos demais colégios eleitorais, e em estados mais populosos, como o que governa.
Virgílio deve aparecer em terceiro lugar. Em conversas de bastidores, seus apoiadores tendem a votar no governador paulista. Há alguns meses, chegou a circular a informação de que ele deixaria o pleito para se juntar a Doria - assim como o senador Tasso Jereissati fez para apoiar Leite -, mas o ex-prefeito de Manaus se manteve até o final, e por vezes enaltecendo as qualidades do governador paulista.
Enquanto Doria e Leite partiram para o corpo a corpo e percorreram o Brasil, Virgílio adotou uma postura mais discreta. O governador gaúcho tentou furar a bolha estabelecida por João Doria em território paulista. Até o começo de novembro, visitou São Paulo em três eventos abertos, dois debates, uma visita ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e mais duas reuniões fechadas.
Além disso, tentou focar em apoios estratégicos de caciques do partido, como o deputado federal por Minas Gerais, Aécio Neves, e com o apoio - informal - do ex-governador paulista Geraldo Alckmin. Leite também recebeu manifestações de outros partidos. O fundador do PSD, Gilberto Kassab, e o presidente do DEM (que está em fusão com o PSL), ACM Neto, disseram que torcem pela vitória do governador gaúcho.
Doria, por sua vez, montou uma equipe com a missão de ouvir mais do que falar aos filiados do partido. O olho no olho foi a estratégia adotada por ele para tentar ganhar os votos necessários para vencer. Também leva junto de si o trunfo de ter trazido ao Brasil a primeira vacina contra a covid-19.
A última parada do tour de campanha de Doria não foi escolhida à toa. Na última terça-feira, 16, o governador paulista esteve em Porto Alegre, território do principal oponente, e foi até recebido por Leite no Palácio Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul. Ambos falaram que, apesar da disputa e das diferenças, a partir do dia 22 estarão “mais juntos do que nunca, unidos pelo Brasil”.
(Com Estadão Conteúdo)