Doria: governador se solidarizou com familiares, mas defendeu ação da PM que resultou em nove mortes (Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)
Clara Cerioni
Publicado em 2 de dezembro de 2019 às 15h48.
Última atualização em 2 de dezembro de 2019 às 15h48.
São Paulo — O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), lamentou nesta segunda-feira (02) a morte dos nove jovens durante uma operação da Polícia Militar em um baile funk na comunidade de Paraisópolis, na madrugada deste domingo (01).
O governador, no entanto, destacou que o plano de policiamento do estado "não mudará" por conta dessa ação.
"Gostaria de transmitir solidadriedade às famílias das nove pessoas que foram vítimas desse triste incidente ocorrido na comunidade de Paraisópolis", afirmou Doria, que sinalizou ter determinado uma "apuração rigorosa dos fatos e das circunstâncias para apurar excessos circunstancialmente cometidos".
"Quero registrar, no entanto, que ações na comunidade de Paraisópolis, assim como em outras, seja pela obediência da Lei do Silencio, de tráfico de drogas, ou furto e roubo, vai continuar", destacou.
Em seguida, reforçou que "a existência de um fato não inibirá as ações de segurança no Estado de São Paulo".
Questionado se o governo adotará uma postura para letalidade policial, Doria afirmou que "a letalidade não foi provocada pela Polícia Militar, e sim por bandidos que invadiram a área onde estava acontecendo o baile funk".
Segundo ele, é preciso cuidado para não inverter o processo e que "não houve ação da polícia em relação a invadir a área onde o baile funk estava ocorrendo".
O secretário de Segurança do estado, João Camilo Pires de Campos, disse que vai investigar também quem são os organizadores dos bailes na região.
Segundo o comandante-geral da PM, coronel Marcelo Salles, no dia da operação que resultou na tragédia havia oito eventos diferentes em Paraisópolis, com ao menos 5 mil pessoas. Na ocasião, um plano de ação para ocupar a área e cessar as festas estava em andamento.
Contudo, disse Salles, a operação foi abortada por conta do volume de pessoas nas vielas do bairro.
"Nós iríamos ocupar? Iríamos. Só que, às 20 horas, foi feita uma análise de risco e não dava. Já estava todo tomando naquela localização. Ingressar ali seria um erro. (Seria um erro) Dispersar ali. Tanto que esse evento ocorreu às 4 horas da manhã", disse.
Salles afirmou que a opção foi reforçar o policiamento no entorno do baile, sob o argumento de que criminosos se aproveitam da festa, e da multidão, para se refugiar na massa de pessoas após a prática de crimes.
"A experiência diz, e eu já fui comandante da zona oeste e sei disso, que há crimes adjacentes. Carros são roubados e levados para dentro do pancadão", afirmou.
"O gatilho iniciador do problema foi os criminosos atirando na polícia", concluiu o coronel, apesar de admitir que as investigações sobre o caso ainda não são conclusivas.
Perguntado sobre as imagens que viralizaram nas redes sociais, incluindo uma que mostra pessoas sendo encurraladas em vielas da favela, Salles afirmou que elas estão sob análise e estão incluídas no inquérito.
Ele destacou uma das gravações, em que uma pessoa sentada é agredida com tapas na cara por um, policial, poderia não ter relação com a ação.
"Não há som de música, você consegue ouvir cães latindo", disse. "Apesar (de serem atos) gravíssimos e que serão apurados com uma lupa, porque não compactuamos com erro."
Já o secretário João Campos se negou a responder se já havia identificado os agentes mostrados nos vídeos. Ele afirmou que a identidade dos policiais será preservada" e destacou a "disciplina" da PM paulista. "É uma instituição admirável".