Brasil

Dono da JBS gravou Temer autorizando compra de Cunha, diz jornal

"Tem que manter isso, viu?", teria dito Temer ao ser informado sobre pagamento para calar Eduardo Cunha

Michel Temer e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (Ueslei Marcelin/REUTERS/Reuters)

Michel Temer e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (Ueslei Marcelin/REUTERS/Reuters)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 17 de maio de 2017 às 20h00.

Última atualização em 18 de maio de 2017 às 01h37.

São Paulo - O empresário Joesley Batista, um dos controladores da holding J&F, teria gravado o presidente Michel Temer dando aval à compra do silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha, segundo informações do colunista Lauro Jardim do jornal O Globo.

Segundo a reportagem, o empresário entregou à PGR uma gravação, feita em 7 de março no Palácio do Jaburu, em que ele conta a Temer que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada na prisão para que ficassem calados. Diante da informação, o presidente teria respondido: "Tem que manter isso, viu?".

Em nota, o presidente Michel Temer nega que tenha solicitado pagamentos para obter o silêncio de Cunha. "O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República", afirma o comunicado enviado à imprensa.

Segundo o empresário, a ideia de dar uma mesada para Cunha em troca de seu silêncio não teria partido de Michel Temer, mas a proposta teria pleno conhecimento do presidente.

De acordo com o jornal, a gravação feita por Joesley é parte da declaração que os controladores da J&F deram à Procuradoria-Geral da República em abril e que teria sido confirmada por ele e seu irmão Wesley ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF),  que é responsável pelas ações da operação Lava Jato no Supremo.

Mala com meio milhão de reais

Na mesma conversa, Batista pede ajuda a Temer para resolver uma pendência da J&F no Cade governo. Temer teria indicado,  então, o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para cuidar do problema. Depois, Rocha Loures, que é conhecido por ser um dos homens de confiança do presidente,  foi filmado recebendo uma mala com  500 mil reais enviados por Joesley Batista.

O empresário pediu ajuda a Loures para resolver uma disputa no Cade entre a Petrobras e a Usina Termelétrica EPE, que pertence à J&F. Segundo Batista, a empresa perdia cerca de 1 milhão de reais por dia com os preços do gás fornecido pela estatal à termelétrica.

Segundo o empresário, o indicado por Temer ligou em seguida para o presidente em exercício do Cade, Gilvandro Araújo. Não há evidências de que o pedido tenha sido atendido.

De qualquer forma, ficou acertado o pagamento de 500 mil reais semanais por 20 anos em propina pelos serviços prestados. Loures teria dito que levaria a proposta de pagamento a alguém acima dele - pelo contexto, uma suposta referência ao presidente Michel Temer, de acordo com o jornal.

A primeira parcela do pagamento teria sido entregue em uma mala para Loures em uma pizzaria no Jardim Paulista, em São Paulo. A entrega do dinheiro foi filmada pela Polícia Federal e o dinheiro foi rastreado em uma ação controlada pela PF.

Segundo as investigações,  as cédulas foram depositadas em uma empresa do senador Zezé Perrela (PMDB-MG), aliado político de Aécio Neves (PSDB).

Aécio Neves

Aécio também foi gravado por Joesley Batista. Na gravação, o senador tucano aparece pedindo 2 milhões de reais ao empresário,  sob a justificativa de que precisava da quantia para pagar despesas com sua defesa na Operação Lava Jato.

De acordo com O Globo, o presidente do PSDB indicou um primo, Frederico Pacheco de Medeiros, para receber o dinheiro. 'Fred' foi diretor da Cemig, nomeado por Aécio, e um dos coordenadores da campanha do tucano a presidente em 2014.

Veja a íntegra da nota emitida há pouco pelo Planalto:

" O presidente Michel Temer jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar.

O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República.

O presidente defende ampla e profunda investigação para apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados."

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoEduardo CunhaJBSMichel TemerOperação Lava Jato

Mais de Brasil

Quais são os impactos políticos e jurídicos que o PL pode sofrer após indiciamento de Valdermar

As 10 melhores rodovias do Brasil em 2024, segundo a CNT

Para especialistas, reforma tributária pode onerar empresas optantes pelo Simples Nacional

Advogado de Cid diz que Bolsonaro sabia de plano de matar Lula e Moraes, mas recua