Sergio Moro: ministro segue numa agenda de defesa pessoal de suas ações como juiz da Lava-Jato (Carolina Antunes/PR/Flickr)
Da Redação
Publicado em 9 de agosto de 2019 às 07h09.
Última atualização em 9 de agosto de 2019 às 08h32.
A semana termina com a novos indícios de que o presidente Jair Bolsonaro e seu super ministro da Justiça, Sergio Moro, têm agendas paralelas, e cada vez mais apartadas, em Brasília.
Nesta quinta-feira, Bolsonaro afirmou que seu ministro tem que entender que não é mais juiz, e que é natural que seu pacote anti-crime sofra reveses no Congresso. “Agora, não temos como decidir de forma unilateral, e temos que governar o Brasil”, disse.
Segundo Sérgio Praça, professor da FGV e colunista de EXAME, é provável que o pacote anticrime de Moro se desidrate a ponto de parar completamente. “A apologia à violência policial não encontra apoio entre a maioria dos deputados”, diz Praça.
Enquanto isso, Moro segue numa agenda de defesa pessoal de suas ações como juiz da Lava-Jato. Ontem, num exercício de fluidez argumentativa, afirmou em manifestação enviada ao ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, que jamais ordenou a destruição de mensagens e que não tem acesso ao inquérito da Polícia Federal sobre o caso. O ministro da Justiça disse ainda que a afirmação de que o material seria descartado foi “apenas um mal-entendido”.
Horas depois, numa mostra de que não está disposto a deixar os holofotes, encaminhou pedido à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para abrir uma investigação pelos crimes de calúnia, injúria e difamação contra o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. Santa Cruz afirmou à Folha que o ministro “banca o chefe de quadrilha”. O presidente da OAB afirmou, ontem, que se exaltou.
Enquanto estampa manchetes por assuntos paralelos a seu ministério, Moro sumiu quando se esperava que liderasse as respostas ao massacre de presos em Altamira, no Pará, deixando para Bolsonaro o papel de porta-voz do governo. Foi a deixa para uma nova leva de declarações vexatórias.
Segundo a Folha desta sexta-feira, tanto no Congresso quanto no Supremo relatos indicam que Bolsonaro “não vê o auxiliar como alguém disposto a segurar os rojôes que não sejam do próprio interesse”.
A ala liberal dentro e fora do governo vê uma vantagem na divisão entre Moro e seu chefe. Pode ser a deixa para o Planalto direcionar as forças para a reforma tributária, atacando um dos graves problemas de quem tenta investir e fazer negócios no Brasil.