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Diretor é chave para resolver problema das escolas, diz pesquisador

Em entrevista a EXAME, Jose Weinstein, ex-secretário de Educação e ministro da Cultura do Chile, destaca potencial de profissionalizar a direção das escolas

Weinstein esteve no Brasil a convite do Instiuto Unibanco (Wikemediacommuns/Divulgação)

Weinstein esteve no Brasil a convite do Instiuto Unibanco (Wikemediacommuns/Divulgação)

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Clara Cerioni

Publicado em 29 de maio de 2019 às 06h00.

Última atualização em 29 de maio de 2019 às 06h00.

São Paulo — No Brasil, a discussão dos desafios nas escolas públicas passa invariavelmente pela falta de professores, sua formação, alta evasão de alunos, violência e falta de recursos financeiros.

Mas há um tema central para a educação brasileira que é pouco debatido: a gestão escolar, ou seja, o papel dos diretores que lidam na ponta as crises enfrentadas pelas mais de 180 mil escolas.

Mesmo esse sendo o profissional que tem o maior número de responsabilidades dentro das instituições, não há nenhuma política pública voltada para sua formação e atuação no Brasil. O descaso é tão significativo que, segundo um levantamento do jornal Folha de S.Paulo, em 2015, 45% dos 55 mil diretores brasileiros tinham chegado ao posto por indicação e não por valorização de carreira.

Apesar de pouco discutida na sociedade, a profissionalização dos líderes escolares é alvo de um intenso debate no meio educacional e Jose Weinstein, ex-secretário Nacional de Educação e ministro da Cultura do Chile, é um dos principais pesquisadores sobre o tema na América Latina.

Em 2015, ele investigou oito sistemas escolares de países latinos (Chile, México, Equador, Peru, República Dominicana, Ceará-Brasil e Argentina), com o objetivo de analisar as políticas de formação e desenvolvimento de lideranças escolares.

Neste mês, ele veio ao Brasil a convite do Instituto Unibanco para participar de um seminário sobre gestão educacional e falou com exclusividade a EXAME sobre como o Brasil pode apostar nesse profissional para resolver alguns dos sérios problemas das escolas públicas.

Veja os principais trechos da entrevista:

Qual a importância de um diretor escolar para o desenvolvimento da educação?

Há diversas evidências que comprovam que os diretores escolares são um dos principais fatores que mais fazem diferença no aprendizado dos estudantes. Não há nenhuma escola que apresente melhora em seus índices que não tenha por trás uma boa liderança, isso é uma evidência fundamental.

Por que os diretores são tão importantes? Basicamente porque eles podem trabalhar com os professores e podem trabalhar com a equipe docente com o objetivo de melhorar a qualidade da educação. Existe, inclusive, um conjunto precioso de práticas que bons diretores colocam em ação para desenvolver o sistema educacional de uma escola.

E quais são essas principais práticas que diretores brasileiros podem reproduzir?

Bom, isso envolve um conjunto de fatores. Por exemplo, é muito importante que os gestores tenham um trabalho muito forte no ponto de vista do desenvolvimento de seus professores, individual e coletivo. É preciso observar como cada professor aplica seus conhecimentos, como ele realiza atividades com alunos, e aprender com isso.

Conversar com os alunos sobre a performance de seus docentes também é essencial. A avaliação dos estudantes pode trazer um novo ponto de vista sobre a unidade e consistência de todo o trabalho educacional.

Mais uma importante função do diretor é impedir que seus professores tenham distrações e possam se dedicar ao ensino. Não é responsabilidade do professor resolver problemas familiares ou externos. Ele precisa se concentrar no essencial.

Na investigação de seu projeto no Brasil, qual a principal falha que o senhor identificou?

O que mais falta é uma diretriz clara que estabelece o papel e as funções de um diretor, que seja mais do que uma lei imposta. Isso é o básico e no Brasil não existe. 

Apesar da importância, é difícil convencer os políticos brasileiros de investir no papel do diretor... Como você sugere fazer isso?

É necessário mostrar evidências empíricas, pesquisas com outros países que mostram que escolas com bons diretores, e claro uma boa equipe de suporte a esse profissional, alcançam melhores resultados educacionais. 

Outra alternativa é mostrar que os custos seriam menores. Por exemplo, no Brasil você tem cerca de 55 mil diretores de escola pública. Não é mais econômico as políticas públicas prepararem esses 55 mil diretores que depois passarão os aprendizados para suas dezenas de professores? 

Assim, você consegue chegar na ponta da estrutura com um caminho muito mais rentável, com custo efetivo mais baixo, mas de alto impacto. 

Um dos desafios para seguir carreira de professor ou diretor no Brasil é a remuneração baixa, principalmente para os profissionais da educação pública. Qual é a importância de se promover uma política salarial e de carreira para eles?

Essa é o principal investimento para a educação. Em 2007, uma pesquisa da McKinsey & Company quis investigar o motivo do alto desempenho das escolas asiáticas. A princípio, achava-se que isso tinha a ver com a cultura do país. 

Depois de apurado, o levantamento descobriu que o fator determinante tinha a ver com a valorização da docência. Eram três os motivos: o país recrutava professores que realmente tinham vocação para a sala de aula, os diretores eram muito bem valorizados em suas carreiras, o que fazia com que esses profissionais soubessem identificar e atacar com agilidade os problemas escolares.

Além de remuneração e política de carreira, é essencial que a escola tenha uma infraestrutura para as aulas, alimentação para os alunos, entre outras medidas de apoio logístico. 

No sistema brasileiro, quase metade dos diretores consegue o cargo por indicação política. O quanto isso pesa para a educação dos alunos?

Muito. É imprescindível que se tenha um sistema especializado de seleção para todas as esferas educacionais.

Um dos pontos que sua pesquisa aborda envolve a autonomia desse diretor em relação a seus professores. No Brasil, por exemplo, se contrata por concurso e não tem quem demita...

Se o objetivo é que se tenha um diretor e uma equipe engajados, é necessário que ele participe de todo o processo seletivo. Não precisa ser ele o responsável pela escolha, porque isso pode ser um tanto quanto autoritário. Mas fazer parte de um conselho é uma alternativa muito positiva para que o gestor escolar conheça seus profissionais.

Em um sistema escolar positivo, quem daria, então, suporte aos diretores, uma vez que eles são o suporte dos professores?

Ter uma rede regional, estadual e federal é muito importante. Hoje se encaram as escolas como se elas fossem uma só, mas é preciso vê-las como um sistema. Por isso a importância das várias instâncias. 

O Brasil é tão diferente, que não dá para aplicar a mesma educação para quem mora no Nordeste e para quem vive no Rio Grande do Sul. Essas regionais auxiliam nessa investida cultural e, para isso, é necessário que o trabalho do diretor seja bem feito.

Quais as lições que o Brasil pode tirar de seu estudo sobre a importância dos diretores?

Para começar, todos os países da América Latina, principalmente o Brasil, devem ver esse viés da educação como um investimento, um potencial. Os diretores são um recurso de alto potencial pouco utilizado.

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