Ameaçada pelo impeachment: a presidente Dilma Rousseff determinou aos ministros responsáveis pela articulação política que entreguem os postos aos partidos aliados, ainda que isso implique em mais sacrifício ao PT (Mike Segar/Reuters)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2015 às 08h58.
Brasília - Convencida de que o momento é grave, de que a ameaça de abertura de um processo de impeachment está colocada e de que só conseguirá garantir a governabilidade se abrir cargos também no segundo e terceiro escalões, a presidente Dilma Rousseff determinou aos ministros responsáveis pela articulação política que entreguem os postos aos partidos aliados, ainda que isso implique em mais sacrifício ao PT, que já perdeu espaço nos ministérios.
As negociações serão conduzidas pelo ministro Jaques Wagner, novo titular da Casa Civil.
"O PT vai ter de entender o momento grave e a necessidade de governar em parceria, repartindo espaço com os demais partidos da base aliada", disse ao Estado um dos interlocutores da presidente.
Esse mesmo interlocutor lembrou que Dilma foi clara e incisiva ao defender a necessidade de abertura do diálogo com os partidos e avisou que todos os ministros têm de reservar horários em suas agendas para atender os parlamentares. "Esta tem de ser uma regra", insistiu o interlocutor.
O governo tem pressa nesta sinalização, para que todos os aliados tenham certeza de que os compromissos assumidos durante a negociação da reforma ministerial serão cumpridos.
Por isso, a coordenação política está agilizando para que, no início da próxima semana, já tenha dados concretos para serem apresentados, criando um clima de mais tranquilidade. A liberação de emendas também é outra exigência dos partidos, que o Planalto sabe que terá de atender.
O PDT, por exemplo, que assumiu o Ministério das Comunicações, já avisou que vai trocar o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro de Oliveira, e obteve o aval do Palácio do Planalto para tirar o cargo do petista.
O mesmo se repetirá no Ministério da Saúde, que também saiu das mãos do PT, e foi para o PMDB. "Na Saúde, nem a secretária executiva do ministro Chioro atendia os parlamentes, fosse recomendado por quem fosse", lembrou um interlocutor do Planalto, ao se referir a um dos casos mais clássicos de problemas com a base aliada.
A Saúde, com bilionário orçamento, saiu das mãos do petista Arthur Chioro e foi para as mãos do peemedebista Marcelo Castro. Apesar da blindagem que o PT fez na pasta e da resistência em entregar os cargos, o PMDB já colocou seus "tanques" nos corredores para abrir passagem e vários secretários já começaram a ser trocados e estão desocupando suas salas.
Entraves
Neste momento, a promessa é que muitos outros entraves sejam solucionados para resolver problemas com outros partidos também.
O PTB, por exemplo, reclama que não conseguiu receber os cargos do Incra e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prometidos, e cujas nomeações estavam embarreiradas.
Aguardam ainda a liberação da Superintendência de Seguros Privados (Susep), da Casa da Moeda e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). O PRB, partido que ocupa o Ministério dos Esportes, com George Hilton, ameaça se rebelar se o PC do B não abrir espaço nos segundo e terceiros escalões para o seu partido ocupe o espaço. A promessa é de o Planalto arbitrar a favor de Hilton.
Da mesma forma, o PP se queixa que não conseguiu assumir, de fato, ainda o Ministério da Integração. E o PSD, por sua vez, reclama que as Cida des não foram entregues a eles, de fato, apesar de Gilberto Kassab estar no posto desde janeiro.
Nem mesmo nomeações para as quais havia acordo político, como do Banco da Amazônia (Basa) e Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), estão paradas, assim como algumas vice-presidências da Caixa Econômica Federal.
Um problema que o Planalto vai ter de enfrentar e já foi avisado, é em relação ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), que a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, resiste em entregar nas mãos dos partidos políticos, apesar de acertos políticos para isso.
A ordem agora é destravar as nomeações de segundo e terceiros escalões e acabar o que muitos atribuem ao "passivo Mercadante", sugerindo que o ex-ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante, agora na pasta da Educação, por ser muito minucioso, acabava travando todas as indicações.