Presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), em entrevista coletiva em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2014 às 17h48.
Brasília - O segundo turno é como uma corrida de tiro curto em que a arrancada é fundamental para definir a prova, e a largada de Dilma Rousseff (PT) foi bem pior do que a do seu adversário, Aécio Neves (PSDB), sobrando praticamente só duas semanas para a presidente recuperar seu favoritismo.
Desde segunda-feira, um embalado Aécio recebeu apoios partidários importantes para a sua campanha, enquanto Dilma não ganhou nenhum novo apoio formal de partidos.
Além disso, o tucano passou à frente da petista numericamente pela primeira vez nesta corrida presidencial.
De quebra, Aécio ganhou mais um trunfo contra o governo quando a Justiça Federal passou a divulgar áudios do depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa em que denuncia um suposto esquema de corrupção na estatal que abasteceu os cofres do PT, PP e PMDB.
Esse cenário tornou a semana da largada após o primeiro turno perdida para Dilma. Restam agora 15 dias para que ela se recupere e vença essa onda pró-Aécio além dos obstáculos que já estavam postos desde o início da campanha.
"Foi uma arrancada ruim para a Dilma, os ventos estão a favor do Aécio", disse à Reuters o cientista político Benedito Tadeu Cesar, do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais (Inpro), acrescentando que as denúncias da Petrobras devem "trazer problemas" para a campanha petista.
Essa avaliação não é apenas de quem está fora da campanha. Quem está envolvido pela reeleição de Dilma também sentiu o golpe da péssima arrancada.
Um dos integrantes do comitê de reeleição da presidente traçou um panorama bem pessimista para as próximas semanas.
"A tendência é que piore nos próximos dias, porque a denúncia de corrupção na Petrobras vai ganhar mais espaço no noticiário, pode ser usada no programa de TV do Aécio e a imagem de corrupção associada ao PT torna as coisas ainda mais difíceis para ela", avaliou essa fonte, sob condição de anonimato.
Antes da denúncia, a campanha petista tinha um roteiro que considerava eficaz para vencer a eleição contra o PSDB, mesmo que a disputa fosse dura.
"Tinha o caminho da desconstrução do Aécio, da farsa do governo de Minas Gerais, da comparação de projetos com o PSDB, a campanha do medo da volta ao passado e a mobilização do PT, que contra os tucanos tem mais força", disse a fonte da campanha, acrescentando que essa era a estratégia antes de surgir o depoimento formal de Costa à Justiça Federal.
Um petista ouvido pela Reuters afirmou que a expectativa é que a rejeição à presidente cresça nos próximos dias por causa do escândalo da Petrobras, que agora não pode mais ser atribuído apenas a uma especulação de veículos da imprensa.
Ainda que Dilma tenha uma imagem boa entre o eleitorado em relação à corrupção, disse o membro da campanha, o fardo está ficando muito pesado.
"As pessoas acreditam que a Dilma não é corrupta e nem tolera corrupção, mas ela tem uma âncora muito pesada para carregar que anula um pouco essa avaliação, que é o PT", disse a fonte da campanha.
Mesmo o poder eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fica limitado na situação atual, avaliou essa fonte.
Para o petista, que também falou sob condição de anonimato, a denúncia da Petrobras colabora para limitar a conquista dos votos necessários para vencer no segundo turno. Só não é possível avaliar ainda quão forte será o impacto disso.
Nos próximos dias, Aécio continuará a ter notícias positivas a seu favor. No final de semana irá a Pernambuco, quando receberá o apoio da viúva de Eduardo Campos, Renata. E a terceira colocada no primeiro turno, Marina Silva (PSB), pode anunciar o voto em Aécio em breve.
"A Marina pode se posicionar no final de semana", disse o coordenador da campanha à Reuters, Walter Feldman.
Na votação de domingo, Dilma obteve 41,6 por cento dos votos válidos, ou quase 43,3 milhões, enquanto Aécio teve 33,6 por cento, o equivalente a 34,9 milhões. Marina Silva ficou com 21,3 por cento, pouco mais de 22,1 milhões de votos.
Depende Muito de Dilma
Na avaliação das fontes e do cientista político, as próximas duas semanas dependem muito de como a candidata conseguirá reagir, mais do que o poderio da militância, da força da máquina e da estratégia.
Na próxima terça-feira, haverá o primeiro debate eleitoral na TV, na Band, e esse será um termômetro importante para determinar o rumo da disputa, se ela ficará acirrada ou se Aécio continuará surfando sua onda rumo à vitória.
Em 2010, quando disputou o segundo turno contra José Serra, então candidato do PSDB, Dilma se saiu muito bem nesse primeiro debate e conseguiu determinar o rumo das demais semanas.
O cenário agora é outro, muito mais difícil para ela. O eleitorado está mais dividido e mais inclinado à mudança do que à continuidade.
"Agora, ela também enfrentará um adversário melhor em debates do que o Serra', avaliou a fonte da campanha.
Mas a militância e a máquina podem ajudar Dilma também. Um exemplo da capacidade de mobilização do PT ocorreu nesta semana.
Na terça-feira, uma reunião de petistas de escalões inferiores do governo para a qual eram aguardadas cerca de 100 pessoas na sede do PT atraiu quase 400 petistas com cargos no governo.
O que era para ser um evento num auditório se tornou um comício improvisado nas ruas do setor comercial em Brasília, nos arredores da sede do PT. Muitos desses petistas vão entrar em férias, voltar para suas cidades natais e pedir votos para Dilma.
A campanha também escalou o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, como porta-voz para reforçar o discurso contra o modelo econômico dos tucanos e aprofundar a aposta da disputa pela luta de classes, receita tradicional do PT contra o PSDB.
Para Tadeu Cesar, essa aposta pode ajudar Dilma.
"A Dilma vai ter que centrar fogo no eleitorado com renda mais baixa e escolaridade baixa e conquistar de vez a classe média emergente", disse.
O Imponderável e o Improviso
Fora a mobilização e a força da candidata, há outras apostas na campanha petista, que apontam mais para o desespero.
Nos últimos dias, membros do governo e da campanha cogitaram a possibilidade da presidente anunciar um novo ministro da Fazenda para acalmar o mercado e reconstruir pontes com o setor empresarial, contrariando tudo que a própria Dilma já disse.
Outros chegaram a dizer que ela pretende anunciar um programa de governo, o que evitou fazer durante todo primeiro turno, para confrontar Aécio.
E há até aqueles que imaginam que se houver uma denúncia envolvendo o PSDB ou Aécio isso poderia voltar a desequilibrar o jogo a favor de Dilma.
Assessores presidenciais e integrantes da campanha têm dito que o que mais a presidente precisa a essa altura resume-se em uma palavra: sorte.
Alguns, porém, se ressentem de um erro que não pode mais ser consertado: os ataques a Marina colocaram diante de Dilma um adversário muito mais difícil de vencer.