Dilma Rousseff: presidente teria sido alvo de espionagem por parte da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês) (REUTERS/Nacho Doce)
Da Redação
Publicado em 2 de setembro de 2013 às 16h59.
Brasília - A presidente Dilma Rousseff convocou reunião ministerial de emergência nesta segunda-feira no Palácio do Planalto, após denúncias de que telefonemas, emails e mensagens de celular da presidente teriam sido espionados por uma agência norte-americana.
Dilma realizou duas reuniões nesta manhã, segundo uma fonte do Planalto, que não forneceu mais detalhes. Participaram do primeiro encontro os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e o general José Elito, chefe do Gabinete de Segurança Institucional.
Depois, a presidente conversou com os ministros das Comunicações, Paulo Bernardo, da Defesa, Celso Amorim, e com o chanceler Luiz Alberto Figueiredo. Cardozo também participou dessa reunião, segundo a fonte.
O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, foi chamado mais cedo ao Itamaraty para prestar esclarecimentos sobre as denúncias de monitoramento e reuniu-se com o chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo.
Segundo denúncias feitas no domingo pelo programa "Fantástico", da TV Globo, a presidente teria sido alvo de espionagem por parte da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês). As revelações foram feitas com base em documentos fornecidos pelo ex-prestador de serviço da NSA Edward Snowden ao jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que mora no Rio de Janeiro.
Dilma tem uma visita de Estado a Washington, agendada para outubro, na qual se reunirá com o presidente dos EUA, Barack Obama. A viagem tem como objetivo reforçar uma melhoria nas relações entre Brasil-EUA desde que Dilma tomou posse, em 2011.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que acaba de retornar de uma viagem aos EUA para discutir denúncias anteriores sobre espionagem, disse em entrevista à rádio CBN nesta segunda que, se for confirmado o conteúdo dos documentos, "é uma ofensa clara à soberania brasileira, uma situação que evidentemente ensejará medidas importantes que o governo brasileiro tenha que tomar".
Cardozo viajou na semana passada a Washington e reuniu-se com o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, e outras autoridades, para buscar mais detalhes sobre uma série de revelações anteriores sobre interceptação pelos EUA de dados eletrônicos e de telefonia no Brasil, aparentemente menos sérias, feitas com base nos documentos vazados por Snowden.
Segundo Cardozo, a própria presidente Dilma determinou ao Itamaraty a convocação do embaixador norte-americano para prestar esclarecimentos, e já há uma decisão do governo brasileiro de levar a questão a fóruns internacionais.
O ministro afirmou na entrevista à rádio que os dados apresentados na reportagem do "Fantástico" mostram que o monitoramento, ao contrário da versão oficial do governo dos EUA, "se dá não apenas em situações de investigação de atos ilícitos, mas também em situações de natureza política e talvez até, como se chega a tocar na matéria, em situações de natureza comercial".
Na reportagem de domingo foram exibidos documentos atribuídos à NSA mostrando uma rede de comunicação da presidente com seus principais assessores, mas não foi mostrado o conteúdo das mensagens.
Um documento separado, de junho de 2012, tinha trechos de uma mensagem escrita enviada pelo presidente do México, Enrique Peña Nieto, que ainda era candidato à Presidência à época. Nas mensagens, Peña Nieto discutia nomes para o ministério caso eleito.
Os dois documentos faziam parte de um estudo de caso, chamado "Intelligency filtering your data: Brazil and Mexico case studies", da NSA. Segundo as informações, também publicadas pelo jornal O Globo nesta segunda-feira, no caso do Brasil, os dados poderiam ser filtrados para aumentar o entendimento dos métodos de comunicação de Dilma e de seus principais assessores.
"Parceiros Globais"
Outros documentos vazados por Snowden já havia revelado, em julho, que os EUA realizaram uma série de interceptações de dados eletrônicos e de telefonia no Brasil.
No mês passado, durante visita a Brasília, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, pediu ao Brasil que não deixasse as revelações sobre a espionagem prejudicar os avanços feitos entre as duas maiores economias das Américas em áreas como comércio e diplomacia. Kerry, no entanto, não indicou que os EUA iriam por um fim na vigilância secreta.
O secretário afirmou que o monitoramento feito pela NSA tem como objetivo proteger cidadãos norte-americanos e brasileiros de ataques terroristas.
Os EUA, por meio de um porta-voz da embaixada em Brasília, disseram nesta segunda-feira que os países são "parceiros globais" e que "nosso relacionamento mais amplo continuará vital e avançando".
Os Estados Unidos esperam vender ao Brasil 36 caças F-18, mas uma alta fonte do governo brasileiro disse no mês passado que as chances da companhia norte-americana Boeing ganhar o contrato avaliado em mais de 4 bilhões de dólares foram reduzidas com o escândalo de espionagem.
"Nós valorizamos nosso relacionamento com o Brasil, compreendemos que tem preocupações válidas sobre essas revelações e nós vamos continuar a nos engajar com o governo brasileiro num esforço para tratar dessas preocupações", disse o porta-voz.
O norte-americano Snowden vive atualmente asilado na Rússia. O "Fantástico" disse ter conversado com Snowden via Internet, e acrescentou que ele não pôde comentar sobre o conteúdo da reportagem, porque seu acordo de asilo na Rússia não lhe autoriza a falar sobre os vazamentos.