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Dilma muda líderes mas mantém centralização política

A decisão de substituir os líderes de governo ocorreu menos de uma semana após a presidente ver rejeitada pelos senadores a recondução de Bernardo Figueiredo

A ida de Dilma ao plenário do Senado ocorre no mesmo dia do depoimento do ministro da Fazenda, Guido Mantega, à Comissão de Assuntos Econômicos (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)

A ida de Dilma ao plenário do Senado ocorre no mesmo dia do depoimento do ministro da Fazenda, Guido Mantega, à Comissão de Assuntos Econômicos (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)

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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2012 às 19h52.

São Paulo - As mudanças nas lideranças do Congresso promovidas pela presidente Dilma Rousseff visam uma renovação dos canais de diálogo do Executivo com o Congresso, mas as trocas também trazem novos riscos e não modificam o modelo centralizador da articulação política do governo, segundo fontes ouvidas pela Reuters.

A derrota no Senado com a rejeição da recondução do diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e um manifesto peemedebista crítico ao governo, apoiado por mais de 50 dos 78 deputados do partido, apressaram as mudanças que estavam sendo gestadas, segundo uma fonte do governo, que pediu anonimato.

A decisão de substituir os líderes de governo na Câmara e no Senado ocorreu menos de uma semana após a presidente ver rejeitada pelos senadores a recondução de Bernardo Figueiredo, técnico de sua máxima confiança, à direção-geral da ANTT. O veto no Senado deu à Dilma a certeza de que a articulação política precisava de ajustes. E rápido.

No cronograma inicial da presidente, segundo essa fonte do governo, encontrar uma solução política para os Ministérios do Trabalho e dos Transportes era mais urgente do que a troca de lideranças no Congresso.

Mas, com as votações do Código Florestal e Lei Geral da Copa pautadas na Câmara e o projeto que cria o Fundo Complementar dos Servidores Públicos (Funpresp), no Senado, Dilma avaliou que seria melhor proceder as trocas logo, antes que colhesse uma nova derrota.

No caso do Senado, a presidente conversou com os caciques peemedebistas e tentou costurar um acordo para substituir o senador Romero Jucá (RR) por Eduardo Braga (AM), que é um dos expoentes de uma corrente do partido que não vota sempre com o governo e resistia à liderança do senador Renan Calheiros (AL).


Segundo outra fonte do governo, que também falou sob condição de anonimato, a expectativa da presidente com essa escolha é atrair essa ala do PMDB no Senado e diluir uma parte do controle que Calheiros e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), têm sobre a Casa.

"Ela fez um movimento para alicerçar mais a base. No PMDB há correntes e temos que trabalhar para harmonizar essas correntes", disse o líder da legenda no Senado a jornalistas.

Antes de consumar a troca de Jucá por Braga, Dilma conversou com Temer, Sarney e Calheiros. A gota d'água para a saída de Jucá, segundo uma fonte do Palácio do Planalto, foi a retirada de pauta do projeto que tratava da equiparação salarial entre homens e mulheres no setor privado, que a presidente queria sancionar nesta terça durante sessão solene na Casa em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

Mas, na avaliação de uma fonte ligada ao PMDB, Calheiros sentiu certa desconfiança nos movimentos da presidente, já que ele acalenta o sonho de retornar à presidência do Senado e percebeu na decisão de Dilma uma tentativa de enfraquecer sua articulação.

Essa fonte avaliou ainda que Sarney também não aceitou bem a decisão da presidente, mas que não deve vocalizar discordâncias imediatamente e, provavelmente, escolherá outro momento para demonstrar o desgosto. "Vingança é um prato que se come frio", lembrou a fonte.

Como vacina, o governo já recrutou Jucá para ser o relator do Orçamento para evitar os rumores de que perdeu a confiança no experiente senador, que já foi líder do governo no Senado em mandatos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso.

Câmara

A substituição do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), apesar de acontecer no mesmo momento tem outros elementos que incentivaram a troca. Há tempos a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, mantinha uma relação apenas formal com o petista e por vezes buscou outros interlocutores na Casa para negociar matérias de interesse do governo.

A presidente chegou a ser informada do problema. Agora, aproveitando a precipitação da mudança no Senado e pesando o relacionamento difícil com a ministra, Dilma resolveu trocar o líder na Câmara também.


Para o lugar de Vaccarezza, Dilma escolheu o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que já presidiu a Câmara entre 2007 e 2008 e foi relator do Orçamento no ano passado.

A escolha de Chinaglia é considerada por alguns petistas como um sinal do Palácio do Planalto ao PMDB de que o acordo para a sucessão na presidência da Câmara ainda depende do comportamento do principal aliado.

Dilma considerou que Chinaglia tem bom trânsito na Casa e teria mais força do que Vaccarezza para se contrapor ao líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), quando necessário.

Além disso, Chinaglia foi o principal articulador do primeiro acordo entre PT e PMDB para partilhar o comando da Câmara durante o último mandato de Lula, o que colaborou para a aproximação de Temer e da presidente Dilma Rousseff.

Pressão

A fonte ligada ao PMDB avalia também que a troca das lideranças do governo no Congresso aumenta a pressão sobre a ministra Ideli Salvatti por resultados. Agora, a ministra participou da montagem do time de articulação e não pode mais dizer que os líderes não são da sua confiança.

Essa fonte, porém, acredita que a ministra continuará tendo dificuldades para manejar os interesses do governo no Senado por conta do modelo de articulação montado pela presidente, que é muito fechado e centrado nas decisões do gabinete presidencial.

Dilma não aceita, por exemplo, que outros ministros colaborem na relação com o Congresso com medo de criar interferências que fiquem fora do seu controle.

"Fica tudo entre a ela, a Ideli e a Gleisi (Hoffman, ministra-chefe da Casa Civil)", afirmou a fonte.

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