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Dilma faz 100 dias de governo nas mãos de Levy e do PMDB

Desde que iniciou o segundo mandato, a presidente está isolada, sem conseguir dialogar com os atores econômicos e políticos


	Dilma: "a vida é mais complexa do que parece", costuma repetir
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Dilma: "a vida é mais complexa do que parece", costuma repetir (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Da Redação

Publicado em 10 de abril de 2015 às 07h31.

Brasília - Cem dias completados nesta sexta-feira, 10. Nesse período simbólico de todo início de governo, a presidente Dilma Rousseff não conseguiu criar uma agenda positiva para se contrapor às denúncias de corrupção na Petrobras nem explicar à população por que foi reeleita em outubro passado com um discurso contrário a cortes e apertos e agora governa adotando medidas amargas na economia.

Desde que iniciou o segundo mandato, em janeiro, Dilma está isolada. Sem conseguir dialogar com os atores econômicos e políticos, tornou-se refém de seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy - de uma escola liberal tão atacada por ela durante a campanha -, e de seu principal aliado no Congresso, o PMDB, partido cujos integrantes sempre dizem se sentir "desprezados" pela presidente e por outros petistas.

"A vida é mais complexa do que parece", costuma repetir Dilma aos auxiliares mais próximos.

Com a popularidade em queda - 64% dos brasileiros consideram seu governo ruim ou péssimo - e a base de sustentação parlamentar em frangalhos, a presidente sofre uma derrota atrás da outra no Congresso. Todas elas protagonizadas pelo PMDB, que chefia a Câmara dos Deputados com Eduardo Cunha (RJ) e o Senado com Renan Calheiros (AL).

Os dois peemedebistas - ao lado de outros 33 parlamentares - são alvo da Operação Lava Jato, um dos principais fatores da desestabilização política.

Desde que a dupla passou a ser considerada suspeita oficialmente, com a abertura de inquéritos no Supremo Tribunal Federal, o clima político recrudesceu.

Em pouco mais de três meses de segundo mandato, Dilma já trocou cinco ministros. Além de Cid Gomes, que deixou a pasta de Educação após protagonizar um confronto direto com Cunha na Câmara, saíram Thomas Traumann (Comunicação Social), defenestrado após vazamento de um documento que apontava "caos político" no governo; Pepe Vargas, que foi transferido para Direitos Humanos logo após Dilma ser obrigada a passar a articulação política do governo para o vice Michel Temer; e Marcelo Neri, substituído na Secretaria de Assuntos Estratégicos pelo peemedebista Mangabeira Unger. Ideli Salvatti, que estava nos Direitos Humanos foi a quinta a perder o cargo.

Oposição

"São cem dias de desgoverno", disse na quinta-feira o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), que levou um bolo preto ao plenário com a inscrição "Sem (sic) dias de Dilma 2", acompanhado de duas estrelas vermelhas do PT. "Esse bolo amargo deveria ser servido apenas à bancada do governo", disse Mendonça.

Até dois dias atrás, quando Dilma oficializou seu vice peemedebista no posto de articulador político, quem se destacou na função foi o ministro da Fazenda.

Levy foi obrigado a entrar em cena para negociar com os parlamentares e pedir apoio ao ajuste fiscal que o governo tenta aprovar.

Mas até o PT é contra as medidas, que restringem o acesso de trabalhadores a benefícios como seguro-desemprego e abono salarial.

"Levy tem se esforçado bastante para aprovar as medidas, mas um ministro da Fazenda não pode se expor assim", disse o senador Delcídio Amaral (PT-MS). "A articulação política do governo precisa funcionar."

Nesses cem dias, não foram poucas as queixas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à sua sucessora, que não lhe dá ouvidos. Nos bastidores, até mesmo auxiliares de Dilma dizem que ela não tira a crise de cima da mesa e "o máximo que consegue é encaixá-la na gaveta".

Num cenário marcado por problemas com aliados, nomeações emperradas, inflação alta, "pibinho" e desemprego batendo à porta, a crise política acabou se convertendo no principal fator de incerteza na economia.

Se, por um lado, a chegada de Levy aumentou a confiança de que as contas públicas serão ajustadas, abrindo espaço para a queda dos juros, por outro, as dificuldades de relacionamento do Planalto com o Congresso lançam dúvidas sobre o quanto será possível avançar com os cortes de gastos e aumento das receitas.

É por causa desse ambiente negativo que os investimentos privados - grande aposta do governo para a retomada do crescimento - não deslancham.

Do ponto de vista dos investidores estrangeiros, por exemplo, o momento é favorável para trazer recursos ao Brasil. O dólar chegou a valores astronômicos, ultrapassando, em muito, a marca dos

R$ 3 e a Operação Lava Jato forçou as grandes construtoras e a Petrobras a colocarem ativos à venda. Mesmo assim, muitos optaram pela cautela, à espera de um quadro político mais claro.

Ruas

Dilma, que assumiu com o discurso de que ia defender a Petrobras dos "inimigos externos", foi obrigada a afastar da presidência da estatal sua amiga Graça Foster e viu a empresa entrar em uma crise sem precedentes.

Além dos problemas da economia e da política, Dilma enfrentou apagões, greve de caminhoneiros e uma manifestação contrária a seu governo que reuniu milhares nas ruas do País no dia 15 de março - os protestos devem se repetir no próximo domingo.

No Planalto, a aposta é que - aprovado o ajuste fiscal - a economia começará a reagir até o fim do ano. Assim, os três anos seguintes serão menos tumultuados.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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