Brasília - O desmatamento na Amazônia brasileira aumentou 467% em outubro de 2014 com relação a outubro do ano passado, denunciou nesta segunda-feira a ONG Instituto Imazon, que comparou a área desmatada a mais de 24.000 campos de futebol.
Segundo o Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), da Imazon, o desmatamento nos nove estados amazônicos brasileiros foi de 244 km2. Em outubro do ano passado, a derrubada de árvores somou 43 km2. A SAD realiza suas medições em colaboração com o aplicativo Google Earth.
Sessenta por cento do desmatamento ocorreram em terras privadas ou sob o controle de ocupantes ilegais.
Além disso, entre agosto e outubro de 2014, os três primeiros meses do calendário oficial de medição do desmatamento do novo período, foram derrubados mais de 1.000 quilômetros quadrados de floresta, uma área equivalente à da cidade do Rio de Janeiro.
"Embora os dados não sejam oficiais, o SAD põe em dúvida a eficácia das atuais políticas de prevenção e controle ao desmatamento às vésperas de um evento internacional, que tem como desafio obter compromissos entre os países para reduzir as emissões de gases de efeito estufa", destacou a Imazon em uma nota de imprensa, em alusão à realização da XX Conferência sobre Mudanças Climáticas, que será celebrada em Lima, Peru, entre 1º e 12 de dezembro de 2014.
Para enfrentar o desmatamento da Amazônia, cada vez mais sofisticado, as autoridades brasileiras anunciaram, no começo do mês, a adoção de um novo e refinado sistema de alerta por satélites, assim como uma estratégia mais concentrada no crime organizado.
Após alcançar seu menor nível histórico, o desmatamento na maior floresta tropical do planeta, no período 2012/2013, quando atingiu 5.981 km2 (+29%).
O Brasil conseguiu reduzir o desmatamento, que alcançou 27.000 km2 em 2004, para 4.571 km2 no período 2011/2012, o mínimo histórico.
Os dados oficiais do último período 2013-2014, encerrado em agosto, serão divulgados no final de novembro. Mas dados parciais de detecção por satélite indicam que o desmatamento teria voltado a crescer.
-
1. Uma máquina ambiental magnífica
zoom_out_map
1/6 (Divulgação)
São Paulo – Parte da origem da crise hídrica que assola a região Sudeste pode encontrar-se muito além da visível falta de planejamento do poder público e do mau humor de São Pedro — há mais 2000 quilômetros de distância, no
desmatamento e na degradação da
Amazônia.
É o que sugere um relatório que sintetiza, pela primeira vez, cerca de duzentos dos principais estudos e artigos científicos sobre o papel da
floresta amazônica no sistema climático, na regulação das chuvas e na exportação de serviços ambientais para regiões distantes. Conduzido pelo pesquisador Antonio Donato Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(INPE), a pedido da Articulación Regional Amazónica (ARA), o estudo “O Futuro Climático da Amazônia” revela os poderes invisíveis desta máquina de regulação ambiental, chamada pelos cientistas de “oceano verde”, e os impactos de sua destruição. “As florestas tropicais são muito mais que uma aglomeração de árvores, repositório passivo de biodiversidade ou simples estoque de carbono. Sua tecnologia viva e dinâmica de interação com o ambiente lhes confere poder sobre os elementos, uma capacidade inata e resiliente de condicionamento climático. Elas condicionam o clima que lhes favoreça, e com isso geram estabilidade e conforto, cujo abrigo dá suporte ao florescimento de sociedades humanas”, define Nobre. Como o clima interage com a vegetação, a mudança de um gera efeito no outro. Dessa forma, o ataque implacável da motosserra na floresta é capaz de alterar sobremaneira o mecanismo das chuvas. Sem precipitação, a floresta pega fogo. O fogo consome tudo o que há pela frente, incluindo as árvores grandes, tão necessárias para a manutenção do equilíbrio hidrológico. Segundo o pesquisador, reduzir a zero o desmatamento já não é suficiente para garantir segurança ao sistema. É preciso recuperar tudo aquilo que foi ceifado, o que não é pouco: no Brasil significa uma área de 763 mil Km2, o que equivale a três estados de São Paulo ou a 184 milhões de campos de futebol. Conheça a seguir cinco descobertas importantes para a chamada “ecohidrologia” amazônica, conforme o relatório >
-
2. 1. A floresta jorra volumes colossais de água para a atmosfera
zoom_out_map
2/6 (foto/Getty Images)
O primeiro poder da floresta amazônica é sua capacidade de manter o ar sempre úmido e em movimento, levando chuvas para o interior do continente, em áreas até 3 mil quilômetros distantes dos oceanos. Isso só é possível graças à capacidade inata das árvores de transferir volumes colossais de água do solo para a atmosfera através da transpiração. Segundo a pesquisa, uma árvore grande pode bombear do solo e transpirar mais de mil litros de água num único dia. Considerando a transpiração de todas árvores da bacia amazônica, são 20 bilhões de toneladas de água por dia, ou 20 trilhões de litros! Na ponta do lápis, as árvores jorram para atmosfera mais água do que o rio Amazonas despeja no oceano, cujo volume é estimado em 17 bilhões de toneladas ao dia.
-
3. 2. Ajuda a formar nuvens "carregadas"
zoom_out_map
3/6 (Don Emmert/AFP)
O segundo poder da floresta amazônica na regulação das chuvas é a capacidade de formar nuvens “carregadas” mesmo tendo acima de si ar limpo como a atmosfera dos oceanos. É que, segundo o estudo, as árvores emitem uma espécie de aroma que, numa atmosfera úmida e na presença da radiação solar, formam uma poeira finíssima com afinidade pela água. São os núcleos de condensação das nuvens. Essas sementes de “nucleação” carregadas de vapor provocam as chuvas fartas das nuvens baixas.
-
4. 3. Garante chuva (mesmo em tempo de seca)
zoom_out_map
4/6 (Wev’s Bronw/Creative Commons)
A formidável resistência a condições externas desfavoráveis e a competência em manter o adequado funcionamento do ciclo hidrológico, à despeito de secas, são o terceiro segredo da floresta. Tal capacidade pode ser entendida pela nova teoria da “bomba biótica”. Funciona assim: a transpiração das árvores associada à formação das nuvens e chuvas leva a um rebaixamento da pressão atmosférica sobre a floresta, que suga o ar úmido sobre o oceano para dentro do continente, mantendo as chuvas em quaisquer circunstâncias. Em tempos de seca, segundo o estudo, as árvores grandes e com raízes profundas têm acesso a grande quantidade de água subterrânea. Com essa vantagem, executam um programa para manter ou até mesmo aumentar a transpiração. “Ao contrário, se a floresta for removida, o continente terá muito menos evaporação do que o oceano, com a consequente redução na condensação, o que determinará uma reversão nos fluxos de umidade, que irão da terra para o mar, criando um deserto onde antes havia floresta”, diz a pesquisa.
-
5. 4. Exporta rios aéreos para outras regiões
zoom_out_map
5/6 (Divulgação/ESA/NASA)
A floresta também é extremamente generosa. Ela não guarda toda a umidade para si mesma, exportando vapor d´água para outros países e regiões do Brasil. É este quarto segredo que explica porque a porção meridional da América do Sul, a leste dos Andes, não é desértica, como áreas na mesma latitude, a oeste dos Andes e em outros continentes. Noutras palavras, a Amazônia é a verdadeira cabeceira dos mananciais aéreos da maior parte das chuvas na América do Sul. Devido ao efeito da floresta na movimentação da umidade e também da imensa barreira de 6 km de altura da cordilheira dos Andes, os rios voadores amazônicos fazem curva no Acre e, durante o verão, passam por cima de nossas cabeças carregando umidade para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Essa doação ajuda a garantir equilíbrio hídrico no quadrilátero mais afortunado do país, centro da produção agrícola e industrial, mesmo após a devastação de 90% da Mata Atlântica.
-
6. 5. É um "freio" para eventos extremos
zoom_out_map
6/6 (AFP)
Além de todos os outros serviços que a floresta presta ao clima, ela ainda oferece um seguro contra eventos climáticos extremos, atenuando a concentração de energia nos ventos. Este quinto segredo é a razão pela qual a região amazônica e oceanos próximos não fomentam a ocorrência de fenômenos atmosféricos como furacões e outros eventos climáticos extremos. Segundo o estudo, a atenuação da violência atmosférica tem explicação no efeito dosador, distribuidor e dissipador da energia nos ventos, exercido pelo rugoso dossel florestal (resultado da sobreposição dos galhos e folhas das árvores) e pelo feito da “bomba biótica”. “A vasta cobertura florestal impede concentração de energia dos ventos em vórtices destrutivos, enquanto o esgotamento de humidade atmosférica pela remoção lateral de cima do oceano, priva as tempestades do seu alimento energético (vapor de água) nas regiões oceânicas adjacentes”, explica a pesquisa.