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Desmatamento em áreas indígenas em 2019 é o maior em 11 anos, diz estudo

O desmatamento nas áreas indígenas representa apenas 4,2% do total da perda de floresta na Amazônia

Amazônia: das 10 áreas identificadas como maiores alvos de desmatamento este ano, as seis primeiras ficam no Pará (Ricardo Moraes/Reuters)

Amazônia: das 10 áreas identificadas como maiores alvos de desmatamento este ano, as seis primeiras ficam no Pará (Ricardo Moraes/Reuters)

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Reuters

Publicado em 17 de dezembro de 2019 às 13h48.

Brasília — O desmatamento em áreas indígenas na Amazônia cresceu quase três vezes mais do que na região como um todo entre agosto de 2018 e julho de 2019, com 42,6 mil hectares desmatados, maior número desde o biênio 2007-08, quando os levantamentos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) passou a permitir a análise das áreas de reserva.

Os dados estão em um estudo preparado pela organização não-governamental Instituto Sócioambiental (ISA) com base nos dados do Prodes, sistema do Inpe que monitora por satélite o desmatamento da Amazônia. Em 2019, o Prodes mostrou que o desmatamento geral na Amazônia no mesmo período foi de 9.762 quilômetros quadrados — ou 976,2 mil hectares.

O desmatamento nas áreas indígenas representa apenas 4,2% do total da perda de floresta na Amazônia, mas o levantamento mostra um aumento acentuado no último ano, vindo já de um crescimento considerável entre 2017 e 2018.

Os dados do Prodes permitem a análise do desmatamento em áreas protegidas --reservas indígenas e unidades de conservação-- apenas desde 2008. Os dados deste ano são os maiores desse período.

O desmatamento em áreas indígenas vinha caindo consistentemente desde 2008, quando ficou pouco acima de 30 mil hectares. Em 2014, ponto mais baixo dos últimos 11 anos, ficou pouco acima de 5 mil hectares, mas subiu nos anos seguintes. Em 2017 chegou a 11 mil, mas pulou para quase 25 mil hectares em 2018. Este ano, alcançou o maior valor da série histórica, uma alta de 174% em relação à média entre 2008 e 2018.

De acordo com o estudo, a grilagem de terras, o garimpo ilegal e o roubo de madeira praticados por invasores seguem como os principais vetores do desmatamento nessas áreas, além da abertura de novas áreas para obras de infraestrutura.

Apesar do desmatamento crescente, as reservas indígenas, assim como as unidades de conservação, ainda conseguem manter a maior parte da sua cobertura vegetal intacta.

O ISA analisou 207 de 424 reservas na Amazônia. Nessas, apenas 1,3% dos 78 milhões de hectares foi desmatado e a grande maioria das reservas perdeu menos de 10% das suas florestas nativas. No entanto, 20% já perderam quase metade de sua cobertura florestal e 5% praticamente não a possuem mais.

Das 10 áreas identificadas como maiores alvos de desmatamento este ano, as seis primeiras ficam no Pará, outras duas em Rondônia, uma em Mato Grosso e a 10ª, em Roraima.

Na área de Ituna/Itatá, ao sul de Altamira (PA), o desmatamento chegou a 12 mil hectares entre 2018 e 2019, mais de 600% a mais do que no período anterior. Este ano, fiscais do Ibama encontraram uma pista de pouso de mais de dois quilômetros de extensão, além de construções e árvores já serradas prontas para serem transportadas.

A segunda reserva com maiores problemas de desmatamento, Apyterewa, em São Félix do Xingu (PA), teve um crescimento de 333% no desmatamento. No início deste ano, o governo federal chegou a enviar homens da Força Nacional de Segurança para retirar invasores da terra indígena.

Na semana passada, mais um líder indígena da etnia Guajajara, conhecida por proteger a floresta de invasores, foi assassinado no Maranhão. Este ano, sete líderes indígenas foram mortos. Segundo a Comissão Pastoral da Terra, o maior número em 11 anos.

Ambientalistas criticam o governo do presidente Jair Bolsonaro e apontam o discurso adotado por ele de defesa de uma maior exploração econômica da Amazônia como um dos responsáveis pela alta do desmatamento da floresta.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também é alvo de críticas pelo que organizações não-governamentais e também representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) classificam de desmonte de mecanismos de fiscalização na área ambiental.

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