(Antonio Augusto/SCO/STF/Flickr)
Agência de notícias
Publicado em 14 de outubro de 2025 às 07h40.
O Supremo Tribunal Federal (STF) começa a julgar na manhã desta terça-feira, 14, o núcleo quatro da trama golpista, acusado de espalhar desinformação para atrapalhar a eleição de 2022. A Corte reservou seis sessões — que ocorrerão até o dia 22 de outubro — para o julgamento dos sete réus do grupo.
Em setembro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou a condenação de todos os membros do núcleo pelos cinco crimes pelos quais são acusados. As defesas, por sua vez, pedem a absolvição.
Fazem parte deste núcleo o ex-major do Exército Ailton Barros, o sargento Giancarlo Rodrigues, o policial federal Marcelo Bormevet, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, o tenente-coronel Guilherme Marques Almeida, o major da reserva Angelo Denicoli e o engenheiro Carlos Rocha.
A denúncia afirma que os sete integrantes do chamado núcleo quatro da trama golpista agiram de forma coordenada com o núcleo central. Segundo o procurador-geral da República, Paulo Gonet, os membros desse grupo "propagaram notícias falsas sobre o processo eleitoral e realizaram ataques virtuais a instituições e autoridades que ameaçavam os interesses do grupo".
A PGR pede ao tribunal que os envolvidos sejam condenados pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Ailton Barros
Segundo a denúncia, Ailton Barros teria participado de ataques contra os então comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, por eles não terem aderido ao plano golpista.
Em depoimento ao STF em julho, o ex-major afirmou que entendeu os pedidos do general Braga Netto de ataques aos comandantes das Forças Armadas como “choradeira de perdedor de campanha”. No inquérito, consta que Ailton enviou a Braga Netto uma captura de tela com uma mensagem enviada ao general Freire Gomes, então comandante do Exército, em que o texto pedia uma ação por parte dos militares. “Ou você toma uma ATITUDE de PATRIOTA urgentemente ou todos nós MILITARES amargaremos pelo resto de nossas vidas a marca da DESONRA, da COVARDIA e seremos considerados TRAIDORES da PÁTRIA!”, diz um trecho.
Agora ao STF, Ailton afirma que não possui relação alguma com Braga Netto e que só manteve conversas com ele por interesse de apoio político em eleições no Rio de Janeiro. Em 2022, ele foi candidato a deputado estadual.
"Ele não é meu amigo, não é meu colega. Nunca tive oportunidades de conversar com ele" disse. O ex-major afirmou que começou a ter “contatos visuais” com Braga Netto a partir do primeiro turno de 2022, quando disputou a eleição. Ailton contou que chegou a pedir ao general que gravasse um vídeo de campanha para ele, mas o então candidato a vice-presidente negou alegando motivos particulares.
O ex-major disse, ainda, que a primeira mensagem que enviou a Braga Netto foi enviada de maneira equivocada. No entanto, para buscar se aproximar dele, não quis contrariá-lo, e por isso mandou uma resposta falando em entregar a cabeça de Freire Gomes “aos leões”. “Vamos oferecer a cabeça dele aos leões”, escreveu Ailton na época.
Giancarlo Rodrigues e Marcelo Bormevet
Já Giancarlo Rodrigues e Marcelo Bormevet trabalharam na Abin durante a gestão do hoje deputado Alexandre Ramagem, que foi condenado pela participação no núcleo central. Eles são acusados de promover desinformação contra opositores. Segundo a denúncia, ambos os réus integravam a estrutura da Abin Paralela e utilizaram informações falsas para atacar o sistema de votação eleitoral.
As investigações envolvendo o caso da "Abin paralela" no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro tiveram início após o GLOBO revelar, em março do ano passado, a compra de um sistema espião pela Agência Brasileira de Inteligência para monitorar a localização de alvos pré-determinados em todo o país.
Segundo a denúncia, Bormevet teria orientado Rodrigues a divulgar falsas alegações contra ministros da Corte: Luiz Fux e Luís Roberto Barroso. Ele teria insistido na busca de supostos vínculos comprometedores contra o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Já Rodrigues, segundo a PGR, divulgou compartilhou prints de posts no X com ataques e desinformações, inclusive contra membros da Corte.
A defesa de Rodrigues afirmou que a relação dele com Bormevet foi apenas profissional, enquanto os advogados do policial federal negaram a relação entre as atividades dele e o suposto plano de golpe.
Reginaldo Vieira de Abreu, Guilherme Marques Almeida, Angelo Denicoli e Carlos Rocha
O coronel Reginaldo Vieira de Abreu, o tenente-coronel Guilherme Marques Almeida e o major da reserva Angelo Denicoli teriam ajudado a divulgar informações falsas sobre as urnas. A mesma suspeita ocorre contra Carlos Rocha, presidente do Instituto Voto Legal, organização contratada pelo PL e que ajudou a embasar uma ação do partido pedindo anulação de parte dos votos.