Banco Central: atual chefe da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, por exemplo, pode ficar no cargo até o final de 2024 (Agência Brasil/Reprodução)
Agência de notícias
Publicado em 15 de fevereiro de 2023 às 18h46.
Última atualização em 15 de fevereiro de 2023 às 19h08.
O deputado Jonas Donizette (PSB-SP), que faz parte da base aliada do governo, protocolou um projeto de lei na Câmara que altera o início do mandato do presidente do Banco Central para o dia 1º de maio do primeiro ano do mandato de cada presidente da República.
A mudança permitiria ao chefe do Executivo indicar um novo presidente da autoridade monetária logo no começo de seu governo para, segundo o parlamentar, "evitar desentendimentos" que geram instabilidade, em referência às recentes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao nível da taxa básica de juro do País, a Selic, mantida em 13,75% na reunião mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom).
Pela lei de autonomia do BC, aprovada no Congresso em 2021, o mandato do presidente da autarquia, que é de quatro anos, não coincide com o do presidente da República. O atual chefe da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, por exemplo, pode ficar no cargo até o final de 2024. Ele foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na justificativa do projeto, protocolado nesta terça-feira, 14, no sistema da Câmara, Donizette admite que o que se buscava, na ocasião, era blindar o BC de intervenção política, mas argumenta que há, hoje, inúmeras discussões a respeito desse dispositivo.
"O objetivo desse Projeto de Lei é sanar essa discussão, alterando o início do mandato do presidente do Banco Central para o dia 1º de maio do primeiro ano do mandato presidencial, para que possa haver uma escolha do presidente do Banco Central que considere a visão econômica do presidente da República, evitando, dessa forma os inúmeros desentendimentos entre eles que prejudicam em última análise o povo brasileiro, pois gera uma grande instabilidade no país", defende o deputado do PSB.
Em evento do BTG Pactual nesta quarta, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), voltou a afirmar que não vê no Congresso nenhuma possibilidade de mudança em relação à autonomia do Banco Central. Em meio às críticas de governistas à autoridade monetária, o deputado disse acreditar que Lula e Campos Neto "são duas pessoas que vão saber dialogar".
Na visão de Lira, as tratativas públicas sobre a política monetária não ajudam a economia. "A gente precisa trazer esse debate para o bastidor, ajustar o que precisa ajustar", afirmou. Ontem, o PT lançou na Câmara uma frente parlamentar "contra juros abusivos". O ato político, coordenado pelo deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), contou com a presença da presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, e teve críticas à atuação do BC.
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Campos Neto disse na segunda-feira, 13, que fará tudo o que estiver a seu alcance para aproximar o BC do governo. No mesmo dia, durante ato político em comemoração ao aniversário do PT, Lula evitou críticas à autoridade monetária. A ofensiva contra o nível da taxa básica de juro, atualmente em 13,75%, foi terceirizada para atores políticos como Gleisi.