Youssef: o benefício decorre do acordo de colaboração premiada que fechou com a força-tarefa do MPF (Rodolfo Buhrer/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 17 de março de 2017 às 14h15.
São Paulo - Três anos depois de ser preso pela Operação Lava Jato, Alberto Youssef conseguiu nesta sexta-feira, 17, o direito de voltar para as ruas.
O doleiro, acusado de ser o principal operador de propinas no bilionário esquema de corrupção na Petrobras, conseguiu a progressão de regime de cumprimento de pena e pode agora deixar seu apartamento, em São Paulo, onde cumpria prisão domiciliar.
O benefício decorre do acordo de colaboração premiada que fechou com a força-tarefa do Ministério Público Federal.
O doleiro, no entanto, terá que permanecer com tornozeleira eletrônica e algumas restrições: recolhimento domiciliar noturno, entre as 20:00 e as 06:00 do dia seguinte; recolhimento domiciliar integral nos feriados e finais de semana; vigilância eletrônica por tornozeleira nos períodos de recolhimento domiciliar; proibição de mudar-se de endereço ou de viagem ao exterior sem autorização do Juízo; proibição de viagens para fora da cidade de seu domicílio sem autorização do Juízo; apresentação de relatórios semestrais por escrito a fim de esclarecer suas atividades.
A ordem é do juiz federal Sérgio Moro, dos processos da Lava Jato, em Curitiba. O criminalista Antonio Figueiredo Basto, defensor de Youssef, vai recorrer da decisão de manutenção da tornozeleira eletrônica. Ele deve apresentar uma reclamação no Supremo Tribunal Federal (STF).
"Alberto Youssef foi condenado por diversos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Deveria permanecer preso por vários anos considerando sua elevada culpabilidade. Entretanto, forçoso reconhecer que colaborou significativamente com a elucidação de vários casos criminais no âmbito da assim chamada Operação Lava Jato e igualmente para outras investigações criminais", escreveu Moro, em decisão , desta sexta, 17.
"Além de confessar a sua culpa, renunciou seus direitos sobre patrimônio considerável conforme descrição contida nas cláusulas 7ª e 8ª do acordo, o que permitiu a recuperação de parte do produto do crime que lhe foi direcionado, espera-se que tudo, com a indenização da vítima. Assim, natural que, apesar de sua culpabilidade, receba benefícios", escreveu Moro.
Youssef deixou a cela de 12 metros quadrados, em que passou 2 anos e 8 meses de sua vida, em 17 de novembro de 2016. Dono da mais complexa e sofisticada lavanderia de dinheiro, a serviço de empreiteiras, partidos, agentes públicos e políticos envolvidos no esquema Petrobras, Youssef cumpriu mais 4 meses de prisão domiciliar.
O direito à liberdade foi o prêmio obtido pelo doleiro, em troca da confissão de culpa nos crimes contra a Petrobras e da entrega de provas de novos delitos, ainda desconhecidos da força-tarefa da Lava Jato. Pelo acordo, fechado em setembro de 2014, sua pena máxima de prisão ficou limitada a 3 anos.
Junto com o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, Youssef foi o primeiro delator da Lava Jato. Os dois confessaram à Justiça serem braços do PP no esquema de arrecadação de propinas na Petrobrás.
A partir das confissões de Youssef e Paulo Roberto Costa - que também deixou a cadeia, no último mês -, a Lava Jato tomou nova proporção.
São mais de 80 condenados, penas que somadas ultrapassam 1 mil anos de prisão, mais de R$ 6,4 bilhões em propinas e a descoberta que corrupção era a "regra do jogo" em todos os contratos do governo.
Braço direito do deputado federal José Janene (morto em 2010) - o ex-líder do PP que deu origem à Operação Lava Jato -, Youssef foi alvo principal da primeira fase das investigações, deflagrada em 17 de março de 2014, e preso na data.
Aos 49 anos, com problemas do coração - chegou a ser internado duas vezes durante o período de cárcere -, Youssef mora atualmente em São Paulo, em um novo apartamento, de pouco mais de 50 metros quadrados.
O prédio, no entanto, fica num dos metros quadrados mais caros da cidade, o bairro Vila Nova Conceição. Boa parte de sua fortuna levantada com a vida de crimes, como imóveis, carros e outros bens, foi perdida com a Lava Jato.