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Depoimento na Itália cita propina da Odebrecht

As declarações reforçaram que o italiano Valter Lavitola intermediou o pagamento de propinas pagas pela empresa brasileira pela obra do metrô no Panamá


	Odebrecht: a empresa destaca que "o Consórcio Línea Uno, no qual a Odebrecht faz parte, disputou legitimamente a licitação"
 (Paulo Fridman/Bloomberg)

Odebrecht: a empresa destaca que "o Consórcio Línea Uno, no qual a Odebrecht faz parte, disputou legitimamente a licitação" (Paulo Fridman/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 17 de março de 2015 às 09h54.

Genebra - Depoimentos feitos à Justiça italiana mencionam o suposto pagamento de propinas da Odebrecht no Panamá para garantir um contrato público.

As declarações reforçaram que o italiano Valter Lavitola intermediou o pagamento dessas propinas pagas pela empresa brasileira pela obra do metrô daquele país.

Lavitola falou do envolvimento da empresa brasileira ao repórter espanhol Joan Solés, numa declaração que acabou se transformando em um dos elementos do processo contra o italiano.

A entrevista, publicada no Panamá nos dias seguintes ao encontro, levou a Justiça italiana a convocar o jornalista para depor.

As declarações de Lavitola tornaram-se evidências contra ele mesmo no processo que corre em Nápoles e reforçaram a suspeita de participação da Odebrecht no esquema.

A revelação faz parte dos autos do julgamento que corre na Itália, foi aceita pelo Tribunal de Nápoles e não foi questionada por Lavitola.

No domingo, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que a Procuradoria Antimáfia da Itália abriu investigação contra a Odebrecht num caso de corrupção no metrô do Panamá.

Ela seria uma de muitas empresas envolvidas no esquema supostamente criado pelo ex-presidente do país Ricardo Martinelli.

Por se tratar de uma operação da Antimáfia, o caso corre em sigilo, segundo informaram fontes ligadas ao processo. Nesse sistema, nem os investigados são informados.

Lavitola, na verdade, é o grande alvo das investigações. Provar que ele recolhia as propinas, de quem quer que seja, é a meta maior da divisão Antimáfia.

Na apuração do caso, porém, as autoridades se depararam com a Odebrecht. Em nota ao jornal O Estado a Odebrecht declarou que "desconhece qualquer investigação relacionada à obra do metrô do Panamá".

Também ressaltou que "nega veementemente que tenha feito o pagamento de suposta propina para Valter Lavitola".

A empresa destaca que "o Consórcio Línea Uno, no qual a Odebrecht faz parte, disputou legitimamente a licitação, de acordo com as regras do edital, e foi declarado vencedor por obter pontuação superior ao consórcio concorrente".

Entrevista

A entrevista de Lavitola a Solés foi feita no dia 19 de junho de 2013. O italiano o recebeu em sua casa, em Roma, enquanto estava em prisão preventiva domiciliar.

Naquele mesmo ano, o jornalista foi convocado a prestar depoimento e narrou todos os detalhes da conversa.

No dia 26 de outubro de 2013, Solés declararia à Justiça italiana como encontrou com Lavitola e como ele narrou, numa conversa que durou cinco horas, que o esquema não incluía apenas empresas italianas no pagamento de propinas.

"Ele (Lavitola) fez referência à parte mais importante daquela renda, que vinha de uma propina do contrato da Metropolitana do Panamá (o metrô) a uma empresa do Brasil", disse o jornalista diante da Justiça. A empresa brasileira que venceu a licitação foi a Odebrecht.

O Ministério Público reforçou a pergunta, para saber se Lavitola teria dito que era intermediário "não apenas de empresas italianas, mas também do Brasil. A resposta foi: "Sim".

"E qual era a consequência disso?", questionou a Justiça. Em sua resposta, Solés apontou que o italiano declarou que "conhecia todo o dinheiro que confluía a essas contas cifradas em um paraíso fiscal".

Em outro trecho, o repórter relata que Lavitola havia dito que "o contrato (do metrô) foi concedido aos brasileiros por um preço muito superior". "E falamos dos desvios de propinas a contas correntes cifradas", relatou.

"Acredito que ele (Lavitola) tenha dito que US$ 300 milhões correspondiam à propina do metro", declarou aos juízes. Segundo uma transcrição da conversa, Lavitola declarou que, "em quatro anos, muito havia vindo do Brasil, do metrô".

E mencionou que "teriam US$ 850 milhões ou US$ 900 milhões em contas bancárias cifradas". Lavitola admitiu que organizava o pagamento das propinas e direcionava os valores a paraísos fiscais. Vinte por cento do dinheiro ficava com ele pelos serviços.

A declaração foi aceita pelo tribunal que, em fevereiro, condenou Lavitola. Colaborou Alexa Salomão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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