Brasil

Depoimento de delegado complica situação de Bola

Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, é acusado de assassinar e desaparecer com o corpo de Eliza Samudio a mando do goleiro Bruno


	O ex-goleiro do Flamengo, Bruno Souza, foi condenado a 22,3 anos de prisão por mandar assassinar Eliza Samudio. Marcos Aparecido dos Santos, o Bola seria o executor do crime
 (REUTERS / Pedro Vilela)

O ex-goleiro do Flamengo, Bruno Souza, foi condenado a 22,3 anos de prisão por mandar assassinar Eliza Samudio. Marcos Aparecido dos Santos, o Bola seria o executor do crime (REUTERS / Pedro Vilela)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de abril de 2013 às 22h18.

Contagem - O julgamento do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de assassinar e desaparecer com o corpo de Eliza Samudio, entra nesta quarta-feira, 24, em seu terceiro dia sem previsão de término em função da estratégia adotada pela defesa de prolongar ao máximo os interrogatórios. Nesta terça-feira, 23, os trabalhos foram abertos pouco depois das 9 horas, com o depoimento do preso Jailson Alves, ex-colega de penitenciária de Bola.

Porém, foi no mais rápido e último dos três depoimento do dia, o do delegado corregedor Renato Teixeira, que Bola mais se complicou. Teixeira havia sido dispensado pelos próprios defensores que o arrolaram, mas foi interrogado por volta de 18h30 a pedido dos jurados. Perguntado pelo promotor Henry Vasconcellos se sabia quem é Marcos Aparecido, o corregedor afirmou que ele consta como réu no inquérito que investiga o desaparecimento de dois homens na região de Vespasiano, em Minas Gerais, junto com mais três policiais.

Segundo Teixeira, testemunhas relataram que as vítimas foram vistas pela última vez nas proximidades do sítio de Bola, onde o ex-policial dava treinamentos para membros do Grupo de Resposta Especial (GRE) da Polícia Civil mineira. O GRE foi criado em 2005 e extinto em 2009 em meio a brigas internas e uma enxurrada de denúncias de corrupção e outras ilegalidades, inclusive a de atuação como de grupo de extermínio. O promotor questionou por que Bola foi expulso da polícia. Ele respondeu que "por falta de idoneidade moral".

Confissão

Arrolado pelo Ministério Público, Jailson da Silva reafirmou ao conselho de jurados ter ouvido de Bola na prisão a confissão do crime. Segundo a testemunha, o ex-policial, "que assistia direto o noticiário sobre o caso" na cela dele, revelou a ele ter matado a amante de Bruno Fernandes, queimado seu corpo junto a pneus e jogado suas cinzas em uma lagoa. Jailson também reafirmou ter sido vítima de ameaças de pessoas que segundo ele seriam ligadas ao réu. Uma delas teria sido feita pelos policiais civis José Lauriano e Gilson Costa em uma sala do Departamento de Homicídios. Os dois são investigados pelo Ministério Público por suposto envolvimento na morte de Eliza.

Sua mulher também estaria recebendo telefonemas ameaçadores de homens não identificados. O objetivo, conforme o preso, seria pressionar Jailson a retirar sua versão sobre o crime, o que ele não fez. "Acredito que o diabo está orando, pedindo a Deus para ele (Marcos Aparecido) não tomar o lugar dele", afirmou Jailson.


O interrogatório do ex-colega de penitenciária de Bola durou pouco mais de quatro horas. O advogado de defesa, Ércio Quaresma, tentou ao máximo desqualificá-lo, chamando-o de "delinquente contumaz" e protocolando pedido de abertura de processo por falso testemunho. Além de indeferir o pedido, a juíza Marixa Rodrigues repreendeu Quaresma várias vezes.

Testemunha

Quando a segunda testemunha do dia, o deputado estadual Durval Ângelo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de Minas, começou a falar, a expressão de Bola mudou. O réu foi ficando mais sério à medida em que o depoimento de Durval detalhava as denúncias recebidas pela comissão envolvendo o GRE.

Em uma dessas denúncias, a de que o GRE atuava como grupo de extermínio, Durval confirmou ter ouvido de várias testemunhas que Bola estava envolvido no assassinato de dois homens. A exemplo do que ocorreria com Eliza em 2010, os corpos dos policiais nunca apareceram. Teriam sido queimado no 'modus operandi microondas', em pneus. Bola, Gilson Costa e outros dois policiais são réus no processo que apura o crime.

O deputado contou que, durante a crise interna no GRE, um dos policiais que seria líder do grupo denunciou a ele que os dois colegas foram "barbaramente torturados e atiçaram cães ferozes neles. Tiveram mordidas no corpo todo dilacerado. Depois disso fizeram microondas com eles. Foram colocados dentro de pneus e atearam fogo. Então eles ficaram queimando até virarem cinzas, exceto as nádegas de um deles", relatou Durval. Embora o policial não tenha citado Bola, outras testemunhas apontaram Marcos Aparecido como envolvido na trama.

Para o assistente da acusação, José Arteiro, a própria defesa se derruba na medida em que aprofunda os questionamentos. "A defesa caiu na hora em que o Quaresma perguntou ao Durval se ele tinha conhecimento da presença do Bola nas denúncias e ele consentiu". Para o defensor Quaresma, no entanto, tudo o que foi dito nesta terça pelas testemunhas já consta nos autos. "Não houve novidades", afirmou.

Acompanhe tudo sobre:CrimeEsportesJogadores de futebolMortes

Mais de Brasil

Haddad: pacote de medidas de corte de gastos está pronto e será divulgado nesta semana

Dino determina que cemitérios cobrem valores anteriores à privatização

STF forma maioria para permitir símbolos religiosos em prédios públicos

Governadores do Sul e do Sudeste criticam PEC da Segurança Pública proposta por governo Lula