Crime sexual: a perícia das imagens já concluiu que havia pelo menos quatro homens no local, que devem ser indiciados por estupro (Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2016 às 17h37.
Rio de Janeiro - O promotor Marcio Nobre, que acompanha o inquérito policial sobre o estupro coletivo da adolescente de 16 anos, disse nesta terça-feira, 7, ao jornal O Estado de S. Paulo considerar que o caso está "praticamente concluído".
Ele afirmou não acreditar que seja difícil individualizar a conduta de cada um dos envolvidos, como se supunha no começo das investigações, dada a possibilidade de haver muitas pessoas na cena do crime, e espera apresentar a denúncia nas próximas três semanas.
"É possível que não tenham sido 33 (a vítima disse à Polícia Civil que 33 homens a estupraram), mas não descarto haver mais gente. Provavelmente, isso vai ser objeto de novas investigações", disse Nobre, da Promotoria de Investigação Penal.
O promotor planeja formular a cronologia exata dos fatos, desde que a adolescente saiu do baile funk, no Morro da Barão, zona oeste do Rio, na manhã de 21 de maio, sábado, até a gravação do vídeo na noite do dia seguinte. As imagens a mostram nua e desacordada. É humilhada e tem as partes íntimas tocadas.
A perícia das imagens já concluiu, segundo a Delegacia de Proteção à Criança e à Adolescente Vítima (DCAV), que havia pelo menos quatro homens no local, que devem ser indiciados por estupro. Os peritos se basearam nas diferentes vozes masculinas identificadas.
Os acusados de estupro seriam o lutador Raí de Souza, de 22 anos, já preso, que diz ter feito sexo consentido com a jovem; o dono de lava-jato Raphael Duarte Bello, de 41, também preso, que fez selfie junto ao corpo nu da vítima e a teria tocado; e o traficante conhecido como Jefinho ou Perninha, foragido.
A polícia suspeita que o quarto seja o traficante Moisés Lucena, o Canário, reconhecido pela jovem como o homem que a segurou durante o estupro. Também está foragido o traficante Sérgio Luiz da Silva Júnior, o Da Russa, que controla a venda de drogas na favela.
Os foragidos Michel Brasil da Silva e Marcelo Miranda da Cruz Correa são acusados terem divulgado o vídeo da menina desacordada nas redes sociais. Eles não moram no morro e não teriam participado do estupro.
A situação de Souza se agravou com a descoberta de que o chinelo preto usado por ele no dia 30, quando de sua prisão, pode ser o mesmo que aparece na filmagem, assim como uma bermuda vista no vídeo, que ele também vestia no dia 30, quando foi preso.
A suspeita é de que Souza esteja mentindo quando se exime de responsabilidade pelo estupro coletivo. Peritos estão analisando o formato do pé dele e do que aparece na cena, assim como detalhes do chinelo.
Além do crime de estupro de menor de idade, que pode resultar em pena de até 12 anos de prisão, será incluído na denúncia do Ministério Público o de produção e divulgação de imagem pornográfica envolvendo adolescente, cuja pena é de até oito anos.
A apologia ao estupro verificada em dezenas de vídeos e áudios depreciativos que se espalham pelo YouTube e as redes sociais ainda não está sendo investigada.
Redes sociais
A polícia está monitorando cerca de 2,7 mil perfis no Facebook, de pessoas que comentam o crime, compartilham fotos relacionadas ao caso e aos envolvidos e que podem fornecer involuntariamente alguma pista.
Graças a esse rastreio os investigadores descobriram que o celular de Souza, que ele afirmara ter jogado fora, estava na casa de um amigo.
No aparelho foram recuperados dois vídeos que comprovam o estupro coletivo. A segunda gravação ainda está sob perícia. Com 12 segundos de duração, ela mostra a vítima tentando resistir à abordagem de um homem, que seria Bello.
Ele diz: "Não o quê, pô?" A adolescente reclama de dor. A seguir, ele tenta introduzir um batom nas partes íntimas da vítima.