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Denúncia contra Temer é guerra política, diz analista

Pela contabilidade alcançada pelas entidades, o peemedebista tem os 172 votos necessários para impedir que a Casa aprove a admissibilidade da investigação

O presidente Michel Temer (REUTERS/Ueslei Marcelino/Reuters)

O presidente Michel Temer (REUTERS/Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de julho de 2017 às 10h30.

São Paulo - Após o Superior Tribunal Federal (STF) protocolar, na quinta-feira passada, a denúncia por corrupção passiva feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer, seus aliados no Congresso Nacional começaram uma batalha política que hoje seria vencida pelo Palácio do Planalto. Pelo menos é essa a avaliação da consultoria Arko Advice e do Departamento Intersindical de Análise Parlamentar (Diap), organizações especializadas em avaliar o comportamento do Congresso.

Pela contabilidade alcançada pelas entidades, o peemedebista tem os 172 votos necessários para impedir que a Casa aprove a admissibilidade da investigação do Supremo no plenário, apesar da agenda negativa envolvendo o governo. As previsões divergem, porém, no caso de a votação ser prorrogada e entrar no segundo semestre. O sociólogo Murilo Aragão, da Arko Advice, disse acreditar que a denúncia da PGR não vai prosperar na Câmara dos Deputados sem fatos novos.

"A denúncia é vista [no Congresso] mais como um documento político do que jurídico. Ela é tratada pelos deputados como uma guerra aberta ao campo político. Seria portanto uma carta branca para delação virar prova sem prova", disse Aragão.

A aposta da oposição de que a pressão dos eleitores na base pode virar o placar contra Temer é questionada por Aragão. "Dois terços dos deputados são carregados pelo quociente eleitoral. A maioria não é patrulhada pelas redes sociais como os parlamentares dos grandes centros eleitos por voto de opinião. Temer tem uma desaprovação desmobilizada", disse o sociólogo.

Pela regra em vigor, os candidatos mais votados preenchem as cadeiras recebidas pelos partidos ou coligações com os "restos" de seus votos.

Ruas silenciosas

Ao contrário do que ocorreu às vésperas do impeachment de Dilma Rousseff, os movimentos de rua contra o petismo e a corrupção dessa vez não marcaram manifestações nacionais e deixaram de pressionar os parlamentares em suas bases. A ação de grupos como o Vem Pra Rua e o MBL se resume hoje a notas oficiais protocolares contra Temer. Já organizações de movimentos sociais ligados ao campo da oposição, como CUT, MST e MTST, focaram sua atuação contra as reformas e deixaram o "fora, Temer" em segundo plano.

"As ruas poderiam arbitrar contra Temer, mas não vejo essa mobilização. Já Dilma tinha desaprovação mobilizada", afirmou Aragão.

Para o analista político Antônio Augusto Queiroz, diretor do Diap, o tempo joga contra a estratégia do presidente Michel Temer e a pressão da base vai pesar muito. "Hoje o presidente teria os 172 votos necessários, mas no segundo semestre seria diferente. Quanto mais dura a crise, mais ele fica vulnerável e menos tem a oferecer aos deputados", afirmou. Ainda de acordo com Queiroz, na hora em que o microfone for aberto no plenário e o deputado tiver de dizer que apoia o governo, será difícil manter a lealdade.

Protestos solitários

Uma mulher tentou invadir, na madrugada de ontem, o Palácio do Jaburu, residência do presidente Michel Temer, que estava em casa com a família. Segundo o Gabinete de Segurança Institucional, a mulher, "aparentemente embriagada", pulou a cerca de segurança. Em seguida, foi imobilizada e detida no estacionamento. Seu nome não foi revelado e ela foi liberada. Na quarta-feira, um garoto de 15 anos derrubou o portão de entrada do Alvorada.

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