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Demora em demissão de Geddel prejudicou o governo, diz Temer

Temer creditou às conversas que teve com Geddel o seu pedido de demissão, após polêmica envolvendo obra de um prédio do interesse do ex-ministro

Michel Temer em coletiva no Palácio do Planalto; ex-ministro, envolvido nas delações da operação Lava Jato, temia a perda do foro privilegiado e resistia aos apelos de demissão (Beto Barata/Agência Brasil)

Michel Temer em coletiva no Palácio do Planalto; ex-ministro, envolvido nas delações da operação Lava Jato, temia a perda do foro privilegiado e resistia aos apelos de demissão (Beto Barata/Agência Brasil)

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Reuters

Publicado em 27 de novembro de 2016 às 15h19.

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer admitiu neste domingo que a demora no pedido de demissão do ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima foi prejudicial ao governo e aumentou a temperatura da crise, e classificou de "indigno" o fato de o pivô do caso, o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, ter gravado conversa com o presidente.

"Eu sou obrigado a concordar que a demora não foi útil. Se não tivesse demorado teria sido melhor, mas também não causa prejuízos de monta", disse o presidente em entrevista coletiva no Palácio do Planalto. "É claro que ganhou uma dimensão extraordinária, porque colocou a crise, usando a expressão dele (de Geddel), a crise no meu colo".

Temer creditou às conversas que teve com Geddel o seu pedido de demissão, na última sexta-feira, após uma polêmica envolvendo uma obra de um prédio em Salvador do interesse do ex-ministro. "Eu sei como conduzir esses diálogos de modo a gerar pedido de demissão", afirmou.

No entanto, emissários do presidente tentaram por mais de uma semana convencer Geddel a pedir demissão, sem sucesso. O ex-ministro, envolvido nas delações da operação Lava Jato, temia a perda do foro privilegiado e resistia aos apelos.

A carta de demissão só foi apresentada na última sexta-feira, depois da revelação de que Calero havia prestado depoimento à Polícia Federal e envolvido o próprio Temer e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, no caso. Perguntado se via razão para demitir Padilha por seu envolvimento na crise, Temer descartou completamente.

Durante a entrevista, Temer insistiu que suas conversas com Calero se resumiram a tentar arbitrar um conflito. "Havia um conflito de órgãos da administração, entre o Iphan da Bahia e o Iphan nacional. Eu disse a ele que fizesse o que achasse melhor", afirmou.

Segundo o presidente, Calero lhe disse que não queria tomar uma decisão, e atribui a isso a sugestão que deu ao então ministro de levar o caso à Advocacia-Geral da União (AGU).

"Se ele gravou mesmo eu espero que logo venha à luz. Os senhores vão verificar que eu estava arbitrando conflitos. A coisa que mais fiz na vida foi arbitrar conflitos. É uma tarefa indispensável para um presidente da República", afirmou, acrescentando que é cobrado muitas vezes para que seja mais "autoritário", e cobre e determine mais.

"Não é meu estilo não farei isso nunca, podem criticar o que quiserem, não vou mudar meu estilo. Eu sei como levar as coisas, sei como conversar, sei que elas se resolvem com naturalidade".

Temer, no entanto, criticou duramente Calero por supostamente ter gravado suas conversas, e disse que analisa pedir ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que passe a gravar oficialmente todas as suas audiências.

"Com toda franqueza eu acho que gravar clandestinamente é sempre algo desarazoável, é quase indigno. Eu diria mesmo indigno. Gravar o presidente da República é gravíssimo", afirmou.

"Acho que de uma indignidade absoluta alguém meter o gravador no bolso da calça e gravar uma conversa. Estou pensando até em pedir ao GSI que grave publicamente todas as audiências do presidente da República para que todos possam dizer o que possam dizer e eu possa dizer o que devo dizer. Para acabar com essa história, vou examinar essa hipótese. É uma depuração dos costumes", acrescentou.

NOVO MINISTRO

Na entrevista convocada de forma inesperada, que também teve a presença dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Temer anunciou um acordo entre os Poderes Legislativo e Executivo para barrar qualquer medida de anistia ao caixa 2 eleitoral no Congresso. [nE5N1BA003]

O anúncio foi feito depois que a polêmica envolvendo a saída de Geddel lançou o governo em uma nova crise política.

Temer afirmou que não tem ainda um nome para substituir Geddel na Secretaria de Governo, que faz a articulação política com o Congresso.

"Estou examinando com muito cuidado quem pode ir para secretaria de governo. O perfil será de alguém com lisura absoluta e com boa interlocução com Congresso Nacional", ao ser questionado sobre quando seria nomeado o substituto.

Temer disse ainda que nunca deixou de fazer articulação política, mesmo tendo uma secretaria de governo, e continuará conversando com os líderes nesse período.

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