Imagem de arquivo de líderes do PCC: a atual gestão do governador Márcio França tem resistido à pressão do Ministério Público que quer a transferência de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, para um presídio federal (Josemar Goncalves/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 3 de dezembro de 2018 às 12h04.
São Paulo - Os líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) têm de ficar isolados dos outros presos no sistema penitenciário de São Paulo. Esta é uma das medidas defendidas pelo futuro delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, anunciado ontem pelo governador eleito João Doria (PSDB), para combater o crime organizado.
Chefe do Departamento de Narcóticos (Denarc), Fontes foi um dos primeiros delegados a investigar o PCC e é considerado um especialista na facção. Para ele, o atual regime prisional de lideranças criminosas em São Paulo seria "inadequado". "Não podem ficar misturados com presos comuns no cárcere", afirmou ao Estado. "Aqueles que lideram e que exercem influência nos demais membros que estão presos têm de ficar em um regime especial, como em outros países."
Atualmente, a gestão do governador Márcio França (PSB) tem resistido à pressão do Ministério Público que quer a transferência de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, maior chefe do PCC, para um presídio federal. O entendimento é de que seria mais fácil controlar os presos e evitar uma possível reação enquanto estiverem no sistema estadual.
Ontem, o governador eleito, João Doria (PSDB), afirmou que seria "implacável" no combate à facção, mas evitou informar se vai transferir os líderes. "Cabe ao governo atual qualquer decisão até 31 de dezembro", disse. "Não temos nenhum temor das ações duras que passaremos a exercer em relação às facções, especialmente o PCC."
Para Ferraz, porém, "não necessariamente" a solução estaria no cumprimento de pena em presídio federal. "A gente precisa de uma reorganização da legislação que permita exercer controle maior sobre a população carcerária, o que hoje não acontece. Não é porque os governantes não queiram, é porque efetivamente a lei proíbe."
Questionado se medidas mais duras poderiam provocar reação do PCC, Fontes não demonstrou preocupação. "Eventual retaliação tem de ser debelada pelo Estado. Isso vai acontecer. Se a polícia precisar lidar com o assunto, vai lidar bem."
Após escolher um general de Exército para chefiar a Secretaria da Segurança Pública (SSP), Doria também anunciou ontem a criação de dois novos cargos para a pasta: o secretário executivo da Polícia Militar e o da Polícia Civil.
Ex-comandante-geral da PM, ex-vereador e deputado estadual, o coronel Alvaro Batista Camilo (PSD) vai assumir a recém-criada Secretaria Executiva da Polícia Militar. Ele ajudou a elaborar o programa de segurança de Doria e chegou a ser cotado para assumir a SSP.
Já na Polícia Civil, o cargo será ocupado por Youssef Abou Chahin, que foi delegado-geral de 2015 até abril, mas deixou o cargo após o atual governador, Márcio França, assumir o Palácio dos Bandeirantes.
Para o general João Camilo Pires de Campos, a criação dos novos cargos foi uma "solução espetacular". "Eles serão meus grandes orientadores e consultores. Para os seus órgãos, que já conhecem bastante, serão os grandes facilitadores", diz. Segundo afirma, os executivos serão seus "substitutos eventuais" e terão a função de estabelecer programas e projetos de segurança. "Posso discutir muita coisa com eles para que, depois, a gente chegue nas ações."
Doria também irá manter no comando-geral da PM o coronel Marcelo Vieira Salles, nomeado por França em abril. Desde então, há bons resultados em índices de crimes patrimoniais, como roubos.
A nova cúpula das polícias, porém, ainda não tem membro da Polícia Técnico-Científica. "A falha é minha. Não tive tempo ainda de conversar com peritos", disse o general Campos. "Será uma área extremamente prestigiada, são fundamentais para o processo de investigação."