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Delcídio: CPI do Cachoeira surgiu em meio a "ranço" após mensalão

Segundo ele, a CPI foi incentivada pelo ex-presidente Lula em meio a um "ranço" após o mensalão e buscava atingir líderes da oposição em Goiás

Delcídio: "O governo percebeu nitidamente que a CPI poderia trazer problemas e consequentemente, como todo governo faz, quando há risco, abafa" (Ana Volpe/Agência Senado)

Delcídio: "O governo percebeu nitidamente que a CPI poderia trazer problemas e consequentemente, como todo governo faz, quando há risco, abafa" (Ana Volpe/Agência Senado)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de fevereiro de 2017 às 22h13.

Rio de Janeiro - O ex-senador Delcídio do Amaral (MS) afirmou nesta quinta-feira, 16, que a CPI do Cachoeira, instalada em 2012, acabou no vazio por orientação do governo da época.

Segundo ele, a CPI foi incentivada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em meio a um "ranço" após o mensalão e buscava atingir líderes da oposição em Goiás, como o governador Marconi Perillo (PSDB), mas houve recomendação de que fosse encerrada quando evoluiu e ficou "perigosa" para o governo.

"Essa CPI veio principalmente no intuito de justiçar o que tinha acontecido, mas não foi bem pensada. Quando os trabalhos foram avançando e apareceram informações, o governo orientou para que terminasse", afirmou o ex-senador, que prestou depoimento nesta quinta na 7ª Vara Federal Criminal do Rio.

Delcídio afirmou que não acompanhava profundamente a CPI porque não era titular nem suplente. Segundo ele, ficava a par dos assuntos dela por meio dos relatos de reuniões de bancada.

Delcídio contou que Lula agiu para que houvesse o número de assinaturas necessárias para a instalação da CPI. "Depois das consequências que vieram, o governo agiu para tirar o pé."

Questionado se tinha partido de Lula a iniciativa de esvaziamento, afirmou que o ex-presidente tinha conhecimento disso. "Nenhuma atitude numa CPI, no sentido de esvaziá-la, é feita sem conhecimento do governo. Não existe."

Segundo ele, a CPI começou tendo como objeto os líderes da oposição de Goiás, como Perillo e o ex-senador Demóstenes Torres.

"O governo percebeu nitidamente que a CPI poderia trazer problemas e consequentemente, como todo governo faz, quando há risco, abafa", disse.

Segundo Amaral, o "ranço" do mensalão era especificamente em relação ao governador de Goiás. O ex-senador relatou que Perillo teria conversado com o governo sobre votos para a CPI dos Correios, mas o que teria sido falado não teria surtido efeito.

"Se imaginava que com a CPI do Cachoeira o chumbo voltaria, mas o chumbo não estava voltando, mas ia bater em quem queria se vingar. Daí esvaziaram a CPI", afirmou a jornalistas após prestar depoimento.

O ex-senador acrescentou que, com as quebras de sigilo em meio à CPI, apareceram empresas que poderiam comprometer o governo, como as de Adir Assad, empresário controlador de empresas-fantasma para receber dinheiro desviado de esquema de corrupção na Petrobras.

"Poderiam aparecer contribuições de campanha, ligando essas contribuições a várias obras em andamento".

Segundo ele, a CPI terminou "melancolicamente" sem resultado nenhum. Delcídio disse não saber quais eram as obras. Assad foi um dos nomes que surgiram à época, mas havia outras empresas que faziam o mesmo tipo de atividade, afirmou.

"Tinham empresas prestadoras de serviço usadas pelas construtoras para fazerem repasses, mas isso eu ouvi nas reuniões da base do governo".

Delcídio disse que inicialmente achavam que a CPI era restrita a Goiás.

"Com quebra de sigilos, entraram empresas, como a Delta (Engenharia), e empresários, como Adir Assad. A partir de um determinado momento, a CPI começa a reduzir de tamanho. Claramente se via um risco para o governo".

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