Instituto Lula: a força-tarefa acusa Lula de corrupção e lavagem de dinheiro (Reuters/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de maio de 2017 às 15h42.
São Paulo - Ex-líder do PT no Senado no governo Dilma Rousseff, até ser preso em dezembro de 2016 ao tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o delator Delcídio Amaral (MS) afirmou nesta segunda-feira, 22, ao juiz federal Sérgio Moro que o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, e o empresário Marcelo Bahia Odebrecht estruturaram a criação do Instituto Lula, aberto em 2011, após o petista deixar a Presidência.
"Ele (Bumlai) falou para mim que ele tinha procurado o Marcelo para ajudar na implementação do Instituto (Lula)", declarou Delcídio, ouvido por Moro como testemunha de acusação no segundo processo aberto contra Lula, na Lava Jato, em Curitiba.
"Ele estava atuando para essa estruturação a pedido de quem?", questionou a procuradora da República Isabel Groba, da força-tarefa da Lava Jato.
"Do próprio presidente. Ele foi chamado para organizar isso", respondeu o ex-senador.
Delator da Lava Jato, Delcídio detalhou como Bumlai conheceu Lula, em 2002, apresentado pelo ex-governador do Mato Grosso do Sul Zeca do PT.
"Era um conselheiro da família, uma pessoa que estava lá à disposição para resolver os problemas do dia a dia do ex-presidente e da família também", afirmou.
A força-tarefa acusa Lula de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. A denúncia da Procuradoria da República aponta que propinas pagas pela Odebrecht, no esquema de desvios na Petrobras, que seria liderado pelo ex-presidente, chegaram a R$ 75 milhões em oito contratos com a estatal e incluíram terreno de R$ 12,5 milhões para o Instituto Lula e cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo de R$ 504 mil.
"A primeira vez que fiquei sabendo do Instituto Lula foi através desse diálogo que eu tive com José Carlos Bumlai, quando ele me falou que estava trabalhando na estruturação do instituto", afirmou Delcídio a Moro, confirmando o que registrou em sua delação.
Nela, o ex-petista detalhou que no final do governo Lula, em 2010, ele ouviu do pecuarista que ele precisava "estruturar" o instituto para que o "ex-presidente tivesse um local para se estabelecer após o final de seu mandato".
O delator contou que Bumlai citou a procura de um terreno e a participação da Odebrecht na "estruturação" da criação do Instituto Lula.
Neste processo em que Lula é réu, o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda/governo Lula e Casa Civil/governo Dilma) é apontado como principal interlocutor com a Odebrecht.
O petista seria o "Italiano" que aparece nas planilhas secretas da empreiteira e que "Amigo" era o ex-presidente.
"Tenho certeza que o ministro Palocci era pessoa muito influente nessa área de arrecadação", afirmou Delcídio.
O ex-ministro também é réu no caso e foi citado pela delator como o principal arrecadador do PT, de valores legais e de caixa 2.
No dia 12 de abril, o empresário Marcelo Bahia Odebrecht, também réu nesse processo, confessou a Moro ter comprado o terreno para atender interesses de Lula, após pedido de Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula (IL) e também réu do caso, e o pecuarista José Carlos Bumlai - amigo do ex-presidente.
"O prédio IL foi aquele pedido que eu comentei com o sr. Em meados de 2010, o Paulo Okamotto ou o Bumlai, um dos dois, fez o primeiro 'approach'. Mas depois eu conversei com os dois. Veio dizer que o Bumlai e Roberto Teixeira tinham fechado um terreno que queriam que fosse a futura sede do Instituto Lula", contou Odebrecht.