Wesley: "O que vejo são colaboradores sendo punidos, perseguidos pelas verdades que disseram" (Marcelo Camargo/Agência Brasil/Agência Brasil)
Agência Brasil
Publicado em 8 de novembro de 2017 às 15h13.
Durou pouco mais de duas horas a reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS marcada para ouvir Wesley Bastista, um dos donos da empresa.
Mesmo pressionado por senadores e deputados, orientado por advogados, Wesley não respondeu a qualquer pergunta, resguardado pelo direito constitucional de ficar em silêncio.
A mesma conduta foi adotada pelo ex-executivo da empresa Ricardo Saud, na semana passada.
Apesar de não ter respondido a perguntas, Wesley Batista fez uma declaração aos parlamentares. Ele disse que tornar-se um colaborador não é uma decisão fácil; é solitário, dá medo e causa muita apreensão.
"O que vejo, nesse momento que estamos vivendo no país, são colaboradores sendo punidos, perseguidos pelas verdades que disseram. As delações dos últimos anos fizeram o país se olhar no espelho, mas, como ele não gostou do que viu, o resultado tem sido esse: colaboradores presos e delatados soltos", afirmou.
Diante da negativa de executivos da JBS em prestar esclarecimentos à CPMI, o presidente da comissão, senador Atáides Oliveira (PSDB -TO), adiantou que uma das recomendações que serão feitas ao final dos trabalhos é a rescisão do acordo de colaboração premiada dos irmãos Batista e de Ricardo Saud com o Ministério Público Federal.
"Essa colaboração desastrosa dos irmãos Batista só aconteceu porque teve um maestro, um cérebro maior que foi ex-procurador [da República] Marcelo Miller", acrescentou Ataídes Oliveira, destacando que também vai solicitar que o pedido de prisão dele também seja revisto.
Marcelo Miller, que teve um pedido de prisão negado pelo relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, é o pivô da investigação que pode culminar com a rescisão da delação da JBS.
Após deixar o Ministério Público Federal, ele passou a integrar o escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, e fez parte do time de advogados que negociaram o acordo de leniência da J&F, controlador da JBS. Miller ainda estava no Ministério Público quando começou a conversar com os executivos, no final de fevereiro.
Mesmo coma recusa dos convocados a falar na CPMI, a comissão vai manter o calendário de oitivas previstas.
No dia 22, deve ser ouvido o ex-chefe de gabinete da Procuradoria-Geral da República Eduardo Pelella, que era considerado braço direito do então procurador-geral Rodrigo Janot.
Em setembro, Miller foi convidado a comparecer à comissão, mas não atendeu ao pedido. Agora, a presença dele é obrigatória.