Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, discursa na Assembleia de Deus (Reprodução / Facebook de Eduardo Cunha)
Da Redação
Publicado em 31 de julho de 2015 às 11h20.
São Paulo - O lobista e delator da Lava Jato Júlio Camargo repassou R$ 125 mil para a igreja evangélica Assembleia de Deus Ministério Madureira, em Campinas (SP).
A informação consta da quebra de sigilo bancário da empresa Treviso, utilizada por Camargo para repassar propinas no esquema de corrupção na Petrobras revelado pela Lava Jato. Nem o pastor da igreja nem a defesa de Júlio Camargo quiseram dar explicações sobre o repasse.
Laudo da Polícia Federal aponta que a quantia foi repassada entre 2008 e 2014, sem detalhar se o valor foi pago de uma só vez ou em parcelas. A movimentação é a única feita no período pelas duas empresas de Júlio Camargo (Piemonte e Treviso) que teve como destino uma instituição religiosa.
O repasse mostra que o delator, que disse à Justiça ter sido pressionado pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a pagar propina de US$ 5 milhões, também repassou dinheiro para uma igreja simpática ao deputado expoente da bancada evangélica.
Culto
Em fevereiro deste ano, Cunha chegou a participar de um culto de mais de duas horas em comemoração a sua eleição para a Presidência da Câmara junto com outros políticos na Assembleia de Deus Madureira, no Rio de Janeiro.
Na ocasião ele declarou ter trocado a Igreja Sara Nossa Terra pela Assembleia de Deus Madureira. A bancada evangélica foi uma das que mais apoiaram Cunha na eleição para a Presidência da Câmara.
O presidente da Assembleia de Deus Madureira no Rio, pastor Abner Ferreira, contemplou o presidente da Câmara no culto. "O Satanás teve que recolher cada uma das ferramentas preparadas contra nós. Nosso irmão em Cristo é o terceiro homem mais importante da República", disse o religioso na época.
Abner Ferreira é irmão do pastor Samuel Ferreira, que preside a Assembleia de Deus no Brás, em São Paulo, e aparece no registro da Receita Federal como presidente da Assembleia de Deus Madureira em Campinas, que recebeu os R$ 125 mil da empresa de Júlio Camargo.
Réu na Lava Jato, Júlio Camargo fez acordo de delação e admitiu a existência do cartel de empreiteiras que atuava na Petrobras e também ter utilizado suas empresas para operar propinas aos executivos da estatal indicados por partidos políticos. Sua empresas também fizeram doações oficiais para campanhas de políticos em 2010 e 2012 que totalizaram R$ 1 milhão.
Dentre os que receberam recursos estão o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, que recebeu R$ 200 mil em 2010, e a senadora Marta Suplicy (sem partido), que recebeu R$ 100 mil também em 2010. Também foram feitas doações de R$ 150 mil ao diretório nacional do PMDB.
Defesa
A reportagem entrou em contato com a assessoria do pastor Samuel Ferreira, que informou que ele não iria se manifestar sobre o caso. A defesa de Júlio Camargo também não quis comentar a transação.
A reportagem também telefonou para o celular de Eduardo Cunha, que não atendeu.