Brasil

Delator diz que propina foi paga em doação oficial

Augusto Mendonça disse ainda que o pagamento de propina cobrado pelo ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque era feito de outras duas formas


	Lava Jato: Augusto Mendonça, executivo da Toyo Setal, é um dos delatores da operação
 (Nacho Doce/Reuters)

Lava Jato: Augusto Mendonça, executivo da Toyo Setal, é um dos delatores da operação (Nacho Doce/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2014 às 15h06.

Brasília - O executivo da Toyo Setal Augusto Mendonça, um dos delatores da Operação Lava Jato, disse em depoimento à Polícia Federal que o pagamento de propina no esquema de corrupção envolvendo a Petrobras foi feito por meio de doações oficiais.

Mendonça, que depôs na PF em 29 de outubro depois de fechar um acordo de delação com o Ministério Público Federal (MPF), disse ainda que o pagamento de propina cobrado pelo ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque era feito de outras duas formas.

Além das doações oficiais ao PT, Duque recebeu por meio de remessas ao exterior e parcelas em dinheiro vivo.

Mendonça disse ainda que Duque tem uma conta "Marinelo", para qual os recursos eram enviados.

Uma das propinas supostamente pagas pelo executivo, no valor de US$ 1 milhão, chegou ao ex-diretor por meio de uma transferência com origem no Banco Safra no Panamá, em nome da companhia Stowaway, para a conta Marinelo.

Durante o depoimento, Mendonça se comprometeu a apresentar o comprovante da transferência. O PT e Duque, contudo, negam que tenham recebido propina de empreiteiras.

O delator afirmou ainda que o esquema firmado pelo 'clube', grupo das empreiteiras que organizaram o pagamento de propina, vinha acontecendo desde 2004.

"Houve uma combinação entre Duque e as empresas do 'clube', coordenado por Ricardo Pessoa (executivo da UTC), de que se estabelecesse uma lista de convidados em licitações da Petrobras em troca de pagamento de uma comissão, durante o ano de 2004. A partir de então, todas as empresas passaram a negociar e a pagar suas comissões", disse Mendonça à PF.

Já outro executivo da Toyo Setal que participa do acordo de delação nega ter feito pagamento de propina por meio de doações oficiais.

Julio Gerin de Almeida Camargo diz ter feito doações oficiais de R$ 4,25 milhões por "conveniência".

Em depoimento prestado à Polícia Federal no dia 31 de outubro, Camargo negou que as doações feitas a doze siglas tenham sido motivadas pelo pagamento de propina.

Segundo ele, todos os repasses foram feitos oficialmente e "dentro dos limites previstos por lei".

Indagado sobre o motivo pelo qual fez doações nos anos de 2008, 2010 e 2012, ele afirma que algumas foram solicitadas por alguns candidatos e outras pelos próprios partidos.

Ele disse ainda que "entendeu ser conveniente contribuir", sem detalhar o porquê.

Camargo acrescentou que alguns casos foram motivados por "amizade", caso dos senadores Delcídio Amaral (PT) e Romeu Tuma (PTB), que receberam R$ 450 mil e R$ 100 mil, respectivamente, na campanha de 2010.

Camargo disse ainda que o Partido dos Trabalhadores (PT) foi um dos que mais recebeu doações, R$ 2,65 milhões dos R$ 4,25 milhões doados entre 2008 e 2012.

Além do PT, comitês financeiros e políticos do PTB, PRTB, PSDB, PR, PV, PMDB, PPS, PSL, PTN e PP receberam doações.

O executivo disse ainda que não houve doações motivadas por contratos firmados no âmbito da Petrobras, nem de empresas ou consórcios de empresas dos quais ele participou e recebeu comissões.

Infraero

Mendonça relatou à Polícia Federal também um possível pagamento de propina na Infraero, em troca de um contrato para obras no Aeroporto de Brasília.

No mesmo depoimento, ele disse que, 12 anos atrás, foi informado por um dos acionistas da Construtora Beter, contratada pela estatal para fazer instalações elétricas no terminal, de que haveria pagamento de "comissões" ao ex-presidente da Infraero Carlos Wilson. Morto em 2009, Wilson dirigiu a estatal entre 2003 e 2006.

A Beter subcontratava, na época, a construtora PEM, de propriedade de Mendonça, para executar as obras em seu lugar.

A necessidade de pagar propina ao dirigente, segundo ele, foi usada pelo acionista da Beter para que sua empresa desse desconto nos serviços que faria.

"O declarante foi informado por um dos acionistas da Beter, responsável pelo contrato acima, de que haveria um pagamento de 'comissão' e uma combinação na forma de contratação no âmbito da Infraero, por meio do presidente à época, Carlos Wilson", diz transcrição do depoimento.

O executivo da Setal aceitou colaborar com as investigações, em troca de redução de pena. Questionado, ele afirmou, contudo, não saber se o pagamento de propina ao ex-dirigente se efetivou, pois seu contato era apenas com a Beter.

"(O declarante diz que) Não possui nenhum elemento concreto acerca do suposto pagamento de comissão para 'Carlos Wilson', pois isso se deu exclusivamente dentro da Beter, e não houve detalhamento sobre como se dava a suposta combinação na forma de contratação e do pagamento das comissões", disse.

O jornal O Estado de S.Paulo procurou a Infraero, que ainda não se pronunciou. Representantes da Beter não foram localizados.

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCorrupçãoEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEscândalosEstatais brasileirasFraudesGás e combustíveisIndústria do petróleoIrregularidadesOperação Lava JatoPetrobrasPetróleo

Mais de Brasil

As 10 melhores rodovias do Brasil em 2024, segundo a CNT

Para especialistas, reforma tributária pode onerar empresas optantes pelo Simples Nacional

Advogado de Cid diz que Bolsonaro sabia de plano de matar Lula e Moraes, mas recua

STF forma maioria para manter prisão de Robinho