Olimpíadas no Rio: (Rio 2016/Alex Ferro/Reprodução)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de maio de 2018 às 21h11.
Última atualização em 21 de maio de 2018 às 22h09.
Rio - Carlos Miranda, amigo de infância do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) e operador do esquema de corrupção liderado por Cabral no Estado do Rio de Janeiro, afirmou à Justiça Federal nesta segunda-feira que o empresário Arthur Soares Filho pagou US$ 2,5 milhões (cerca de R$ 9,22 milhões) para que quatro dirigentes africanos votassem no Rio de Janeiro para ser sede da Olimpíada de 2016. A eleição foi realizada em outubro de 2009 em Copenhague, na Dinamarca.
O delator disse ter ouvido essa informação do próprio Cabral, em conversa dos dois na prisão, no primeiro bimestre de 2017. Cabral e Miranda estão presos desde novembro de 2016.
Soares Filho, conhecido como Rei Arthur, é dono de firmas que mantiveram contratos de até R$ 3 bilhões com o governo do Estado do Rio durante a gestão de Cabral.
Miranda firmou um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal (MPF) e já havia mencionado aos procuradores essa conversa com Cabral.
Nesta segunda-feira, no entanto, fez a afirmação pela primeira vez em juízo, durante audiência de processo resultante da Operação Unfair Play, promovida pela Polícia Federal e pelo MPF em 5 de outubro do ano passado.
O processo investiga a compra de votos para que o Rio de Janeiro fosse eleito sede da Olimpíada. Nesse processos são réus Cabral, o ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Comitê Organizador da Rio-2016 Carlos Arthur Nuzman e o ex-diretor de marketing do COB Leonardo Gryner.
Segundo Miranda, o empresário Soares Filho, conhecido como "Rei Arthur", teria usado um banco francês para transferir o dinheiro aos quatro dirigentes.
Cabral nega a compra de votos. Presentes ao depoimento desta segunda-feira, seus advogados perguntaram a Miranda por que o ex-governador teria feito essa afirmação a alguém que naquele período já estava negociando um acordo de delação premiada.
Miranda respondeu que era comum conversar com Cabral sobre os esquemas de propina. "Participei de uma organização criminosa em que o Sérgio era o chefe. Os comentários sobre esse crime ou outros crimes aconteceram ao longo de 30 anos", afirmou o delator.
O operador do esquema de corrupção já havia feito a mesma afirmação em depoimento prestado ao MPF em abril de 2017, ainda antes da Operação Unfair Play. "Recentemente, na prisão, cerca de dois ou três meses atrás, Sérgio Cabral comentou com o colaborador que Arthur (Soares Filho), de fato, teria feito pagamentos a dirigentes africanos ligados ao setor de atletismo para a compra de quatro votos", registrou o depoimento daquela época. A delação foi homologada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A investigação do MPF indica que o dinheiro foi transferido por Soares Filho para uma empresa de Papa Massata Diack, filho de Lamine Diack, ex-presidente da IAAF (Associação Internacional de Federações de Atletismo).
Um e-mail de Papa Diack a Leonardo Gryner indicou que havia outros beneficiários. O africano reclamou do atraso de uma parcela do pagamento dizendo que a falta de pontualidade provocou "todo tipo de constrangimento de pessoas que confiaram no nosso comprometimento em Copenhague".
Procurada pelo Estado na noite desta segunda-feira, a defesa de Cabral não se manifestou até as 20h45. A reportagem não localizou representantes dos demais envolvidos na denúncia.