Rodrigo Janot: "estamos com colaborações em curso que podem e muito nos auxiliar em uma e outra investigação" (Adriano Machado/Reuters)
Reuters
Publicado em 7 de agosto de 2017 às 09h59.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada nesta segunda-feira, que delações premiadas sendo negociadas pelo Ministério Público Federal (MPF) podem contribuir para inquéritos em curso contra o presidente Michel Temer.
"Estamos com colaborações em curso que podem e muito nos auxiliar em uma e outra investigação", disse Janot ao jornal, sem, no entanto, citar os colaboradores devido ao sigilo das negociações.
O MPF negocia colaborações atualmente com o empresário Lúcio Funaro e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB).
Temer já foi denunciado por Janot pelo crime de corrupção passiva com base nas delações de executivos da JBS, mas as denúncia teve a tramitação suspensa pela Câmara dos Deputados em votação na semana passada.
Janot e sua equipe têm trabalhado para apresentar em breve ao menos uma nova denúncia contra Temer, segundo uma fonte ouvida pela Reuters na semana passada. Ainda não está definido, segundo a fonte, se o presidente será acusado por obstrução de investigações e organização criminosa em uma única peça ou em duas separadas.
De acordo com a fonte, a nova denúncia também terá como base a delação dos executivos da JBS, mas poderá depois ser "turbinada" com novos fatos previstos em colaborações premiadas que estão sendo negociadas.
Sobre possível delação de Cunha, Janot disse à Folha que um dos critérios para um delator é que fale de alguém de um nível superior. "Não adianta ele virar para baixo, não me interessa", afirmou.
O procurador-geral também disse ao jornal que antes de deixar o cargo, em 17 de setembro, irá revogar um acordo de delação "por falta de protagonismo do colaborador", mas não disse qual.
Janot também defendeu o acordo de delação fechado pelo MPF com os irmãos Batista, controladores da JBS, apesar das críticas recebidas pela imunidade concedida aos executivos mesmo depois de terem reconhecido o cometimento de ilícitos.
"A opção que tinha era: sabendo desse fato e não podendo investigar sem que colaborassem, teria que deixar que isso continuasse acontecendo ou conceder a imunidade", afirmou o procurador-geral. "Se houve erro, foi de comunicação."