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Decisão sobre direitos mostra que não houve crime, diz Dilma

Em entrevista para jornalistas estrangeiros, a ex-presidente Dilma Rousseff rebateu ideia de que decisão sobre direitos políticos pode beneficiar Eduardo Cunha


	Dilma Rousseff, durante interrogatório do impeachment: para ela, votações com resultados diferentes são estranhas
 (Wisom Dias/Agência Brasil)

Dilma Rousseff, durante interrogatório do impeachment: para ela, votações com resultados diferentes são estranhas (Wisom Dias/Agência Brasil)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 2 de setembro de 2016 às 18h50.

São Paulo – Dois dias após o julgamento que colocou fim a seu mandato, a ex-presidente Dilma Rousseff afirmou em entrevista coletiva para jornalistas estrangeiros que decisão do Senado para não cassar seus direitos políticos sinaliza que ela, realmente, não é culpada pelos crimes julgados no impeachment.

"O segundo voto é o voto daqueles que não consideram que, de fato, cabia uma punição. Você tem um impeachment sem crime de responsabilidade, afasta uma pessoa inocente do cargo e além disso tira seus direitos políticos por oito anos?", disse.  “É estranhíssima essa dupla votação. Vota uma vez de um jeito, vota outra vez de outro jeito. É estranho. Nem sempre a estrada dos votos é de ferro. É muito tortuosa”.

Sobre a possibilidade do deputado afastado Eduardo Cunha se valer da decisão para se livrar a inelegibilidade em caso de cassação, Dilma foi enfática: "Não mesmo. Essa não". 

A princípio, o Senado faria apenas uma votação para determinar o impeachment e a inabilitação de Dilma Rousseff, conforme previsto na Constituição. No entanto, aliados da petista no Congresso entraram com um pedido para fatiar a votação em duas — algo que foi acatado pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski, que presidiu o julgamento.

No total, 42 senadores votaram pela inabilitação política da ex-presidente – eram necessários 54 votos para cassar os direitos políticos dela.

Golpe

A ex-presidente citou as gravações de conversas entre o senador Romero Jucá (PMDB) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. No áudio, o ex-ministro de Temer aparece dizendo que para estancar a sangria da Operação Lava Jato seria necessário tirar a presidente do poder.

“Esse processo consiste em duas coisas. A primeira, está registrada na gravação feita pelo ex-senador do PMDB Sérgio Machado e do senador Romero Jucá: ou tira ela ou a investigação continua. Segundo, eu fui eleita por 54 milhões de votos. O outro projeto não teve os votos necessários para que fosse executado”, afirmou. 

Repressão

A ex-presidente criticou as ações de repressão da Polícia Militar contra protestos em várias cidades do país. Segundo ela, quem viveu a ditadura militar não pode compactuar com o argumento de que violência policial se justifica diante das ações de manifestantes. 

"A força do Estado é muito maior do que a força das pessoas. O Estado não pode fazer isso, principalmente, porque vivemos numa democracia. Quando se faz isso, se abre brechas ...Assim começam as ditaduras. O que eu puder fazer para que isso não ocorra no meu país, eu farei", diz. "Prefiro a voz surda das ruas do que o som dos cárceres das ditaduras". 

Janaina Paschoal

A presidente foi questionada sobre discurso da advogada da acusação, Janaina Paschoal, que afirmou que estaria advogando pelo impeachment em prol dos netos de Dilma Rousseff.

"“Vocês assistiram o comportamento da doutora, que é de uma pessoa cujas convicções não se parecem com as minhas nem do ponto de vista político, cultural ou humano. Não respeito uma pessoa capaz de falar o que falou. Para os meus netos, eu quero um Brasil cheio de oportunidades e não será por causa da doutora Janaina”, afirmou a ex-presidente. 

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