Joaquim Barbosa: ex-ministro se filiou ao PSB no fim do prazo necessário para garantir a participação na eleição de outubro (Nelson Jr./SCO/STF/Divulgação)
Reuters
Publicado em 8 de maio de 2018 às 15h27.
O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa afirmou nesta terça-feira que não pretende ser candidato a presidente da República, numa decisão que muda o cenário para a eleição presidencial deste ano e que tem potencial para beneficiar o campo centrista.
O anúncio de Barbosa, que disse em sua conta no Twitter tratar-se de uma "decisão estritamente pessoal", também lança uma incógnita sobre o destino do PSB na disputa. A sigla --que tem uma ala próxima a Alckmin, mas que também chegou a manter conversas com o PDT, do presidenciável Ciro Gomes-- disse que buscará construir alternativas ao país.
"Está decidido. Após várias semanas de muita reflexão, finalmente cheguei a uma conclusão. Não pretendo ser candidato a presidente da República. Decisão estritamente pessoal", afirmou Barbosa em sua conta no Twitter.
O ex-ministro se filiou ao PSB no fim do prazo necessário para garantir a participação na eleição de outubro se assim desejasse, mas vinha dizendo que ainda não havia decidido se seria ou não candidato.
Em nota, o partido disse que a definição de Barbosa "ocorre nos termos da pactuação realizada em sua filiação", quando nem o partido lhe assegurou legenda para a disputa e nem o ex-ministro prometeu que se candidataria.
"O PSB segue doravante, com serenidade, na tentativa de contribuir para a construção de alternativas para o país, que contemplem os amplos clamores populares, pela renovação da prática política, algo que a possibilidade da candidatura do ministro Joaquim Barbosa tão bem representou", afirma a nota do PSB.
Em pesquisa Datafolha realizada no mês passado, Barbosa chegava a ter 10 por cento das intenções de voto em seu melhor cenário. Tanto analistas como políticos viam grande potencial na sua candidatura.
Uma das dificuldades postas à candidatura de Barbosa eram as questões locais do PSB. Em São Paulo, por exemplo, o governador Márcio França era vice e assumiu o cargo em abril após a renúncia do tucano Geraldo Alckmin para disputar a Presidência. França chegou a defender publicamente a candidatura presidencial de Alckmin.
Em Pernambuco, terra de lideranças históricas do PSB, como Miguel Arraes e Eduardo Campos, que era candidato à Presidência em 2014 até morrer em um acidente aéreo em agosto daquele ano, o receio era que a candidatura de Barbosa dificultasse uma composição local com o PT.
Uma fonte do PSB que pediu para não ter seu nome revelado, disse à Reuters que a decisão de Barbosa não pode ser considerada uma surpresa. "Não dá pra dizer que a decisão dele está fora do previsto, das hipóteses estabelecidas, desde o início", disse a fonte.
Para o analista da Tendências Consultoria Rafael Cortez, a decisão de Barbosa mostra o alto custo de entrada em uma disputa presidencial, especialmente em um partido como o PSB que não tem a mesma capilaridade de legendas maiores e no qual uma candidatura nacional pode afetar arranjos locais.
"É uma decisão que em boa medida beneficia sobretudo o Geraldo Alckmin, que é a centro-direita tradicional que vinha enfrentando concorrência relevante para mobilizar o anti-petismo e o eleitorado descontente com o governo", disse Cortez, que aponta que a pré-candidata da Rede, Marina Silva, também pode se beneficiar da decisão.
Uma liderança emedebista, que pediu para não ser identificada, avaliou que a desistência abre um pouco de espaço para os candidatos do chamado centro político, mas admitiu que a tendência é de o PSB se coligar com algum partido de esquerda, como o PDT do pré-candidato Ciro Gomes.
Candidata à Presidência pelo PSB em 2014 após a morte de Campos, Marina disse respeitar a decisão de Barbosa e voltou a afirmar que tem canal de diálogo com as siglas que a apoiaram há quatro anos, caso do PSB.
"Mas obviamente que com o necessário respeito à dinâmica interna do PSB que agora, enfim, irá fazersuas novas avaliações", disse Marina ao participar de evento Com prefeitos em Niterói (RJ).
Alckmin, por sua vez, usou sua conta no Twitter para afirmar que lamenta a decisão do ex-presidente do STF.
"Respeito a decisão, mas lamento, pois temos que incentivar a entrada de boas pessoas na política. Tenho certeza de que ele poderá contribuir de outras formas com nosso país", escreveu o tucano.
Aliado de Alckmin e secretário do PSDB, o deputado Marcus Pestana (MG), fez a avaliação de que o anúncio de Barbosa reduz a pulverização de candidaturas no que chama de "centro democrático e reformista", cuja união tem defendido nas eleições. Fez ainda a avaliação que a decisão não altera a estratégia de Alckmin.
O presidente da Câmara e presidenciável do DEM, Rodrigo Maia, disse que a decisão de Barbosa "deixa o jogo cada vez mais aberto". Questionado se um nome a menos não ajudaria a definir melhor o quadro sucessório, Maia respondeu: "ninguém vai decidir agora". E garantiu que leva sua candidatura "até o fim".
Pré-candidato do Podemos ao Planalto, o senador Alvaro Dias, disse admirar Barbosa e avaliou que sua ausência empobrece o debate eleitoral.
"Mas certamente a ausência dele deixa o espaço aberto no campo da ética... Espero sim herdar votos do Joaquim Barbosa", disse Dias também em Niterói.
(Reportagem de Pedro Fonseca, em Niterói, e Eduardo Simões, em São Paulo; Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello e Ricardo Brito, em Brasília)