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Debate em SP é marcado por bate-boca entre Boulos e Marçal e falta de propostas concretas

Marçal e Boulos voltaram a trocar farpas no confronto nesta quarta, 14. Como no debate anterior, Ricardo Nunes foi novamente cercado por críticas de rivais; confira como foi o segundo encontro em São Paulo

Publicado em 14 de agosto de 2024 às 17h37.

Última atualização em 14 de agosto de 2024 às 18h16.

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Com cerca de duas horas e meia, o segundo encontro entre candidatos à prefeitura de São Paulo nas eleições de 2024, realizado na manhã desta quarta-feira, 14, pelo jornal O Estado de S. Paulo, em parceria com o Portal Terra e a Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), foi novamente marcado por ataques pessoais, provocações e deboches.

O formato de duelo — que, diferentemente do primeiro encontro promovido pela Band na semana passada, favoreceu a discussão de propostas — serviu aos candidatos para mostrar o que pensam sobre os problemas da cidade. No entanto, entre os planos e promessas feitos, faltaram medidas práticas sobre como colocá-las em ação ou um aprofundamento dos diagnósticos, e sobraram trocas de acusações.

Ao fim do programa, a deputada federal Tabata Amaral (PSB) e o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) saíram com avaliações positivas, enquanto o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), apesar da desenvoltura, perdeu espaço para as provocações do influenciador Pablo Marçal (PRTB), que novamente ocupou o papel de franco-atirador. Os candidatos Marina Helena (NOVO) e José Luiz Datena (PSDB) ocuparam papéis secundários.

No primeiro bloco, o tema foi educação, com perguntas das jornalistas do Estadão Renata Cafardo e do Terra Luciana Pioto. Primeiro a falar no debate, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) abordou a área, destacando a entrega de tablets aos estudantes da rede municipal e defendendo o uso da tecnologia no ensino público. Em seguida, a candidata Marina Helena (NOVO), dupla de Nunes no primeiro confronto, afirmou ser a favor da proibição de celulares na sala de aula, considerados por ela um "perigo".

No tempo livre do embate, porém, a candidata do NOVO mudou o tema para questionar o prefeito sobre o programa da Secretaria Municipal da Saúde, o Saúde para Todes, citando que a medida seria "ideologia de gênero". "A prefeitura atual está cheia de loucuras da esquerda", disse ela. O candidato à reeleição lamentou o tom do debate e não deu nenhuma declaração sobre o assunto.

A segunda dupla a debater o tema da educação, formada por Pablo Marçal (PRTB) e Tabata Amaral (PSB), começou com o influenciador ignorando a discussão para questionar a candidata sobre a escolha de vice-prefeito. Marçal quis destacar que era o único candidato com uma vice mulher e negra, Antonia de Jesus.

Tabata, que tem como vice a professora Lúcia França (PSB), ressaltou sua escolha, rebatendo que o enfrentamento ao racismo não se limita a uma escolha individual de vice, e pediu "inteligência emocional" do candidato, ironizando-o por ter ignorado o tema e se perdido com as manifestações da plateia. O bloco também foi marcado por Marçal afirmando que era "o professor mais bem pago do país", provocando a plateia do Teatro FAAP, onde foi realizado o debate.

Bate-boca entre Boulos e Marçal

O momento mais tenso do debate foi protagonizado no segundo bloco por Marçal e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que foi o principal alvo do influenciador ao longo do debate. O bate-boca começou quando o candidato do PRTB apresentava suas propostas para implementação de teleféricos e de construção do "maior edifício do mundo" na capital paulista.

Ao abrir seu tempo, na sequência, Boulos relembrou a provocação feita no embate da semana passada, sobre a condenação criminal de Marçal, condenado a 18 anos por furto qualificado por participação em golpes cibernéticos, e que prescreveu. "Marçal, você não deveria nem estar aqui porque no último debate você disse que deixaria sua candidatura se eu mostrasse a sua condenação como ladrão de banco, mas você mais uma vez mostrou que não tem palavra", afirmou o psolista.

O influenciador contestou, alegando que o deputado já havia sido preso três vezes. Boulos foi detido em 2017 durante uma reintegração de posse de uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), onde atuou como coordenador. Ele foi liberado no mesmo dia. O candidato do PRTB também criticou os aliados do adversário, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Você está me confundindo com o quadrilheiro chamado Luiz Inácio Lula da Silva, José Genoino, Zé Dirceu. Você que é o PT Kids aqui de São Paulo. O PSOL é uma grande merda nessa eleição. Não tenho condenação, eu trabalhei para um cara, consertando computadores. A grande verdade é: por que você não pediu a sua música no Fantástico, já que foi preso três vezes?", provocou.

Na réplica, o candidato do PSOL chamou Marçal de "mentiroso compulsivo". "Você é o Padre Kelmon desta eleição", acrescentou. O influenciador tirou uma carteira de trabalho e a apontou para Boulos. "Eu sou o Padre Kelmon, eu vou exorcizar o demônio com a carteira de trabalho. Você nunca vai ser prefeito de São Paulo enquanto houver homens nesta cidade", disparou o candidato do PRTB.

Os dois continuaram na troca de ofensas, que chegaram a "aspirador de pó", "mentiroso compulsivo", "pessoa rebaixada", "psicopata" e "mau caráter". Mesmo após o fim do tempo, quando ambos tiveram que deixar o palco e voltar aos seus assentos, o embate seguiu. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram que Marçal continuou apontando o documento para o psolista, que, em dado momento, já sentado, tentou tirar a carteira que o político exibia. A produção do programa precisou intervir para impedir a continuidade do embate.

Planejamento urbano e transporte

O debate seguiu com o tema do planejamento urbano, que trouxe à tona a visão dos candidatos sobre o transporte público, habitação e a preparação da cidade para as mudanças climáticas, especialmente a contenção de desastres como o ocorrido no final de abril no Rio Grande do Sul.

A primeira dupla, Marina Helena e Boulos, focou na discussão de propostas diante da ocorrência de eventos extremos, e houve divergência. Para a candidata do NOVO, é preciso um programa de habitação para retirar as pessoas de áreas de risco, enquanto o candidato do PSOL defendeu a adoção de projetos de "cidades esponja", usados para prevenir tragédias, como a gaúcha, ao tornar o solo menos impermeável e dar eficiência ao escoamento de água.

Durante o debate, o apresentador José Luiz Datena voltou a dirigir suas críticas ao atual prefeito. Por exemplo, no momento em que fez dupla com Marçal e que teve como tema o transporte público. Questionado, Datena declarou não ser contra a tarifa zero nos ônibus aos domingos, mas acusou a atual gestão de promover uma gratuidade "mentirosa", que depende de subsídios bilionários.

A queixa não foi comentada pelo candidato do PRTB, que usou o tema para voltar à sua proposta de teleféricos pela capital paulista. No mesmo bloco do planejamento urbano, houve outro momento tenso, quando Tabata acusou Nunes de "roubar e não fazer", sugerindo ao prefeito que adotasse a frase como slogan. A crítica, segundo a candidata do PSB, é que a atual gestão não cumpriu várias metas do mandato.

Assim como no debate da Band, a deputada também voltou a citar investigações das quais o governo é alvo e acusou a prefeitura de ter ampliado o número de obras sem licitação na cidade. "O que o senhor acha de usar agora o seguinte slogan? ‘Rouba e não faz’", disparou Tabata.

Sem tempo para responder em seguida, o candidato à reeleição pediu direito de resposta e foi atendido pela produção do debate. No tempo extra, já no quarto bloco, Nunes disse ser prática da candidata do PSB "mentir". "Tanto que a senhora foi a um programa e mentiu que votou a favor do aumento de pena para criminosos. A senhora fala de segurança e a senhora mentiu. Estava na Câmara e não votou a favor do aumento de penas", disse o emedebista.

Já fora do palco, Tabata reagiu, afirmando ser "mentira" as afirmações do prefeito. "Você precisa ter honestidade e humildade para reconhecer o trabalho das pessoas", prosseguiu Nunes.

Economia e segurança pública

A gestão do atual prefeito também foi alvo de críticas nas áreas da economia e segurança pública. O candidato do PSDB declarou no embate contra Nunes que São Paulo tem hoje uma "prefeitura rica com um povo pobre".

"Se a economia tivesse andado tão bem nas suas mãos, a gente não teria três mil garotos morando nas ruas. A gente não teria tanta gente desassistida na periferia da cidade se o senhor tivesse feito seu trabalho com sua equipe", contestou Datena. O apresentador seguiu nas críticas, afirmando que a política econômica do governo Nunes é "completamente furada, que tem privilégio para gente rica e que massacra o cidadão de baixa renda. Parece que o senhor quer exterminar o cidadão de baixa renda e privilegiar o rico", acrescentou.

Ao que Nunes respondeu, dizendo-se ficar "triste e preocupado quando as pessoas, para querer chegar a um objetivo, só falam mal da cidade", respondeu o prefeito.

O governo municipal também foi alvo de contestações no campo da segurança pública. Tabata e Boulos mencionaram a investigação do Ministério Público de São Paulo sobre a participação de agentes políticos em esquema suspeito de ligar empresas de ônibus com a organização criminosa PCC.

O candidato do PSOL prometeu "passar a limpo" os atuais contratos de concessionárias de transporte. Já Tabata, dupla com o deputado no último bloco do debate, disparou diretamente contra o prefeito. "O que não farei é o que Nunes fez: gravar um vídeo de elogio à empresa após as denúncias. Prefeito que comete crime não combate crime", acusou a parlamentar.

O que diz o agregador EXAME/IDEIA sobre a disputa em SP

De acordo com o agregador de intenções de voto EXAME/IDEIA, Ricardo Nunes tem 23% das intenções de voto na capital, e Guilherme Boulos (PSOL), 22%. Na sequência, José Luiz Datena (PSDB) aparece com 15% na terceira posição, seguido por Pablo Marçal com 14% e Tabata Amaral com 6%. Marina Helena tem 4%.

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