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Dallagnol: Restrição do foro deve devolver processos à 1ª instância

Coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse que foro privilegiado acaba sobrecarregando as cortes superiores e também leva à impunidade

Deltan Dallagnol: "Aguardamos agora que casos prévios a 2015 possam ser encaminhados para a primeira instância, para que possam receber uma investigação" (Wilson Dias/Agência Brasil)

Deltan Dallagnol: "Aguardamos agora que casos prévios a 2015 possam ser encaminhados para a primeira instância, para que possam receber uma investigação" (Wilson Dias/Agência Brasil)

AB

Agência Brasil

Publicado em 7 de maio de 2018 às 17h42.

O procurador do Ministério Público Federal Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, disse hoje (7) que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de restringir a prerrogativa de foro a infrações penais ocorreram em razão da função e cometidas durante o mandato, vai fazer com que muitos processos sejam devolvidos para a primeira instância da Justiça.

Segundo Dallagnol, o chamado foro privilegiado acaba sobrecarregando as cortes superiores e também leva à impunidade. "O foro privilegiado acaba gerando uma impunidade, uma proteção dos poderosos, justamente os primeiros que deveriam ser responsabilizados por seus desvios. Nesse sentido, a restrição do foro é extremamente importante. Aguardamos agora que casos prévios a 2015 possam ser encaminhados para a primeira instância, para que possam receber uma investigação. E esperamos que essa investigação possa ser mais célere do que vinha acontecendo, em razão das facilidades que existem na primeira instância, e não em cortes pra decisões e atos de investigação".

Dallagnol participou hoje do Seminário Corrupção e Eleições, na Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj), onde fez palestra sobre a Lava Jato e o financiamento eleitoral.

Em conversa com a imprensa após o evento, ele disse que a Lava Jato é "uma das investigações que estão rompendo com a impunidade dos ciclos de poder", mas que é preciso avançar com reformas no sistema político.

"[É] uma de várias investigações, que são um passo necessário, mas não o suficiente. Precisamos avançar. Hoje estamos em um círculo vicioso de corrupção: dinheiro gerado em propina gera facilidade para reeleição. Pessoas corruptas tendem a se reeleger e, uma vez reeleitas, ampliam seus esquemas criminosos, conseguem mais propina, isso alavanca a reeleição novamente e assim por diante", ressaltou Dallagnol.

O procurador destacou o caso da Itália, afirmando que, após a grande investigação judicial feita pela Operação Mãos Limpas, na década de 90, o sistema corrupto contra-atacou, e as investigações arrefeceram depois de um tempo.

"A Lava Jato está em um ponto de inflexão. Se o sistema político não mudar, se os mesmos líderes corruptos permanecerem no Congresso Nacional, o que vai acontecer é que, inevitavelmente, quando ficarem distantes novas eleições, tendem a ser aprovados projetos que vão esvaziar as investigações, como aconteceu na Itália. Na Itália não foi feita uma reforma política, não houve renovação política, não houve reformas mais substanciais, e o que aconteceu foi o esvaziamento das investigações após um certo tempo."

Para Dallagnol, a maior arma contra a corrupção no país é o voto do brasileiro. "As eleições representam um ponto de inflexão, não só pela necessidade de substituir lideranças apontadas como corruptas por lideranças íntegras, mas por representarem um ponto de inflexão porque em um Congresso altamente corrupto não vão passar as reformas anticorrupção profundas de que o país precisa. Por isso, o voto é a arma mais importante na luta contra a corrupção para o brasileiro em 2018", afirmou.

Também em palestra durante o evento, o procurador Sérgio Pinel, que atua na Lava Jato no Rio de Janeiro, destacou a questão do financiamento eleitoral como fonte do ciclo de corrupção.

"O financiamento eleitoral é uma licença para desviar? Seria o financiamento eleitoral a nossa versão do 007? O que vem primeiro? Financiamento eleitoral motiva atos de corrupção, ou atos de corrupção são desculpa para financiamento de campanha?", questionou.

A procuradora Luana Vargas, integrante do grupo de trabalho da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República, lembrou que a lei brasileira é muito específica na caracterização da corrupção e que neste ano o STF vai julgar quatro casos contra pessoas que têm prerrogativa de foro e foram acusadas nessa operação.

Segundo Luana, esses julgamentos serão a primeira oportunidade para o STF para se posicionar sobre a Lava Jato e também deverão gerar um entendimento jurídico mais definido a ser seguido no país.

"No Brasil, segundo o Código Penal, para que haja corrupção passiva, o agente público deve ter recebido vantagem indevida em troca de um ato de ofício, e o STF vai decidir se pode ser considerada vantagem indevida a doação eleitoral. Dependendo da decisão, o STF pode dizer que a maioria das ações investigadas pela Lava Jato é apenas crime eleitoral, não ésão corrupção", disse a procuradora.

Luana Vargas lembrou que o STF já deu decisões divergentes para casos chamados de corrupção. Em 1994, absolveu o ex-presidente da República e agora senador Fernando Collor (PTC-AL) da acusação de corrupção passiva por ter usado uma conta no exterior para receber US$ 5 milhões de dólares. E, no julgamento da Ação 470, o processo do mensalão, houve a condenação pela acusação de compra de votos de parlamentares para apoiar projetos do governo.

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