Deltan Dallagnol: "Se ficar decidido que casos anteriores a 2015, quando houve reeleição, não vão para a primeira instância, essa decisão é algo como dar com uma mão e tirar com a outra" (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de maio de 2018 às 18h35.
São Paulo - A possibilidade de que a restrição do foro parlamentar não atinja mandatos anteriores de parlamentares que foram reeleitos é uma possibilidade que pode esvaziar o mérito da decisão e que preocupa os integrantes da Lava Jato, afirmou nesta quarta-feira, 9, o procurador Deltan Dallagnol. Para ele, é importante que o plenário do Supremo analise essa questão o mais breve possível.
"Muitas pessoas comemoraram a restrição do foro, mas o Supremo não definiu o que entendia por mandato, se era o atual ou também os anteriores", disse o procurador.
"Se ficar decidido que casos anteriores a 2015, quando houve reeleição, não vão para a primeira instância, essa decisão é algo como dar com uma mão e tirar com a outra. Os casos da Lava Jato que estão hoje no STF foram cometidos por senadores e deputados durante mandatos anteriores ao atual."
Dallagnol notou que o assunto foi apreciado ontem pela 2.ª turma do Supremo e que ela decidiu que o foro engloba os mandatos anteriores. "Isso nos preocupa, porque aquela decisão que poderia ser vista como importante, que daria maior celeridade, acaba se esvaziando", disse.
Questionado sobre como vê a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de enviar para a Justiça eleitoral as investigações de ex-governadores que perderam o foro ao deixar o mandato, Dallagnol evitou comentar casos específicos, mas defendeu que mesmo as investigações de caixa dois permaneçam com a Justiça comum se a suspeita é que os recursos vieram de corrupção.
"A questão da origem é diferente da questão do destino. O dinheiro que foi usado para caixa dois ainda assim pode ter origem em corrupção. Se teve por origem ou se essa é uma hipótese, a competência constitucional para investigar isso é da Justiça comum, e não da eleitoral."
Dallagnol acrescentou ainda que os casos da Lava Jato envolvem, em geral, a possibilidade de que os recursos que foram para a campanha, seja caixa um ou dois, tiveram origem em corrupção. "Sem afastar essa hipótese, não vejo como afastar a competência da Justiça comum para investigar esses casos."
No mês passado, ministros do STJ enviaram para a Justiça eleitoral os processos instaurados contra três ex-governadores que deixaram o cargo recentemente, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Beto Richa (PSDB-PR) e Raimundo Colombo (PSD-SC). Os três são investigados, com base na delação de executivos da Odebrecht, por receber ou esconder "vantagens indevidas" em campanhas anteriores.
Esta semana, o juiz da Lava Jato no Rio, Marcelo Bretas, criticou a estratégia de políticos de pedirem o envio de seus inquéritos para a Justiça Eleitoral. Para o juiz, a medida é "o sonho de alguns acusados". "A ideia é criar um caminho que não leve a lugar nenhum, fingir que a coisa vai para a frente e que a punição será efetiva", completou, ressaltando que na esfera eleitoral as penas são baixíssimas.