Desabamento: nesta terça-feira, teve início o oitavo dia de buscas por desaparecidos (Leonardo Benassatto/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de maio de 2018 às 17h25.
Irmão de Selma Almeida da Silva, de 41 anos, procurada pelo Corpo de Bombeiros nos escombros do edifício Wilton Paes de Almeida, no centro de São Paulo, o lavrador Uilian Almeida Silva, 31, chegou da Bahia após 26 horas de viagem de ônibus nesta terça-feira, 8, e visitou o local no início da tarde.
Ao se aproximar dos entulhos, onde o maquinário pesado dos bombeiros trabalha há uma semana, Uilian teve um ímpeto imediato: o de subir a montanha de areia e ferro retorcido para ajudar na busca pela irmã, que trabalhava como catadora de materiais recicláveis. Os filhos de Selma, os gêmeos Wendel e Werner, 10, também são procurados.
"Passamos aqui para poder dar uma olhada de perto porque só tínhamos visto pela televisão. Me deu vontade de entrar lá dentro e cavar com a mão para ver se ela está lá embaixo e acabar logo com isso", diz Uilian. "É muito triste, muito triste mesmo. Não é fácil você olhar assim e ver que tem um sangue seu ali embaixo, não é fácil não. Não é brincadeira não. Só Deus."
Uilian e a mãe, Roma, saíram de Riacho de Santana na manhã de segunda e chegaram por volta de 13 horas em São Paulo.
Nesta terça-feira, teve início o oitavo dia de buscas por desaparecidos. Pela manhã, subiu para sete o número de desaparecidos na lista oficial dos bombeiros. Fragmentos de ossos de um adulto e uma criança teriam sido localizados na manhã desta terça. O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho. disse que um exame do Instituto Médico Legal (IML) vai confirmar até o fim desta tarde se as ossadas são infantis.
Uilian conta que a irmã era trabalhadora e brincalhona. "O maior sonho dela era ter uma moradia. Ela me disse recentemente que estava quase para conseguir", diz.
Ele conta que a família sabia das condições precárias em que morava Selma e os filhos. Em várias ocasiões, Uilian pediu que a catadora retornasse para a Bahia. "Eu dizia para ela: 'É melhor voltar. Larga essa vida. Para quê ficar catando papelão?'. Lá também não é fácil. E ela veio para cá em busca do melhor", afirma. "Vivemos todos os seis irmãos. Não é vida de príncipe, mas para comer dá.
Os sobrinhos são descritos pelo lavrador como muito brincalhões e alegres. "Com certeza se estivessem aqui já estariam me derrubando no chão, do tanto que gostavam de mim", conta.