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Dá para confiar nas pesquisas eleitorais? Especialistas respondem

O que é apontado como problema nos levantamentos na verdade não é, e os reais questionamentos às pesquisas são pouco debatidos

Urna eletrônica: veja como saber se uma pesquisa é ou não confiável (Ueslei Marcelino/Reuters)

Urna eletrônica: veja como saber se uma pesquisa é ou não confiável (Ueslei Marcelino/Reuters)

Luiza Calegari

Luiza Calegari

Publicado em 8 de setembro de 2018 às 08h00.

Última atualização em 8 de setembro de 2018 às 08h00.

São Paulo – A divulgação de pesquisas eleitorais vem suscitando dúvidas, questionamentos e até promovendo iniciativas questionáveis nas redes sociais, em um dos cenários mais pulverizados em uma eleição desde 1989.

Mas será que dá para confiar no que dizem os maiores institutos do país? Segundo especialistas, sim, mas tomando algumas precauções.

De acordo com Glauco Peres da Silva, coordenador do Grupo de Estudos Eleitorais do Núcleo de Estudos Comparados e Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), a maior dificuldade para a realização das pesquisas eleitorais é a divulgação das próprias pesquisas eleitorais.

O professor, que também é pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), explica que, a partir do momento em que as pesquisas são divulgadas, elas passam a influenciar os votos dos eleitores, em um cálculo que ficou conhecido como “voto útil”.

“A eleição do Doria, para mim, é um grande exemplo. Uma explicação possível para sua vitória em primeiro turno é o fato de que as pessoas estavam vendo o Haddad subir nas pesquisas, e aí mudaram o voto para o Doria, não porque ele era a primeira opção de todo mundo, mas era o mais viável entre as alternativas ao Haddad com chance de vencer eleição”, afirma.

“Efeitos desse tipo vão acontecer, e as pesquisas geram isso. Resumindo, não é que a pesquisa errou, ela influenciou a decisão das pessoas”.

Jairo Pimentel, pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da FGV, completa esse raciocínio chamando a atenção para outro aspecto da realização das pesquisas: a volubilidade dos eleitores.

“A gente que faz pesquisa qualitativa percebe que as pessoas entram na sala para debater política com uma opinião e dois minutos depois já é completamente diferente. Porque no dia-a-dia o brasileiro não está acostumado a debater política, e aí quando isso começa a acontecer a pessoa percebe que sua intenção inicial tem inconsistências, é uma inclinação, e não uma intenção”, explica.

Portanto, segundo ele, quanto mais longe do pleito, menos cristalizadas são as opiniões dos eleitores, e mais as chances de os resultados oscilarem e serem muito diferentes do que vai acontecer nas urnas.

Critérios

De maneira geral, em estatística, a melhor maneira de garantir exatidão a uma pesquisa é garantir que ela seja tão aleatória quanto possível.

Por isso, a metodologia das pesquisas é alvo de um debate acadêmico, entre os que defendem os chamados critérios de estratificação (por raça, gênero, idade, renda, região, como as pesquisas brasileiras) e os que acham que os levantamentos não deveriam fazer essa separação.

Entre os argumentos do segundo grupo, estão o de que, quando a metodologia estratifica a pesquisa, é o instituto que está dizendo que mulheres votam diferente de homens, ou que jovens votam diferentes de velhos, ou brancos de negros, afirmações que são, na verdade, impossíveis de mensurar.

Por sua vez, quem defende a estratificação afirma que o sorteio dos municípios que vão participar da pesquisa; depois o sorteio do distrito censitário; e o sorteio da casa que será entrevistada dentro do distrito já são etapas suficientes deixadas “ao acaso” para garantir a aleatoriedade.

“Não conheço ninguém que foi entrevistado”

Na verdade, a pessoa teria muita sorte de conhecer alguém que foi entrevistado para uma pesquisa eleitoral, ou se ela própria tivesse sido entrevistada.

Jairo Pimentel faz um cálculo aproximado: se o Brasil tem 147 milhões de eleitores, e a amostra de uma pesquisa são 2.000 entrevistados, a chance de uma pessoa específica ser sorteada é de 1 em 73.500, aproximadamente.

Ou seja, em uma cidade de 100 mil habitantes, talvez uma única pessoa fosse sorteada.

Isso sem levar em conta o fato de que os municípios onde as entrevistas serão realizadas é definido por sorteio – o que pode aumentar um pouco ou diminuir drasticamente as chances de uma pessoa ser entrevistada.

Portanto, esse argumento, por si só, é insuficiente para invalidar a seriedade de um levantamento ou pesquisa.

Viés

O principal questionamento relativo às pesquisas informais na internet, mas que se aplica também às grandes pesquisas eleitorais, advém da dificuldade de identificar com precisão quais são os fatores que geram um resultado enviesado.

Glauco Peres afirma que, se você fizer uma pesquisa, mesmo que ampla, pela internet, você já está deixando de fora quem não tem acesso à internet ou não viu a pesquisa.

“E o problema é que a gente não sabe, nem tem como saber, se quem tem internet vota do mesmo jeito que quem não tem”, que é o mesmo problema das pesquisas como um todo, mas agravado por outras imprecisões da amostra.

“Tem várias etapas do processo que podem ser geradoras de viés, sim, mas no limite não existe sistema não enviesado”, pontua o pesquisador.

Defesa psicológica

Jairo Pimentel destaca ainda outro fato que pode levar à desconfiança em relação às pesquisas, mas que é facilmente rebatível: a defesa psicológica.

Funciona assim: se a maioria dos amigos, conhecidos e familiares de uma pessoa apoia um determinado candidato, essa pequena amostra do círculo social pode parecer significativa de todo o país, mas não é.

Então, quando a pesquisa é favorável ao candidato que essas pessoas apoiam, sua visão de mundo é confirmada e a pesquisa parece mais confiável.

Se, no entanto, a pesquisa mostra que o candidato apoiado por quase todos os conhecidos de um círculo não tem representatividade nacional, a tendência é que o eleitor acione uma defesa psicológica e duvide dos resultados.

“Aí é uma questão não só de probabilidade, mas de aderência à própria realidade”, explica Pimentel.

Mas então, como decidir se a pesquisa é confiável?

O melhor critério, segundo Jairo Pimentel, é observar os resultados próximos das eleições dos institutos no passado. E, de maneira geral, no Brasil, eles são bastante consistentes.

Vejamos o primeiro turno da eleição de 2014, por exemplo: a boca de urna do Ibope apontava Dilma Rousseff com 44% dos votos; Aécio Neves com 30% e Marina Silva, 22% dos votos válidos.

Na apuração das urnas, o resultado ficou dentro da margem de erro ou muito próximo do levantado: Dilma teve 41,5%; Aécio teve 33,5%, e Marina Silva ficou com 21,3% dos votos válidos.

É preciso analisar as pesquisas mais próximas do resultado por causa dos fatores citados no começo da reportagem: o cálculo do voto útil e a volubilidade dos eleitores.

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