João Doria: governador falou sobre F1 em coletiva no Palácio dos Bandeirantes (Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de junho de 2019 às 16h31.
Última atualização em 25 de junho de 2019 às 16h37.
São Paulo — O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou nesta terça-feira, 25, em coletiva no Palácio dos Bandeirantes, que a relação com o presidente Jair Bolsonaro não está abalada. Perguntado sobre se a amizade dos dois sofreu algum arranhão após Bolsonaro ter dito que havia "99% de chance ou mais" de o Grande Prêmio de Fórmula 1 do Brasil ser transferido para o Rio de Janeiro em 2021, Doria respondeu: "Da minha parte, nossa amizade não está abalada".
O tucano disse acreditar que o GP vai permanecer em São Paulo, mas evitou falar em números. O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB-SP), também afirmou ter certeza de que a prova de automobilismo ficará na cidade. "O nosso autódromo é preparado, seguro, tem um traçado que os pilotos qualificam como um dos 5 melhores traçados do mundo", disse.
"Sou um eterno otimista: não vamos perder a Fórmula 1. Sem nenhuma arrogância. Estou apenas pensando na experiência de São Paulo, dos seus promotores. Temos um autódromo bem-sucedido, seguro, preparado. E uma visão inovadora dos novos proprietários da F-1", afirmou Doria, em entrevista coletiva concedida ao lado do diretor executivo da F-1, Chase Carey, do prefeito Bruno Covas e do promotor do GP brasileiro, Tamas Rohonyi.
Na coletiva, Doria respondeu ao presidente Bolsonaro, que disse ontem que o tucano tinha de "pensar no Brasil" na questão do Grande Prêmio.
"Sou brasileiro, presidente Bolsonaro, e como tal estou cumprindo a minha obrigação", disse Doria, ao lado do CEO Mundial da Fórmula 1, Chase Carey, e do promotor do GP Brasil de Fórmula 1, Tamas Rohonyi. "Tenho obrigação de defender todos os interesses que competem ao Estado de São Paulo. Não creio que no tema da fórmula 1 tenhamos de colocar temas políticos ou eleitorais."
Ontem, a equipe da F1 se reuniu com Bolsonaro e o governador do Rio, Wilson Witzel, em Brasília. O presidente disse após o encontro que vê 99% de chance de o GP ir para o Rio de Janeiro a partir de 2021.
São Paulo vem intensificando as negociações para a renovação desde o início do ano, após o Rio de Janeiro demonstrar claro interesse em receber a corrida a partir de 2021. Há duas semanas, Carey esteve na capital paulista para uma reunião a portas fechadas com o prefeito e com o promotor do GP. Bruno Covas deixou o encontro otimista com a possibilidade de definir a renovação ainda neste ano.
Nesta terça-feira, portanto, havia expectativa de que fosse anunciado algum acordo ou até mesmo a renovação do contrato da cidade paulista, o que não aconteceu. Questionado sobre o possível novo acordo, Carey desconversou e disse que ainda avalia todas as possibilidades no Brasil, como havia declarado na segunda, após encontro com o presidente Jair Bolsonaro.
"Quero registrar meu total respeito ao presidente Bolsonaro. Nossa ação aqui não significa, em nenhuma hipótese, desrespeito ou desafio ao presidente ou ao Rio de Janeiro", afirmou o governador paulista. "Lamento frustrar o presidente Bolsonaro, mas a decisão da Fórmula 1 não está tomada."
"Não é uma disputa política, eleitoral ou institucional. Não é essa a intenção. Não queremos desmerecer o Rio, cidade que pessoalmente tenho amor. Vivi no Rio, conheci minha esposa no Rio. Tenho memórias e muito respeito pelo Rio. E tenho total respeito pelo presidente Jair Bolsonaro, paulista como eu, que nasceu aqui", declarou.
Ao mesmo tempo, Doria ironizou o bairro do Rio de Janeiro onde se baseia o projeto do novo autódromo, que poderia receber eventualmente as corridas de F-1. "Avalio que os meios de comunicação deveriam visitar Deororo para ver se há condições de fazer qualquer coisa neste prazo. Não há pauta eleitoral, não há disputa com o presidente. Há o sentimento de que o Brasil deve manter o GP. Recomendo que visitem e sobrevoem o local. Até porque só dá para chegar lá a cavalo. Mas não quero desmerecer a opção do Rio. Mas não há nada lá, nem acesso, nem energia, nem saneamento".
O CEO Mundial da Fórmula 1 ressaltou que está "engajado" em conversas com São Paulo e Rio de Janeiro para manter o GP do Brasil.
A disputa com o Rio de Janeiro vem se tornando uma "novela" desde que Bolsonaro anunciou no início de maio que assinara um termo de compromisso com a F-1 para trazer de volta a categoria à capital fluminense. No evento, ele esteve acompanhado do prefeito Marcelo Crivella e de Witzel.
Desde então, novas ações foram anunciadas para atingir este objetivo, como a licitação do futuro autódromo. Ainda no mês passado, autoridades foram até Montecarlo para se encontrar com Carey no final de semana do GP de Mônaco. Lá entregaram o projeto do circuito e um cronograma de obras, que não foi tornado público.
Há, contudo, obstáculos para acertar o eventual retorno da F-1 ao Rio de Janeiro. O primeiro é o pagamento do circuito, estimado em R$ 700 milhões. Segundo os responsáveis pelo projeto, ele será todo bancado pela iniciativa privada. Os investidores, porém, não foram divulgados. O tempo de construção da estrutura também preocupa. Em média, um circuito de F-1 exige ao menos dois anos de obras, que ainda não começaram. E, como o projeto carioca é receber a prova a partir de 2021, o prazo estaria curto.
O tempo poderá ficar ainda menor por eventuais questões ambientais na Justiça. Isso porque no local que pretende receber o novo autódromo está a Floresta do Camboatá. Recentemente, a Câmara dos Vereadores apresentou projeto de lei para transformar o terreno em Área de Proteção Ambiental (APA), por ser um dos últimos locais de Mata Atlântica em área plana na cidade.
O GP do Brasil de Fórmula 1 é disputado em São Paulo desde 1990. Entre as década de 70 e 80, o Rio de Janeiro recebeu 10 edições da corrida no autódromo localizado em Jacarepaguá, também na zona oeste da cidade. O local foi desativado em sua totalidade para a construção do Velódromo, utilizado nos Jogos Olímpicos do Rio-2016.