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Críticas de Mauro Cid a Moraes e PF podem anular delação? Entenda

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro vai prestar esclarecimentos à PF sobre áudios vazados onde critica a corporação e o ministro Alexandre de Moraes

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 22 de março de 2024 às 11h23.

Última atualização em 22 de março de 2024 às 11h51.

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, será ouvido nesta sexta-feira, 22, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para prestar esclarecimento sobre os áudios vazados em que critica a atuação do ministro Alexandre de Moraes e da Polícia Federal (PF).

O depoimento está marcado para as 13 horas e será conduzido pelo desembargador Airton Vieira, um representante da PF e um da Procuradoria-Geral da República.

Em áudios divulgados pela revista "Veja", Mauro Cid afirmou que foi pressionado a falar sobre fatos que não aconteceram ou que ele não presenciou. O militar afirmou que a PF estava com uma "narrativa pronta e não queria saber a verdade”.

"Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E todas as vezes eles falavam: ‘Ó, mas a sua colaboração. Ó, a sua colaboração está muito boa", afirmou. A gravação, segundo a revista, foi realizada depois que o militar prestou depoimento à PF, na segunda-feira, 11, e enviadas a um colega militar.

Em críticas a Moraes, o ex-ajudante de ordens disse que o ministro "é a lei" e que prende e solta pessoas quando e como quiser "com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação".

"O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta, acho que essa é que é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só está esperando passar um tempo. O momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo", disse Cid.

Delação de Mauro Cid pode ser anulada?

Segundo o blog da Bela Megale, do jornal O Globo, a PF avalia rescindir a delação de Cid após os áudios vazados. Em entrevista ao blog da jornalista Miriam Leitão, o diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, informou que vai abrir uma representação contra Mauro Cid por ele ter dito que foi forçado a falar o que está dizendo na delação.

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro fechou um acordo de colaboração premiada após ter sido preso no âmbito do inquérito que apura fraudes em certificados de vacinação contra covid-19.

Cid é investigado nos inquéritos que investigam a tentativa de golpe de Estado, a falsificação de carteira de vacinação e desvio de joias do acervo da Presidência da República. Ele ficou preso preventivamente por quatro meses em 2023 antes de aceitar a delação.

Caso a delação seja anulada, Cid perde os benefícios homologados por Moraes e pode voltar à prisão. As provas fornecidas pelo ex-ajudante de ordens não perdem validade e seguem no processo, segundo advogados consultados pela reportagem.

O fato de outras testemunhas, como os ex-comandantes da Aeronáutica e do Exército, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, e general Freire Gomes, afirmarem à PF que foram consultados por Bolsonaro sobre medidas para se manter no poder mesmo após ter pedido as eleições corroboram com falas de Cid em depoimentos anteriores.

Na decisão de Moraes em fevereiro para a autorização da Operação Tempus Veritatis – "hora da verdade", em latim, que mirou Bolsonaro e seus aliados, o ministro detalhou os pontos apurados pela PF que indicaram uma suposta organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado.

A existência de uma minuta do golpe, e o pedido de Bolsonaro para que ela fosse alterada, a reunião com ministros sobre uma "dinâmica golpista", e conversas entre auxiliares do governo.

Defesa de Cid fala que áudios são "desabafos"

Em nota, a defesa de Cid disse que os áudios vazados "não passam de um desabafo" de uma pessoa que vive um momento pessoal difícil e de angústia pessoal, familiar e profissional. Os advogados afirmaram que os áudios não “comprometem a lisura, seriedade e correção dos termos de sua colaboração premiada firmada perante a autoridade policial”. O texto foi assinado pelos defensores Cezar Bitencourt, Jair Alves Pereira e Vânia Bitencourt.

O advogado e assessor de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, defendeu em publicação no X, antigo Twitter, a quebra do sigilo dos vídeos dos depoimentos de Cid. O argumento de Wajngarten é entender se o ex-ajudante de ordens foi realmente pressionado e levantar dúvidas sobre a credibilidade de sua delação premiada.

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