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Criticado por Bolsonaro na ONU, cacique Raoni pede renúncia do presidente

Raoni foi recebido por parlamentares de oposição sob aplausos e cânticos tribais na Câmara dos Deputados

Raoni: cacique pediu a saída do presidente Jair Bolsonaro do cargo (Adriano Machado/Reuters)

Raoni: cacique pediu a saída do presidente Jair Bolsonaro do cargo (Adriano Machado/Reuters)

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Reuters

Publicado em 25 de setembro de 2019 às 17h10.

Última atualização em 15 de outubro de 2019 às 18h37.

Brasília — O cacique Raoni Metuktire, indicado ao Prêmio Nobel da Paz, disse nesta quarta-feira (25) que seu povo não deixará a Amazônia e pediu a renúncia do presidente Jair Bolsonaro, que na véspera acusou o líder indígena de ser "peça de manobra" de interesses estrangeiros.

Raoni foi recebido por parlamentares de oposição sob aplausos e cânticos tribais na Câmara dos Deputados, onde falou com repórteres por meio de uma intérprete. Ele teve um encontro com o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

"Bolsonaro disse que eu não era um líder, mas é ele que não é líder e tem que sair", disse Raoni, de 89 anos, na entrevista coletiva, após gritos dos parlamentares de "Raoni sim, Bolsonaro não".

Raoni, um ícone inconfundível da Amazônia, ficou conhecido internacionalmente como ativista ambiental nos anos 1980, ao lado do músico Sting.

O cacique caiapó se tornou símbolo da luta contra o desmatamento na Amazônia, e um grupo de ambientalistas e antropólogos apresentou o nome dele como candidato ao Prêmio Nobel da Paz de 2020 por sua defesa da floresta ao longo da vida.

Na terça-feira, em discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Bolsonaro criticou Raoni ao rebater críticas internacionais aos incêndios na floresta amazônica e afirmar que a Amazônia não faz parte do patrimônio mundial.

"A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes, alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia", disse Bolsonaro.

Bolsonaro defende a exploração mineral e agrícola da Amazônia, inclusive com a participação indígena em suas reservas. Na ONU, o presidente acusou as ONGs de quererem manter as tribos da Amazônia vivendo como "homens das cavernas".

Raoni deixou claro que seu povo quer continuar vivendo como sempre viveu nas terras ancestrais, que estão cada vez mais sob ameaça de invasões de madeireiros ilegais, garimpeiros e grileiros desde que Bolsonaro assumiu o cargo em janeiro.

"Minha preocupação é com o meio ambiente. Hoje todo mundo está preocupado. Meu trabalho é preservar a floresta para todos, para a sobrevivência dos meus netos, as terras indígenas, os povos indígenas e o meio ambiente."

A visita do cacique foi um símbolo do repúdio da oposição ao discurso de Bolsonaro. "Essa é a mais clara demonstração de que o Congresso pensa exatamente o contrário do que disse o presidente da República. O cacique Raoni é motivo de orgulho no mundo inteiro e para todos nós", afirmou o líder da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ).

Ysani Kalapalo

Além de Raoni, outros líderes indígenas, representantes de grupos opostos, visitaram a Câmara dos Deputados. O líder do governo Major Vitor Hugo (PSL-GO), recebeu Ysani Kalapalo, do Xingu, que esteve com o presidente em Nova York.

Enquanto Raoni criticou o presidente, Ysani defendeu Bolsonaro e sua participação no fórum. "Aceitei esse convite de Bolsonaro para acompanhá-lo na ONU e também para mostrar a verdade, outro lado que muitos ainda não conhecem que são os povos indígenas do século 21", disse.

A representante disse que existem "falsos líderes" e que os índios têm o direito de querer sua independência financeira. Ela afirmou ainda que, após sua participação na ONU, está sendo ameaçada de morte e que já entrou em contato com autoridades sobre o caso.

Ela ficou conhecida mais recentemente, principalmente, pelos vídeos que produz e divulga na internet.

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