Racha: na noite de quarta-feira, os parlamentares dissidentes do PSL apresentaram uma lista com 27 assinaturas indicando Eduardo como líder (Agência Câmara/Reuters/Montagem/Exame)
Reuters
Publicado em 17 de outubro de 2019 às 08h35.
Última atualização em 17 de outubro de 2019 às 09h40.
Brasília — Em mais uma etapa da crise no PSL, parte da bancada de deputados do partido do presidente Jair Bolsonaro anunciou na noite de quarta-feira (16) a derrubada do Delegado Waldir (GO) da liderança da legenda e a nomeação de Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente, em seu lugar.
No ápice até o momento da crise que o partido enfrenta, com troca de acusações e traições de ambos os lados, Eduardo também foi destituído da liderança pouco após ser nomeado, e logo depois foi recolocado novamente na posição.
A indicação dos líderes de bancada costuma ser feita uma vez ao ano por votação, mas pode haver troca através da apresentação de listas de assinatura à secretaria da Mesa da Câmara, desde que os deputados consigam maioria simples na bancada.
Na noite de quarta-feira (16), os parlamentares dissidentes do PSL apresentaram uma lista com 27 assinaturas indicando Eduardo como líder — apenas um a mais que o mínimo necessário na bancada de 53 deputados. Em seguida, parlamentares ligados a Waldir apresentaram uma segunda lista, com 32 nomes.
"Depois que apresentamos a primeira lista com os 27 nomes, o Waldir protocolou uma lista com 32 nomes, que ele já tinha colhido assinatura antes, dos quais cinco assinaram a nossa. Protocolaram essa lista para tentar destituir a nossa, mas nós já tínhamos uma segunda lista e protocolamos promovendo de novo Eduardo para a liderança", disse a deputada Carla Zambelli, uma das líderes do grupo dissidente.
As duas listas terão ainda que ser checadas pela administração da Casa e a autenticidade das assinaturas, conferida. Em princípio, a lista que vale é a última apresentada, se não houver erros. Mas a troca precisa ser chancelada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para entrar em vigor.
O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), disse em entrevista que a decisão dos parlamentares foi tomada pelas ações de Waldir, que passou a trabalhar contra o governo, citando a orientação do parlamentar de obstruir uma votação na Câmara sobre a medida provisória de reestruturação de ministérios, que caducava ontem.
"Diante disso a maioria nesse momento decidiu destituir o líder atual e nomear o nosso novo líder", afirmou. Zambelli explicou que a escolha de Eduardo foi por se tratar de um nome que ajudaria a atrair mais parlamentares para o lado dos dissidentes.
Durante o dia, o próprio presidente Jair Bolsonaro teria entrado em campo para atrair votos para seu filho.
Mais cedo, Waldir acusou o presidente de chamar deputados no Planalto e de ligar para outros tentando convencê-los das vantagens de ter Eduardo como líder.
"O presidente da República está ligando para cada parlamentar e cobrando o voto no filho do presidente", disse Waldir a jornalistas. "Ele age pessoalmente ao chamar vários parlamentares e ligar pessoalmente para vários deputados com essa pressão psicológica dessa questão de cargos e outras situações."
No final da noite, o jornal O Globo publicou o áudio de uma dessas falas do presidente, em que ele aparece dizendo que faltaria apenas uma assinatura para "tirar o líder" e ressaltando que o líder do partido e o presidente tem o poder de "indicar pessoas, de arranjar cargos no partido, promessa para fundo eleitoral por ocasião das eleições."
"Estamos com 26, falta uma assinatura para a gente tirar o líder, e colocar o outro. A gente acerta. Entrando o outro agora, dezembro tem eleições para o futuro líder. A maneira como tá, que poder tem na mão atualmente o presidente, o líder aí? O poder de indicar pessoas, de arranjar cargos no partido, promessa para fundo eleitoral por ocasião das eleições, é isso que os caras têm. Mas você sabe que o humor desses caras de uma hora para a outra muda", afirmou Bolsonaro a um interlocutor desconhecido. O Planalto não comentou a gravação.
A disputa acontece no momento em que um conflito entre Jair Bolsonaro, que dá sinais de afastamento do partido ao qual aderiu em março de 2018, e Luciano Bivar, que controla a máquina partidária, se intensifica.
Na semana passada, Bivar afirmou que as denúncias de candidatos-laranja teriam motivado os recentes ataques de Bolsonaro à legenda. No dia anterior, o presidente falou a um apoiador, que se identificou como pré-candidato pela legenda no Recife, para que ele esquecesse o partido, que “está queimado para caramba”.
Em entrevista, o presidente do PSL disse que Bolsonaro já decidiu pela saída do partido e afirmou: “Acho que ele quis sair porque tem preocupação com as denúncias de laranjas. Ele quer ficar isento dessas coisas”.
Dois dias depois, Bolsonaro e mais 21 parlamentares enviaram um requerimento para Bivar solicitando uma auditoria nas contas públicas dos últimos cinco anos do partido.
No documento, os advogados Karina Kufa e Marcello Dias de Paula chamam de “precárias” as prestações de contas do partido. Dizem, ainda, que “a contumaz conduta pode ser interpretada como expediente para dificultar a análise e camuflar irregularidades”. (Leia a a representação na íntegra)
A ofensiva de parte dos membros do PSL vem na esteira das recentes investigações do Ministério Público e da Polícia Federal que acusam o partido de ter usado candidatas-laranja nas eleições. No começo do mês, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, foi indiciado como autor do esquema em Minas Gerais, mas foi mantido no cargo pelo presidente.
Recentemente, um depoimento dado à PF e uma planilha revelados pela Folha de São Paulo sugerem que dinheiro do esquema de Minas Gerais foi desviado por caixa 2 às campanhas de Antônio e do presidente Bolsonaro.
(Com Reuters e Estadão Conteúdo)