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"Crise não inviabiliza, mas limita o governo", diz cientista político

Para cientista político, o governo precisa trabalhar rapidamente, restabelecer a ordem e dar uma solução rápida à distribuição de combustíveis

O presidente Michel Temer, que enfrenta grave crise no governo (Ricardo Moraes/Reuters)

O presidente Michel Temer, que enfrenta grave crise no governo (Ricardo Moraes/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 27 de maio de 2018 às 10h19.

Última atualização em 27 de maio de 2018 às 11h12.

Mesmo após o governo federal ser alvo de críticas no combate à crise de abastecimento gerada pela greve dos caminhoneiros, o cientista político Murillo Aragão afirma que a gestão de Michel Temer não foi inviabilizada pela mobilização.

Fundador da consultoria Arko Advice, Aragão se especializou em traçar cenários políticos para empresários e banqueiros. Ele reconhece, no entanto, que o governo está debilitado e frágil. Para Aragão, o fato de a paralisação dos caminhoneiros causar transtornos para a vida da população deve evitar que a mobilização se alastre por outros setores.

Na opinião do cientista político, o governo precisa trabalhar rapidamente, restabelecer a ordem e dar uma solução rápida à distribuição de combustíveis. "(Tudo) vai depender de como o Planalto conduzir os próximos dias." A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como a greve dos caminhoneiros afeta o governo Temer?

O governo hoje tem uma agenda que fica cada vez mais limitada, à medida que chegamos a julho (quando começa a corrida eleitoral). Essa crise pode afetar a imagem do governo. Se as próximas pesquisas trouxerem um aumento na desaprovação, o governo fica com limitações políticas. Evidente que é um governo fraco, em fim de mandato, com baixa popularidade. Um problema como esse não inviabiliza a governabilidade, mas prejudica. O governo não está inviabilizado, mas está limitado, na medida em que esse problema fique na agenda. Só existirá (risco) se as manifestações contaminarem outros setores e a questão se tornar generalizada. Claro que existe uma insatisfação represada, diferente da insatisfação que existia com a Dilma. Ela teve uma insatisfação mobilizada, o Temer tem uma insatisfação desmobilizada. O problema da governabilidade se tornará sério mesmo se a insatisfação for mobilizada.

E existe essa chance de contaminar outros setores?

Existe, mas acho difícil de ocorrer. Sinto que essa manifestação em si tem um efeito colateral muito grande. Não é como, por exemplo, uma paralisação de professores. Fica sem aula, os alunos podem até gostar, as mães vão ficar chateadas, mas não afeta a sobrevivência das pessoas. Essa contaminação é um pouco mais difícil, porque sinto que a sociedade, ainda que esteja insatisfeita com o governo, não quer dar força a um movimento que vai paralisar a vida das pessoas.

Depois dos episódios da semana passada, que mostraram um distanciamento cada vez maior entre o Planalto e os presidentes da Câmara e do Senado, como fica a relação do governo com o Congresso?

A base já está dividida, porque o Centrão se divide entre pelo menos quatro candidaturas postas. Cada uma delas tem uma visão de futuro diferente, e isso se reflete na relação com o governo. Então, não acredito que afete muito mais. O perigo é realmente se o tema degringolar de tal forma que gere impossibilidade de o governo continuar a existir como tal. Não acredito que isso aconteça, mas em política todo cálculo deve ser feito.

Se for apresentada uma nova denúncia contra o presidente Temer, ela pode passar?

Depende. Acho que não é automático. Mas, sem dúvida, o governo está mais limitado politicamente, talvez (descartar uma eventual denúncia) dê mais trabalho. Tem de ver a conjuntura, a natureza da política.

O governo ainda tem chance de aprovar algum projeto importante no Congresso?

Tem. Ainda se pode votar a reoneração, que é importante para o governo. Pode ser que não venha da forma que o governo quer, mas seria muita inocência achar que o Congresso aprovaria do jeitinho que o governo quer. O Congresso age hoje com uma certa autonomia, com independência. Também vejo que podem prosseguir algumas questões, como o projeto de lei das telecomunicações e eventualmente avançar alguma coisa relacionada à Eletrobrás. Esses avanços podem ficar pendentes para depois das eleições.

Com que ferramentas o governo poderia contar para sair dessa crise?

Ele tem a máquina, recursos, orçamento, tem o poder de iniciativa. Pode fazer coisas que mitiguem um pouco a impopularidade. Tem ainda todo um instrumental. O que é certo dizer é que o governo não acaba. Só se houver alguma coisa muito grave. Vai depender de como o Planalto conduzir os próximos dias.

Qual vai ser o maior desafio do presidente para solucionar a crise atual?

São vários. O primeiro é aplicar a lei e a ordem, com disciplina, sem violência desnecessária, acidentes de percurso. O segundo ponto é que isso ocorra de forma rápida, de maneira que se normalize minimamente o fornecimento de combustível no País. O terceiro fator é que o governo tenha uma abordagem de comunicação eficiente, que seja capaz até de sobrepor a má vontade da mídia em geração em relação a ele.

Essa crise pode afetar as pretensões eleitorais do pré-candidato do MDB, Henrique Meirelles?

Afeta. Mas a eleição só vai tomar uma cara no fim de junho, ou em julho. E o Brasil é um país que tem eventos dramáticos que somem (da memória das pessoas). Você lembra daquelas rebeliões de presídios? Isso só será grave para o Meirelles caso (a crise) prossiga.

Como fica o legado de Temer nas eleições?

A defesa desse legado vai depender da condição de ter um candidato viável ao lado dele e de uma discreta melhora da popularidade, pelo menos.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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